Abandonando a mediocridade

Este é o segundo de dois posts muito especiais resgatados dos arquivos do blog. Eles tratam do apagão de mão-de-obra qualificada no Brasil. Em especial no setor de comunicação e tecnologia. São 05 textos que consolidei em dois posts. Originalmente foram publicados em julho de 2010.

Abandonando a mediocridadeParte 01 – Produção Web

Aproveitando o momento de choque de realidade proporcionado pelo post sobre o apagão da mão-de-obra, imagino que seja interessante para muita gente saber como reverter a situação atual e deixar de ser um estudante ou profissional medíocre. Começarei pela Produção Web.

Então…  O Sérgio e o Dito deram algumas dicas nos comentários do post. Darei sequencia a elas e procurarei proporcionar algum tipo de auxílio a quem quer sair desta desconfortável posição.

Em primeiro lugar, é legal verificar se você faz parte do contingente de estudantes / profissionais medíocres. Para tanto, faça algumas ponderações:

  • Você já recebeu alguma negativa em um processo de seleção de alguma empresa sem motivo aparente ou com a justificativa de que sua qualificação ou conhecimento estão aquém do demandado para a vaga? Não vale aqueles casos em que você mandou um portfólio ou CV e a empresa nem respondeu. Existe muita empresa mal-educada que não dá retorno aos candidatos. Nestes casos, não necessariamente a questão é com o candidato…
  • Você acha que as exigências listadas nas vagas ofertadas são muito altas dentro da sua área de formação? Ex: Se você quer trabalhar com produção, acha que é muito abuso da empresa querer que você saiba PHP ou domine JavaScript?
  • Você desconhece mais do que 25% dos itens exigidos nas descrições das vagas para as quais você pensa em se candidatar ou se candidata? Ex: Você não sabe o que é JQuery, Tableless, APIs…

Se você respondeu “sim” a pelo menos uma dessas perguntas, uma mudança de atitude profissional é imperativa pois, necessariamente, você se encaixa naquela categoria de profissionais / estudantes e talvez seja esta a causa de sua posição atual.

Mas não tema… Há sempre o que fazer para mudar a sua situação. Abaixo, algumas coisas importantíssimas.

  1. Capacite-se em inglês. Faça urgentemente um curso e trate de dominar o idioma. Já disse um milhão de vezes e direi enquanto achar suficiente. Antes de sair fazendo cursos específicos ou pós-graduações, faça um curso de inglês. O conhecimento deste idioma será importante para você tirar melhor proveito de qualquer curso que quiser fazer.
  2. Busque conhecimento em fontes gratuitas online. O Dito mencionou o Lynda, mas tem também o php. net, o w3schools, o próprio w3c e o site do Maujor (para não dizer que não mencionei ninguém que propaga informação bacana para capacitação em português). Nestes sites há muito conteúdo bacana para você aprender muito sobre HTML, JavaScript, CSS e PHP (ferramentas muito importantes para quem quer trabalhar com Produção Web). Faça os tutoriais, tenha paciência e dedique-se… É compreendendo seus erros (mesmo os exercícios mais básicos reservam desafios) que você aprenderá de verdade.
  3. Compre um livro. Recomendo o do Maujor e o dos Deitel. São abrangentes o suficiente para ajudar quem já conhece um pouco e também quem não conhece nada. Adicionalmente, dê uma olhada nos títulos da editora Novatec (vale sempre explicar que eu não estou recomendando nada em troca de dinheiro ou de qualquer outra coisa). Eles têm bons títulos. Coma estes livros. Entenda o que está lá. Estude, leia e releia.
  4. Dedique-se e pratique! Exercite-se bastante. Construa os exemplos dos livros e depois faça os seus próprios… Coloque o que você fez no ar em um site seu. Apareça.
  5. Quando você começar a dominar o assunto, mostre o que você sabe. Discuta sobre o assunto num blog e mostre o que você sabe fazer em um site seu. Além de ajudar mais gente, você mostrará o quanto sabe e colocará a sua cara a tapa. Discuta suas ideias e mostre do que você é capaz.
  6. Como o Sérgio falou, pense diferente. Quando você começar a dominar algum assunto, pensar fora da caixa será natural. Exercite esta capacidade e mostre do que você é capaz. Pense em soluções alternativas e caminhos mais fáceis que coloquem em prática o que você aprendeu.
  7. Por último, volte a se candidatar as vagas que antes eram impossíveis para você. Aposto que os resultados começarão a ser diferentes.

É claro que esta é uma lista pequena e muito simplificada, mas é um ótimo começo. Tenho certeza que depois de chegar nas etapas 4 ou 5 você perceberá mudanças sensíveis em sua capacidade profissional e em sua postura.

Não tenha dúvidas de que você só terá a ganhar estudando, se capacitando, adotando uma postura humilde e pensando de forma diferenciada. Não há contra-indicações.

Bem, espero ter ajudado… Em breve, novas dicas para quem quer se aventurar em outras carreiras ligadas a comunicação e tecnologia.

Parte 02 – Design de Interfaces

Dando sequencia às reflexões sobre o apagão da mão-de-obra qualificada – especialmente no mercado de comunicação e tecnologia – aventuro-me neste post a falar sobre o design de interfaces.

É incrível perceber, gostaria de ressaltar antes de começar o post em si – como é comum vermos hoje em dia (em pleno ano de 2010) que tem gente que chama o designer de interfaces de webdesigner… Questãozinha que me dá até preguiça… Mas é legal deixar claro que não se trata da mesma coisa. O que se chamava no passado de webdesigner não existe mais hoje; era aquele profissional que, sozinho, dava conta de toda a produção de um site. Hoje, feitas as devidas adaptações, o webdesigner estaria mais para um gestor de projetos do que para um cara que desenha interfaces em si. Este cara, o que desenha as interfaces, e o seu trabalho são os pontos centrais de minha reflexão de hoje.

Falando sobre este trabalho, então, não é difícil percebermos que tem muita gente querendo trabalhar com isso. Entretanto, novamente temos aqueles grandes agrupamentos de categorias (ou capacidade / qualidade) dos profissionais…

  • Uma minoria ínfima tem talento e é capaz de propor algo novo e bacana.
  • Um grande contingente simplesmente replica o que vê e tem certo domínio da ferramenta para execução e, com isso, mantém-se no mercado sem muito destaque.
  • Um contingente ainda maior que o anterior é de gente ruim de serviço.

Como todo mundo quer sempre subir um degrau nesta escala de qualidade profissional, espero aqui ajudar com algumas dicas. De quebra, imagino que ajudarei algumas pessoas a abandonarem o estado de mediocridade profissional e garantir seu lugar ao sol. Obviamente seria um delírio achar que todo mundo deveria (ou conseguiria) se encaixar no estágio avançado de propor coisas novas e se dar bem com isso. Entretanto, é legal sabermos que às vezes a gente vai se encontrar quase lá. E comportar-se de acordo com isso é importante; especialmente para não levarmos grandes rasteiras da vida.

  1. Entenda que ser um bom designer de interfaces é algo que vai além do domínio de uma ferramenta ou outra. Você deve compreender o que é design, ter boas noções de composição, equilíbrio e de cores. A ferramenta em si é, como já disse, secundária. Saber o que deve ser feito é infinitas vezes mais importante do que saber o que cada botão faz num software. Cuidado para não entender errado… Não quero dizer que você não deve dominar as ferramentas, mas sim que apenas dominá-las não faz de você um bom designer de interfaces. Para entender isso, há algumas boas fontes, on e offline. Os livros do Modesto Farina, o do João Gomes Filho e também o do Felipe Memória podem ajudar bastante nisso. O do Felipe, inclusive, deve ser lido por quem quer trabalhar com planejamento e com experiência também. Mas disso falaremos num momento mais adiante. Dentre as referências online, a Communication Arts é uma excelente pedida. Confesso que tenho um pouco de preguiça daqueles sites que reúnem uma listagem de sites bonitos. Isso porque geralmente não se vê muita criação, mas sim replicação…
  2. Colecione boas referências. Navegue bastante, leia bastante, assista bastante, preste atenção e tudo o que você vê nas ruas e fora delas. O tempo todo. Tudo pode ser uma boa referência. Mas a coisa não para por aqui. Você deve aprender a tratar as referências como referências. Policie-se para não sair por aí replicando as coisas que vê. Este é um grande desafio.
  3. Compreenda que desenvolver interfaces demanda conhecimento daquilo que você vai fazer, mas também conhecimento do público que vai usar aquilo que você vai fazer e – obviamente – das inclinações estratégicas da entidade para a qual você vai fazer aquela interface. Procure, então, conhecer o usuário, suas características, costumes e demandas, bem como aquilo que os concorrentes da entidade que lhe contratou para desenvolver aquela interface fazem e quais são os objetivos desta entidade tanto no que se refere a esta interface em si quanto no que se refere as estratégias mais abrangentes da entidade.
  4. Tenha em mente que desenvolver interfaces é uma etapa num processo maior, que acontece depois que ensaios visuais foram feitos e que pesquisas foram conduzidas e antes que as soluções sejam efetivamente construídas. Levem em consideração, então, que você deve saber trabalhar em grupo, se envolver em etapas anteriores e envolver produtores e programadores que colocarão as mãos na massa em etapas posteriores. E que fique bem claro que todos estão trabalhando para atingir um objetivo comum. Este tipo de envolvimento é bacana pois reduz riscos de retrabalho, garante o alinhamento do projeto e minimiza as chances de algo dar errado. Se você é um bom profissional e se vê em uma empresa que não pratica estas boas práticas, tentar implementá-las é uma excelente demonstração de sua capacidade e potencial. Se você não é um bom profissional, nem perceberá que é uma falha quando isso não acontece. E se você é um profissional medíocre, vai reclamar quando alguém da produção ou do planejamento der algum pitaco que macule a sua obra de arte. Pense nisso.
  5. Desenvolva suas capacidades no uso das ferramentas. Esta dica é a última justamente pois penso que este domínio, embora seja uma maneira bem fácil e eficiente de as empresas filtrarem os bons profissionais, não deve ser o seu objetivo final de desenvolvimento profissional. Guarde isso: todo bom designer de interfaces domina as ferramentas. Mas nem todos os que dominam as ferramentas são bons designers de interfaces. Uma coisa que recomendo a todos é evitar cursos puramente voltados ao uso dos software. Normalmente estes cursos são pouco produtivos. Costumo recomendar cursos aplicados a objetivos ou procedimentos específicos e também a utilização forçada… Algo que mistura a busca por referências, o aprendizado online por meio de tutoriais e o desenvolvimento de capacidades a partir do exercício forçado. pegar uma composição bacana e se propor a replicar aquele efeito que você achou legal é um excelente exemplo disso. É o famoso “aprenda fazendo”… Costuma ser mais eficiente do que um curso para saber quais são os atalhos da ferramenta.

É claro que esta é uma lista bem curta. Se você procurar um bom designer de interfaces, como o Herbert Rafael ou o Daniel Negreiros, eles te falarão muitas outras coisas bastante eficientes e mais específicas. De qualquer forma, imagino que estas cinco dicas listadas acima podem te ajudar a sair de um estado de mediocridade profissional e colocá-lo no rumo de um futuro mais bacana.

Parte 03 – Atendimento e GP

Então você se encaixa numa categoria que quase se gaba poor não ter que dominar código, saber fazer layouts e ainda assim quer trabalhar no crescente e promissor mercado de comunicação e tecnologia. Good for you! Lembre-se, no entanto, que, embora bastante comum em empresas de comunicação offline, um atendimento em empresas de tecnologia e comunicação não tem o direito de ser acéfalo

Saiba que é muito fácil você acabar sendo demitido(a) ou nunca contratado(a) se achar que dá para permanecer sem saber como as coisas funcionam ou o que é possível fazer ou não em um projeto de comunicação e tecnologia. Claro que tem gente que vai achar que é muito mais fácil desempenhar este papel (o de atendimento) num mundo onde as tecnologias mudam com uma rapidez absurda e que os profissionais responsáveis pela execução dos projetos ralam como loucos. Entretanto, a verdade não é bem essa.

Um primeiro motivo para esta não ser uma verdade é que existem empresas que insistem em misturar o atendimento com o gestor de projetos (GP) e isso acaba por tornar a vida deste profissional um caos. Entendo que é muito complicado manter uma estrutura grande em vários casos, mas quando não é possível ter dois profissionais distintos para estas funções, deve existir uma contra-partida salarial e de carga de clientes. Então, a primeira coisa a fazer é saber dimensionar a capacidade de gerenciamento de contas que um profissional deve desempenhar na empresa. Esta quantidade não deve ser muito grande pois isso facilmente gerará decepção por parte dos clientes e isso nada é bom para os negócios.   Outra coisa importante que empresas costumam negligenciar é que este profissional – por ser muito exigido e desempenhar papel importante nos projetos – deve ser remunerado de forma adequada. Se a empresa quiser pagar pouco, terá sempre que se contentar com acéfalos. Aí, não há do que reclamar. Cada um cava sua cova.

Tratadas as questões estrutural e de condições de trabalho (que são de responsabilidade das empresas), vamos ao que é demandado deste profissional. Como já disse, muita gente acha que este é o trabalho mais “mamata” da empresa, mas não é por aí. Este profissional deve ter um bom conhecimento de tudo o que é possível ser feito, de todas as tecnologias e possibilidades de atuação existentes e ser um excelente comunicador e intermediador de relações. De nada vale um atendimento que funciona apenas como um leva-e-traz de demandas por parte do cliente e de respostas por parte da empresa. Este profissional deve ser capaz de – quando no cliente – saber responder o que a empresa dá conta de fazer, ter boa noção de prazos e capacidades e também ser capaz de frear as viagens do cliente, passando a ele um panorama real de tudo o que será feito. Do lado da empresa, ele deve ser capaz de representar o cliente ali, junto aos profissionais de planejamento e de produção. Ele deve conhecer o cliente muito bem para saber – antes de apresentar alguma proposta – se aquilo vai ser aprovado ou não tem chances. Sua importância é vital pois é ele quem representa a empresa junto ao cliente e também representa o cliente dentro da empresa. Viu só como este profissional é importante? Se for um acéfalo, a empresa estará dando um tiro no próprio pé!

Como se não bastassem as atribuições e características acima descritas, há empresas (e não são poucas) que ainda empilham nas costas destes profissionais a função de gerenciar projetos. Como disse, não acho que isso é legal, mas… Não sou eu quem regula o mercado. Assim sendo, vamos a algumas características imprescindíveis que um gestor de projetos deve ter. Além de ter as boas noções de prazos, capacidades, possibilidades e um bom conhecimento do orçamento e das diretrizes do projeto, este profissional deve ter uma excelente noção de tempo para bem planejar as atividades que serão desempenhadas. Ele deve ser o responsável pela montagem de um cronograma válido (Este papo de que “nenhum cronograma é respeitado” é coisa de gente ruim de serviço. Não é para me gabar, mas em meus cinco últimos trabalhos, me vi encurralado com um cronograma desumano, mas respeitei todos os prazos que me foram impostos e entreguei tudo o que me pediram nas datas combinadas. E olha que não eram trabalhos que dependiam apenas de mim…)  e de cuidar para que este cronograma seja cumprido. Ele deve saber alocar recursos e profissionais dentro da empresa e cobrar o que for necessário ser entregue pelo cliente.

Além disso tudo, este profissional tem papel fundamental no planejamento da solução. Sem que tem empresa que ainda empilha mais esta função ao profissional, mas aí é demais. Este tipo de coisas simplesmente não funciona e quem faz isso, em minha opinião, tem mais é que se dar mal mesmo. Empilhar três funções é forçar demais a barra. O ideal é que sejam três profissionais distintos (atendimento – GP e Planejamento). Empilhar duas funções (Combine o empilhamento como quiser) ainda vai. Mas três, é demais.

Donos de empresa e profissionais, lembrem-se de que a ganância é a ruína do homem. Se você quer ganhar mais e contratar menos gente, isso terá consequências. Se você quer ganhar mais e acumular funções, saiba que isso terá consequências…

Entretanto,  o profissional que gerencia os projetos deve ter um excelente trâmite tanto junto ao planejamento quanto com a direção de arte e a produção; sem mencionar o cliente.

Novamente pergunto, retoricamente: viu como este profissional não pode ser um acéfalo? Se você quer ser este profissional, saiba que ele ganha muito bem (ou pelo menos deve ganhar) e que o bônus não vem desacompanhado de ônus (normalmente é o cara que mais se estressa durante um projeto, e é o que menos pode demonstrar isso).

Para não ser um profissional medíocre, então, um resumo de qualidades a perseguir:

  1. Não seja um ignorante digital. Conheça tecnologias, possibilidades e capacidades. Entenda de conceitos novos e saiba que você sempre será demandado por parte do cliente para explicar o que deve ser feito e os motivos de tal coisa ser feita de um jeito ou de outro. Você deve ser capaz de prometer entregar algo que a sua produção consiga fazer.  Saber falar a língua do cliente e também a da produção é primordial. Os pré-requisitos não são poucos.
  2. Ter um excelente jogo de cintura. Você vai ter que lidar com prazos apertados vindos do cliente e muitas vezes empurrados para a produção. Você vai ter que agradar ambos. Boa capacidade de comunicação e ser uma pessoa que se relaciona facilmente com os outros são importantes para este profissional.
  3. Saber que você deverá ter conhecimento mais do que básico de planejamento, direção de arte, produção e – claro – gestão de projetos. Este conhecimento não é técnico necessariamente, mas sim do que consistem estas atividades. Você sera muito cobrado e cobrará muito. É preciso ter conhecimento para isso.
  4. Lembre-se: você representa o cliente na empresa e a empresa no cliente. Aprenda a agir profissionalmente e de maneira completa. Conheça bem o cliente e também a empresa.  Saiba gerenciar expectativas e cobranças.
  5. Por último, aprenda que é importante ser uma pessoa organizada é algo mais do que imprescindível para desempenhar estas funções. Se você perder o fio da meada, muita coisa ruim vai acontecer com seu projeto, seu cliente e, consequentemente, com seu emprego.

Bem, espero que estas dicas ajudem você profissional e também você que tem uma empresa; afinal, não é só responsabilidade do empregado responsável por estas funções fazer as coisas andarem.

Parte 04 – Planejamento

Post rapidinho para dar sequência aos apontamentos de soluções para o apagão da mão-de-obra qualificada.

Um profissional de planejamento medíocre que trabalha com comunicação e tecnologia é aquele que já tem o site / produto / ação completamente planejado enquanto o atendimento lhe repassa o briefing. É aquele profissional que acha que um microsite (uma aberração também chamada de hotsite) resolve qualquer problema de lançamento de produto e acredita no mantra de que o importante é “gerar buzz” (seja lá o que isso queira dizer). Ou seja: um profissional de planejamento medíocre é aquele que trabalha com soluções pré-fabricadas e não entende (ou acha que não precisa saber) as necessidades dos usuários e de seu cliente. Suas propostas não inovam e nem se modificam. E o mais grave: ele acha que sabe algo. E isso é muito perigoso!

Para ser bem direto, se você se enxergou em alguma(s) das afirmações sobre um profissional de planejamento medíocre apresentadas acima, eis algumas dicas para você:

  1. Seu trabalho não acontece dentro de quatro paredes.  Saia da sua sala e vá para a rua. Conheça o usuário que vai se beneficiar daquilo que você está fazendo (ou planejando). Conheça as reais necessidades do cliente que te contratou. Converse com ele. Procure entender o que deve ser bom para estes dois “stakeholders” em especial. Ganhar um prêmio de criatividade deve ser uma consequência e não um objetivo. Pense que seu objetivo é fazer algo que seja apropriado para as necessidades do usuário e que atinja os objetivos do cliente. Observe os concorrentes e aprenda a aproveitar o que há de melhor e evitar replicar o que há de ruim nestas iniciativas. Pesquise antes de começar a apontar soluções baseadas em sua “experiência”. Aprenda a ensaiar e a testar antes de apresentar uma solução final.
  2. Seu trabalho não é centrado em você.  Seu trabalho é centrado no usuário que vai se beneficiar daquilo que você está fazendo (planejando). Não ache que você conhece o usuário sem ter ido a campo e realmente observado, conversado e aprendido. Muitas vezes vemos soluções concebidas com base em pré-conceitos (no sentido restrito da expressão) e que não funcionam. Para evitar isso é legal ter sempre em mente que o profissional de planejamento é muito importante porque ele deve ser o profissional capaz de transformar esta massa bruta de informações em uma proposta de solução adequada, e não porque ele já conhece como o usuário pensa. Aliás, quando alguém falar isso, saiba que trata-se de principal cartão de visitas de um profissional de planejamento medíocre.
  3. Seu trabalho não consiste em reinventar a roda.  Isso não quer dizer que todas as soluções propostas por você devem ser iguais… Entenda: Você não tem que ser inventivo, você precisa ser atento e competente para planejar soluções adequadas para os usuários e – obviamente – que estejam dentro dos objetivos propostos pelo cliente que te contratou. Isso quer dizer que os trabalhos não têm que ser totalmente inéditos, eles têm que ser adequados. Esta adequação pode implicar em adaptar algo que já funciona hoje sem ter que reescrever tudo a partir do zero… Entendeu?
  4. Seu trabalho não depende apenas de você.  Você é parte de uma equipe. Se você planejar algo que não pode ser executado, seu trabalho não valeu muito. Se você planejar algo que está em desacordo com as diretrizes passadas a você, você não fez um bom serviço. Se você se fechar numa salinha e resolver tudo sem consultar o cliente, o atendimento, conversar com o designer de interface, o produtor e pesquisar com o usuário, você não terá feito um bom trabalho. Você não é obrigado a saber tudo. Por isso existe uma equipe. O profissional que acha que sabe tudo, não é um profissional, é um idiota. Você tem que se lembrar que seu trabalho tem um objetivo – apontado pelo cliente – e uma prioridade – atender as necessidades dos usuários. Ninguém consegue atingir um objetivo e atender uma prioridade tão amplos como estes sozinho.
  5. Seu trabalho não se resume ao que você tem que fazer.  Aprenda a perguntar. Profissionais de planejamento costumam se colocar numa posição de oráculo, dando mais respostas do que fazendo perguntas. Isso não deve existir. Você precisa conversar e tentar ir além, tendo em mente o objetivo e a prioridade que foram apresentadas acima. Fazer além é extrapolar aquelas linhas da OS dentro destes parâmetros. Não se trata de fazer o que não foi pedido, afinal, você não tem bola de cristal. Trata-se de resolver problemas de maneira eficiente pensando além (pode ser em termos de prazo, de alcance ou de escopo). Outra coisa importante, dentro desta premissa é entender que seu trabalho deve ser complementado com os expertises dos outros membros da equipe. O trabalho deve ser feito em conjunto, sempre!
  6. Seu trabalho demanda ficar atento e prestar atenção em tudo a sua volta. Planejar ações implica em saber caminhos que podem ser seguidos. Para saber qual caminho escolher, é preciso conhecer os caminhos e entender os destinos para os quais estes caminhos levam. Isso quer dizer que você deve experimentar as coisas, saber como elas funcionam e entender o que há por trás delas. Se você não tiver este conhecimento, fatalmente suas propostas de soluções serão ainda mais limitadas.

Update: São capacidades imprescindíveis para um profissional de planejamento:

  • Saiba trabalhar com métodos e técnicas de pesquisa
  • Saiba perguntar e retirar a essência nas respostas recebidas
  • Saiba se explicar por meio de textos e visualmente
  • Saiba trabalhar em equipe
  • Saiba conversar com usuários, cliente e equipe

O apagão da mão-de-obra qualificada

Este é o primeiro de dois posts muito especiais resgatados dos arquivos do blog. Eles tratam do apagão de mão-de-obra qualificada no Brasil. Em especial no setor de comunicação e tecnologia. São 05 textos que consolidei em dois posts. Originalmente foram publicados em julho de 2010.

Na semana passada estava conversando com o Fred e um dos assuntos foi: estamos vivendo um apagão de mão-de-obra qualificada.

Sem sombra de dúvidas, estamos sim vivendo este apagão. Um dos indicativos mais latentes desta falta de mão-de-obra é este próprio blog. Se não fosse pelo apagão, ele estaria às moscas, mas ultimamente tem virado um balcão de vagas disponibilizadas pelos colegas do mercado que sabem que eu tenho um público primordialmente formado por profissionais da área e futuros profissionais (meus alunos). Sei que tem gente que não gosta que o blog seja substituído por um balcão de vagas, mas é meio que incontrolável.

Como a coisa já se instalou, vamos às perguntas e ações práticas:

Onde se manifesta o apagão?O apagão é claro na área de tecnologia. Desenvolvedores de interface, gestores de projeto, designers de experiência e de interação, programadores, profissionais de planejamento e marketing eletrônico são os que mais estão fazendo falta por aí…

Muito embora seja fácil notar que há vários cursos de graduação e pós nessas áreas (ou que contemplem estas áreas) o pessoal se divide em três grupos básicos:

  1. os bons de serviço que já estão empregados ou trabalham como freelancers e que dão o preço de seus serviços (ou seja: escolhem salários) – Esta galera representa algo entre 01 e 05% do total.
  2. profissionais ou estudantes medianos, que dão conta do recado e, por isso mesmo, vivem pulando de emprego em emprego (se paga R$ 10,00 a mais no salário, o povo tá indo) – Este montante representa algo entre 45 e 50% do total da mão de obra ofertada.
  3. profissionais ou estudantes medíocres. Este grupo dispensa apresentação e representa os 50% restantes da mão de obra ofertada.

Qual é o tamanho do apagão?Pelas contas feitas a partir dos grupos acima listados, dá para perceber facilmente que o mercado está trabalhando com uma capacidade ociosa alta. Praticamente todo mundo está precisando de gente de qualidade para trabalhar e não está encontrando.

Deve ficar bem claro que a questão não é falta de gente. Gente tem de sobra. O problema é que não tem gente capaz. Ou seja: embora tenha muita gente desempregada, isso não indica que o mercado está saturado. Mas de jeito nenhum! O que acontece é que tem muita gente ruim de serviço e pouca gente realmente qualificada!  Por mais que isso possa te deixar com raiva de mim, lembre-se que não sou eu quem está falando, é o empregador… É o dono de agência, de produtora e de fábrica de software… Esse pessoal está arrancando os cabelos pois tem demanda de trabalho mas não consegue achar gente boa o suficiente para trabalhar.

Sou um empregador, o quê devo fazer?Em primeiro lugar, tentar se virar com o contingente de mão-de-obra que tem. Num segundo momento, vejo algumas atitudes que não podem ser ignoradas:

  1. Seja realista e evite buscar aquele funcionário canivete-suíço. Este cara não existe e, se existisse, não estaria disposto a receber o que você quer pagar.
  2. Aumente sua proposta de salário. Isso ajudará a fazer os bons profissionais considerarem ficar mais tempo com você.
  3. Crie um ambiente bacana para o funcionário se sentir estimulado a trabalhar em sua empresa.
  4. Seja honesto com seus clientes com relação a esta questão de mão-de-obra e ajuste seus contratos. Talvez você esteja cobrando pouco demais e isso causa um efeito cascata em sua estrutura.
  5. Procure treinar profissionais que já trabalham com você e também os novos funcionários. Custa caro e é arriscado, mas se você oferece um bom salário, um bom ambiente de trabalho e boas condições, os riscos são minimizados. Investir em treinamento pode ser uma boa saída para o apagão, mas não funciona isoladamente.

Sou um profissional (ou quase). O quê devo fazer para tirar proveito do apagão?Antes de mais nada, seja honesto consigo mesmo e verifique em qual das três categorias de profissionais / estudantes você se encaixa. Se você se encaixa no grupo 1, relaxe e aproveite. Se se enquadra no grupo 2, procure uma empresa para ficar mais tempo trabalhando e lembre-se que se você ficar pulando de galho em galho, não crescrerá em lugar algum. Tente “aquetar o faixo” um pouco para crescer numa empresa que seja bacana para você. O mercado de trabalho não é uma boite… Encare um emprego como um relacionamento que você tem que trabalhar em conjunto com seu empregador para que seja duradouro.

Se você se encaixa no terceiro grupo de profissionais / estudantes, há muito para fazer:

  1. Passe a levar as coisas mais a sério. O mercado de trabalho não é como a escola, onde se você fizer o mínimo necessário, se dá bem. Aqui ninguém quer saber se o seu colega de grupo “barrigou” o projeto inteiro e sua responsabilidade pelo fracasso deve ser minimizada em função disso. O pessoal quer resultados. Então acorde para a realidade!
  2. Capacite-se. A culpa não é da sua escola. Falo isso pois sei que escola nenhuma te capacitará por completo. Assim sendo, mexa-se e corra atrás! Pode fazer cursos o quanto quiser, mas se você não se comprometer de verdade, nunca sairá do lugar. Esta capacitação inicial é primordial para você se dar bem depois. Pense nisso.
  3. Depois da capacitação básica, vá além! Especialize-se em algo. Escolha uma coisa e corra atrás dela. Aprenda a avaliar as oportunidades que aparecem e veja de que tipo de profissional o mercado está precisando. Busque ser este profissional. Pode ser com cursos, pode ser de maneira autônoma. Em raríssimas situações uma certificação oficial lhe será exigida. Então, não é “fazendo um curso” que você vai se capacitar. Muito menos abandonando a escola de vez. O segredo é realmente cursar algo ou comprometer-se com algo (caso não exista algum curso ou algo semelhante).
  4. Estude um segundo idioma. A totalidade dos medíocres ignora o inglês ou chega até a se orgulhar de não saber inglês. Pois tenha noção que sem inglês você perde muito. Perde em material de treinamento que é disponibilizado online gratuitamente em inglês, perde em leitura de livros bacanas e material técnico que não é traduzido, perde em oportunidades de trabalho pois o mundo inteiro anda precisando de gente bacana.
  5. Pratique, pratique e pratique! Mesmo que você esteja desempregado ou nunca trabalhou, pratique e monte um portfólio de projetos e de tudo o mais que você sabe fazer. É errando que se aprende.
  6. Mostre-se! Crie uma presença online bacana o suficiente para que os empregadores saibam que você existe!
  7. Seja humilde. Entenda que dificilmente somos os melhores do mundo em alguma coisa. Assim sendo, aprenda a reconhecer a limitação de suas capacidades e seja honesto sobre elas.
  8. Reconheça seus erros e amadureça. Se alguém da empresa disser que algo que você fez não ficou legal, não leve para o lado pessoal. Reconheça, corrija e aprenda com seu erro. Fechar os olhos para isso é uma sentença de morte profissional.
  9. Saiba que você deve começar por baixo. Provavelmente o pessoal ainda não te conhece. Então, fica difícil você exigir o melhor cargo e o mais alto salário. Aprenda a trabalhar com o que lhe é oferecido e aproveite cada oportunidade para crescer.
  10. Tenha paciência e saiba a hora de pedir aumento ou aumentar o seu preço. Isso demora, mas não é inalcançável. Você vai ter que trabalhar por pouco dinheiro por muito tempo, mas isso vai compensar.

ConclusãoTem muita vaga sobrando. Tem muita gente medíocre sobrando. Enquanto você não fizer nada a respeito, a coisa vai continuar assim. Uma coisa que aprendi logo no começo da minha graduação – há quase quinze anos – foi que não existe falta de trabalho para quem é bom de serviço. Até o momento, não vi nenhum exemplo para suspeitar que isso não seja uma grande verdade. Outra verdade é a de que quem é realmente bom de serviço faz o seu salário. Novamente, nunca me deparei com nenhuma ocorrência que contrariasse isso. Ou seja: o apagão existe e é um buraco cheio de oportunidades para quem quer se dar bem. Vão se dar bem o profissional que souber aproveitar as oportunidades e os empregadores que os empregarem.

Web 2. 0: Novas considerações

Novamente um post oriundo dos arquivos do blog. Desta vez uma releitura de uma coluna escrita para a Revista WWW em 2005. O post foi publicado no dia 18 de abril de 2009.

Quando o termo surgiu, lá em 2005, confesso que fui um dos primeiros a descer a lenha na conceitualização cunhada por Tim O’Reilly (para quem não lê inglês há uma versão traduzida do artigo original aqui. Mais definições aqui e aqui). Por um bom tempo eu sustentei a argumentação de que a coisa mais parecia um embuste de guru; sem validação e sustentação teórica.

Entretanto, confesso também que minha opinião mudou depois que comecei a refletir bastante em cima das propostas do texto (sim, demorou três anos para isso acontecer. Não se pode apressar algumas coisas e, embora a vida na web seja aparentemente mais rápida do que é no mundo “de verdade”, sem este tempo de reflexão e maturação, ao contrário do que se espera, a sociedade pára).

É importante ressaltar que várias coisas que li e que vi por aí na web não me ajudaram a mudar a opinião. Muito se escreve que a web 2. 0 traduz novos aplicativos e conceitos; o que não é verdade. Por isso que eu ajudava a entoar o coro de que o conceito era questionável (para ser bastante eufêmico). O que ocorre é que web 2. 0 não diz respeito a aplicativos ou a versões da web, como muitos acham que é e outros tantos  (como eu) argumentavam ser total non-sense.

Por isso resolvi escrever estas linhas para buscar uma melhor interpretação e compreensão do termo, que se refere muito mais a uma nova maneira de enxergar a web, e não de fazer a web necessariamente (embora uma coisa possa implicar a outra em grande parte dos casos).

Comecei a perceber isso quando lia e relia as argumentações de O’Reilly, onde ele diz que uma importante característica da web 2. 0 é que a informação agora volta e o UGC é peça-chave para o entendimento da web 2. 0. Quando eu lia e relia estas informações, menos entendia a web 2. 0, pois pensava (com razão): “Mas os fóruns e grupos de discussão são isso há um tempão e a wikipedia é, também bem anterior à web 2. 0; por qual motivo vir com este termo agora? por qual motivo tentar versionalizar algo que não tem jeito de ser versionalizado?”

O fato é que o cerne da questão não é a tentativa de versionalizar nada e nem mesmo de fazer explicações rápidas e isoladas. Da mesma forma que é bastante equivocada a argumentação de que o comércio eletrônico representa a “nova economia”*, é equivocado dizer que a web 2. 0 trata da web como plataforma, ou de aplicativos web usando Ajax ou ainda de “beta permanente”.

É mais do que isso. Web 2. 0 é uma nova (aí sim) maneira de enxergar a web e seu potencial, que sempre esteve lá, mas que somente depois de 10 anos de internet comercial começou-se a usar estas características já há tanto tempo identificadas. É novo porque ainda tem gente que trata a web como um simples canal de comunicação, o que não é bem a realidade. A web é um espaço onde coisas acontecem. Muito mais coisas acontecem neste espaço do que em canais de comunicação convencionais (a TV, o rádio e os jornais impressos, por exemplo, são canais de comunicação onde a informação trafega em apenas uma direção). Por isso é, também equivocado dizer que a web é “apenas” um canal de comunicação.

O conceito de web 2. 0 nos ajuda a enxergar isso. Neste espaço / ambiente em que se configura a web, não há hierarquia, influência do poder econômico e nem a necessidade de uma concessão do governo para enviar mensagens. Este rompimento de paradigma que nasceu com a web, mas que até 2004/2005 parecia estar hibernado, é o que realmente dá significado à web 2. 0. O suporte de aplicativos proporciona apenas (sem desvalorizar, claro) a estrutura para que isso ocorra com mais facilidade e acesso a um maior número de pessoas.

Mas por qual motivo falar disso agora?Bem, em primeiro lugar, pois eu não vi em nenhum lugar este tipo de explicação e fazer este tipo de esclarecimento me parce bastante oportuno no momento. Em segundo lugar, para deixar claro o meu entendimento da coisa a quem interessar possa.

Mas o mais importante motivo que me faz querer falar disso agora é que tenho visto muitas empresas que têm a faca e o queijo nas mãos para usar e abusar da web 2. 0 e se beneficiar bastante com isso, mas escolhem um caminho que pode não ser muito legal. Citarei três (para não deixar este post ainda mais longo) exemplos de empresas que em pleno ano de 2009 parecem não ter sacado o conceito (viu como eu não demorei tanto?) de verdade.

Para exemplificar e analisar a coisa com o mínimo de rigor metodológico, escolhi empresas de varejo. Tomo com referência para as observações a Amazon que faz uso de algumas premissas do conceito de web 2. 0 com bastante êxito. Para não deixar as análises ainda mais longas, focarei em apenas uma premissa: participação do usuário. Assim fica mais fácil tecer os comentários.

Pensemos no nosso exemplo (Amazon) e observemos como a coisa funciona lá em termos de participação dos usuários. Na Amazon, os produtos podem ser comentados pelos consumidores e avaliados por eles. Para evitar fraudes (registradas), os próprios usuários têm seus comentários avaliados pelos outros usuários. Um comportamento bem condizente com as premissas da web 2. 0 (conteúdo gerado pelo usuário e criação de espaços de comunicação / interação entre as pessoas ao invés de apenas “entregar” informações). Com esta iniciativa, a Amazon permite que sejam criadas comunidades em sua loja. As pessoas ficam mais tempo no site e recebem auxílio de outros consumidores para tomarem suas decisões; afinal, a opinião de outra pessoa como eu vale muito mais pra mim do que a opinião do vendedor. Além disso, é fornecido ao consumidor a possibilidade de trocar idéias sobre os produtos em um fórum de discussão com acesso imediato, logo na página do produto. As conversas que vi nestes espaços vão além da recomendação de um produto ou sua avaliação e rumam para a colaboração efetiva entre os consumidores: um consumidor ajudando outro que tem dúvidas sobre o uso de um produto específico, por exemplo.

Ou seja: a aplicação de alguns princípios simples implicou em uma série de benefícios para a empresa. eu mesmo já me vi comprando produtos na Amazon não por outro motivo senão a recomendação de alguém. Isso não acontece facilmente em uma loja tradicional (física) e muito menos nos exemplos brasileiros.

  1. Casas BahiaUma pena que o maior varejista do setor no país tenha iniciado sua operação na web apenas em 2009. O atraso, entretanto, poderia ter proporcionado às Casas Bahia uma entrada triunfante na web brasileira. Afinal, não é todo mundo que pode se dar o luxo de começar do zero uma frente de vendas na web em plena era da web 2. 0.   Só que o que aconteceu foi o lançamento de uma loja bem, digamos, web 1. 0. Não há nenhum tipo de recurso que passe perto da possibilidade de avaliar um produto ou deixar meu comentário. A coisa mais perto disso (embora esteja bem distante, deve-se dizer) é a funcionalidade de mandar um e-mail a alguém com um link de um produto.
  2. Magazine LuizaO pioneiro do comércio eletrônico no Brasil ficou prá trás na web 2. 0. Aqui também há apenas a possibilidade (bem escondida, por sinal) de enviar um e-mail a alguém com um link para um produto. A possibilidade de interação pára por aí. Interação, então, nem pensar.
  3. SubmarinoA empresa que é sinônimo de vendas pela web no país parece ser a única que oferece esta funcionalidade, embora muito pouco explorada. Ao final das páginas dos produtos, é possível avaliar o produto e colocar uma opinião sobre ele. Mas a coisa pára por aí. Embora possa parecer bastante se comparado aos outros players brasileiros, o que temos aqui passa longe do que seria um pleno uso das possibilidades que podem ser exploradas com este tipo de funcionalidade. Além disso, esta possibilidade não é muito trabalhada junto aos consumidores. Ninguém se sente estimulado ao comentar sobre um produto e o caminho para isso não é muito claro (aposto que tem gente que compra regularmente na loja e nunca viu isso). Então… Apesar de ter algum tipo de ferramenta que pode ser bastante aproveitada, o Submarino perde muito ao não dar destaque a esta ferramenta e ao não incentivar o usuário a utilizá-la plenamente.

Então… Se alguém teve a paciência de ler até aqui, é hora de agradecer e concluir, certo?

Pois bem… É legal então ver que o conceito de web 2. 0 é muito mais amplo e interessante do que o uso da web como plataforma e certamente refere-se muito mais a uma mudança de comportamento ao enxergar a web do que uma palavrinha da moda.

Talvez por causa da interpretação errônea do conceito temos visto muitas empresas ignorarem alguns princípios bem interessantes e que podem ser bem vantajosos tanto aqui no Brasil quanto lá fora (aliás, este é outro conceito que devemos aprender a repensar… com a web, não existe mais “aqui” e “lá”, mas isso deve ser assunto para outro post).

*Vale explicar que esta abordagem é equivocada pois embora tenhamos alterações substanciais no composto de marketing, por exemplo, a virtualização do comércio não faz o suficiente para ser atribuído a este processo o título de “nova economia”; afinal, pessoas continuam trocando bens e serviços por dinheiro ou outros bens e serviços. Isso não é nada novo. Apenas o balcão mudou, não a economia.

Seu site não é seu

Nunca é demais lembrar disso, né?

Yes, believe it or not, your website design should not concentrate on what you want or what you would like to see in your website, but it is about what your customers want from your website and it’s design.

 

Leia tudo.

🙂

O site de sua empresa não deve ter nem refletir as coisas que você gosta, mas sim as coisas que os seus usuários esperam e precisam. Aliás… nenhum produto ou serviço que você possa vir a oferecer para o mercado em qualquer época deve ser baseado no que você quer. Todas as diretrizes vêm dos seus consumidores. Esta é a essência daquela máxima “o cliente tem sempre razão”; e nunca deve ser confundida com subserviência no ponto de venda, ok?

BlogCamp – BH

Durante este último final de semana aconteceu o BlogCamp em BH. Compareci ao evento apenas no primeiro dia e comecei a escrever este post lá, durante as discussões. Só publico o texto agora pois tentei refletir o máximo que pude sobre o assunto buscando evitar o envio de um texto incompleto. Não sei se consegui. Antes de jogar pedras, por favor, tente ler este texto até o final.

A primeira – e mais importante – coisa que pude perceber é o que já suspeitava ao ler os comentários e acompanhar os últimos eventos que envolviam o assunto “Blog” pelo Brasil: Blogs viraram desculpas para se (tentar) fazer dinheiro na internet. Por mais que a gente tente dar certa dose de eufemismo pra coisa, não há como evitar. Monetizar é o santo graal para uns 95% dos donos de blogs (odeio o termo “blogueiro” do mesmo jeito que tem gente que odeia “usuário” e prefere usar o tal “*nauta”. Pra mim “blogueiro” é um termo tão pejorativo quanto “maconheiro”) do Brasil. Num evento como o BlogCamp, a monetização parecia ser a coisa mais importante (como o “networking”) para quem quer que estivesse lá. Me senti como um completo estranho. O que percebi, ao ver as discussões do pessoal lá, é que blogs não são mais só aqueles sites de cunho pessoal onde os autores publicam suas opiniões sobre os assuntos que lhe interessam. Estes até existem, mas parece que são minoria; ou melhor dizendo: estes passam longe dos encontros como o BlogCamp. O tipo de site que parece predominar ao se procurar ilustrar o conceito de um blog hoje em dia é o site construído por alguém (ou um grupo de pessoas) que visa ganhar dinheiro publicando conteúdo e funcionando como alternativa aos jornais, revistas e programas de televisão.

Nada de errado nisso, devo sempre deixar bem claro. Não há nada de errado em querer ganhar dinheiro e muito menos em tentar construir fontes de comunicação alternativas às da – dita – grande mídia.

O que me espanta é que os blogs individuais e que carregam apenas as opiniões dos autores e não são monetizados parecem não ser mais considerados como blogs. E os que se opõem à monetização são considerados quase criminosos, ou melhor dizendo: comunistas comedores de criancinhas.

Pera lá, gente. Não é bem assim.

A monetização é uma opção e não um caminho obrigatório. A meu ver, diga-se, um caminho arriscado, pois tenta-se construir e atribuir reputação de fonte de notícias a uma forma essencialmente pessoal de se publicar textos.

Como disse, nada de errado em querer ganhar dinheiro com a coisa, mas evitem fazer isso chamando de blog. Não por purismo e uma tentativa romântica de manter o termo “blog” longe do vil metal. Nada disso! Evitem chamar de blog para – justamente – dar mais credibilidade ao que fazem. Embora o formato seja semelhante ao de blog, o que muitos sites monetizados escritos em grupo são na verdade é revistas e publicações especializadas sem um jornalista assinando a edição. Então, eu recomendo que estes sites se posicionassem como tal. Acho que eles ganhariam mais.

Porque, afinal, até quando o conteúdo de um blog é relevante? Já o de uma revista….

Permita-me (caso você ainda esteja lendo isso) explicar: Claro, o que um autor ou outro pode escrever um dia e você lê em uma determinada ocasião pode ser relevante para você num – como disse – determinado momento. Mas, uma pergunta que me faço constantemente é: você confia num blog? De verdade? A resposta ficou ainda mais clara depois de ver a quantidade de discussão no BlogCamp-MG sobre monetização, reputação, posts patrocinados e correlatos.

Ninguém lá além de mim e alguns outros presentes (coincidentemente professores, como eu) contestavam que a publicação de posts patrocinados trazia conseqüências para um blog que podem ser mais maléficas do que benéficas. Para o pessoal, o fato de uma revista tradicional fazer isso dá o aval necessário para que um blog o faça. Como já disse, não quero impor regras sobre o que deve e o que não deve ser feito, mas os donos de blogs que fazem isso devem ter em mente que isso tem uma conseqüência sim. A partir do momento que alguém busca um blog para ver uma opinião testemunhal e pessoal sobre um assunto e se depara com um texto publicitário disfarçado de post, há uma grave conseqüência nisso. E, como os donos de blogs não são profissionais do texto, isso fica cada vez mais fácil de descobrir… Aí, quem perde é o próprio dono do blog. Por isso é que eu acredito que quem quer seguir por este caminho deveria se posicionar como um periodista, e não como um dono de blog.

No evento, fiz perguntas mas não sei se fui plenamente respondido. Como sou contra monetização de um blog, não sei bem ao certo se minhas colocações foram entendidas do jeito que eu pensei que poderiam ser. É que parece haver uma certa confusão entre ser contra vender post e ganhar dinheiro…

Eu sei que blog é formato, e não linguagem. Ainda assim (e por isso), é legal dar um tom mais “profissional” quando se quer ganhar dinheiro com a coisa.

Enfim, acho que o evento foi bem bacana para reunir pessoas em torno de um interesse comum. Infelizmente, fazer do meu blog pessoal um espaço para ganhar dinheiro com posts patrocinados e anúncios do Google não é o meu interesse. Não que eu me oponha a quem faz, só acho que isso tem – como disse – conseqüências. Se um dia eu fizer isso, certamente não será aqui no [cc] e nem será associado ao meu nome.

Mas, voltando à conclusão deste mais que confuso texto… Valeu pela experiência.

Ferramentas de produtividade

Achei em uns antigos backups aqui no escritório um cd com minhas colunas para a revista WWW. Escrevi estas colunas nos anos de 2005 e 2006. Como elas ainda não estavam disponíveis para os leitores do blog, resolvi colocá-las aqui aos poucos. O que replicarei no blog é o texto bruto, enviado para os editores da revista. Os textos podem estar antigos e, ainda, terem erros. Conto com vossa compreensão. Boa leitura!

Coluna enviada para a revista WWW no dia 21 de dezembro de 2006

Ferramentas de produtividade

Primeira coluna do ano e não há assunto mais oportuno do que a sua produtividade para este novo período que se inicia, certo? Bem, se você não pensa assim, que tal ler este texto até o final e depois pensar a respeito das pequenas coisas que podemos fazer para que nossos trabalhos fiquem mais bacanas e que nossos dias rendam mais.

Comecemos com o mais trivial, porém, mais importante dos passos: o planejamento. Planeje sempre suas ações. Na sua vida e em seus projetos profissionais, o planejamento já deve ter mostrado seu papel essencial no desenvolvimento de qualquer atividade. Assim sendo, planeje seu ano. Se você trabalha com atendimento, sua agenda é uma importante ferramenta. Atualize-a e use-a corretamente. O campo de “aniversário”, por exemplo, não está ali só de enfeite. Uma mensagem ou um telefonema de felicitações a cada um de seus clientes pode ser bastante eficiente para a criação de relacionamentos individualizados. Talvez até mais eficiente do que aquele cartão de natal em flash que você mandou para todo mundo no mês passado, né? Para os que se interessaram, Google e Yahoo! têm estas ferramentas muito bem desenvolvidas e oferecidas gratuitamente a seus usuários.

Além do campo de aniversário, experimente criar um novo campo intitulado “interesses especiais”. Da mesma forma que o campo de aniversários, este deve ser usado e atualizado constantemente. Registre tudo o que puder sobre este cliente (ou prospect) para que – sabendo mais e mais sobre ele – você consiga estreitar ainda mais o relacionamento e promovê-lo da categoria de cliente para a categoria de amigo. Lembre-se que a recíproca é verdadeira, se você é um fornecedor, será promovido para amigo pelo cliente.

Se o seu trabalho é com produção e/ou gestão, que tal começar a fazer uso das ferramentas – inúmeras, diga-se – de gerenciamento de projetos? Estas ferramentas, além de manter tudo dentro dos eixos no curso de um projeto, ajudam a interligar os diferentes setores envolvidos na sua execução, de uma ponta á outra, pois além de auxiliar na gestão da execução das tarefas, estas ferramentas aproximam as pessoas. Se você não é o responsável pelo projeto, mas é parte dele, que tal sugerir seu uso aos responsáveis? Há excelentes alternativas – gratuitas ou não – que podem ajudar a resolver muitos problemas. Basecamp, eProject e Teamspace são excelentes alternativas.

Outra boa atitude que você pode tomar para que seu dia, mês e ano rendam bastante é usar corretamente os recursos de comunicação dos comunicadores instantâneos e do e-mail. Falemos dos comunicadores instantâneos primeiro. Não seria uma boa se a sua lista de contatos fosse revisada e uma faxina fosse feita? Que tal rever a necessidade de manter aquelas pessoas com as quais você não conversa há um tempão em sua lista? Outra coisa a fazer é separar contatos profissionais e pessoais. Misturar pode não ser a melhor coisa para você. Uma boa opção é separar estes contatos por tipo de comunicador. Por exemplo: os contatos pessoais ficam no Yahoo!Messenger, os profissionais no MSN ou GoogleTalk. Consolidá-los em um só software pode ser uma boa com o Gaim ou o Trillian. Entretanto, a ordenação em clientes separados nem sempre depende da gente, não é? Nestes casos, o mais legal a se fazer é ter “dupla personalidade” ou, em outras palavras, dois cadastros nos clientes de comunicação instantânea: um para os contatos profissionais e outro para os pessoais. O motivo disso tudo? Não misturar as bolas.

Finalizando, uma dica bem legal sobre e-mail para ajudar a aumentar a produtividade neste novo ano: Reduza o tempo dedicado a apagar incêndios e responder imediatamente as mensagens de e-mail que chegam em sua caixa postal. Você já parou para contar o tempo que você se dedica a isso enquanto deveria estar executando alguma tarefa de seus projetos? A não ser que responder e-mails instantaneamente seja a sua tarefa, você já deve ter perdido muito tempo com isso. Assim sendo, duas dicas. A mais radical é desligar o software de e-mail e ligá-lo apenas três vezes ao dia: no começo do expediente, logo após o almoço e no fim do dia. Se esse não for o caso ou esta ação acabe por te colocar em apuros, que tal aumentar o tamanho dos intervalos na checagem? Talvez uma interrupção das atividades a cada meia hora seja mais legal do que a cada três minutos para responder mensagens.

Com estas dicas espero contribuir para que seu ano já comece mais produtivo. Fazer bom uso das ferramentas de produtividade é fazer bom uso dos recursos disponíveis em nossas vidas.

Faça bom uso do e-mail (três novas dicas)

Achei em uns antigos backups aqui no escritório um cd com minhas colunas para a revista WWW. Escrevi estas colunas nos anos de 2005 e 2006. Como elas ainda não estavam disponíveis para os leitores do blog, resolvi colocá-las aqui aos poucos. O que replicarei no blog é o texto bruto, enviado para os editores da revista. Os textos podem estar antigos e, ainda, terem erros. Conto com vossa compreensão. Boa leitura!

Coluna enviada para a revista WWW no dia 30 de novembro de 2006

Faça bom uso do e-mail (três novas dicas)

O assunto já foi abordado algumas vezes aqui nesta coluna, mas nunca é demais reforçar algumas dicas que podem ser bastante úteis para melhorar nosso convívio com outras pessoas no espaço virtual – tanto no âmbito profissional quanto no pessoal – e ajudar na produtividade.

Pra começar: a questão do espaço em disco. Não há como deixar de perceber que a tendência entre os provedores de serviço de e-mail é aumentar o espaço para cada usuário em sua conta. Esta excelente ação competitiva das empresas tem sido muito mal utilizada e igualmente mal interpretada por muitos. Vale, então, uma dica primordial: O aumento do seu limite (e de quase todo mundo) na caixa postal serve para que possam ser armazenadas mais e mais mensagens, e não mais e mais anexos nas mensagens.

O e-mail não foi pensado para ser um espaço onde a troca de arquivos é uma constante. Os protocolos que fazem o envio e o recebimento de mensagens não foram projetados para tanto e muito menos as caixas postais. Enviar mensagens com anexos “pendurados” é, no mínimo, um grande incômodo. Enviar estas mensagens, portanto, é um desrespeito. Principalmente quando o destinatário não pediu para receber aquela mensagem e – muito menos – aquele anexo. Com relação a isso, há uma garantia: se ninguém reclamou até agora, não quer dizer que estão gostando, mas sim que uma boa parcela não sabe muito bem como lhe pedir isso sem evitar um tom menos, digamos, “polido”.

Evite, portanto, enviar anexos em mensagens de e-mail. Envie somente quando for necessário (um orçamento ou um memorando, por exemplo). Evite, a todo custo, enviar anexos muito grandes por e-mail. Faça somente quando for imprescindível.

A necessidade do filtro interno. O segredo do sucesso é saber segurar a onda. Se o conselho anterior não for bem interpretado, corre-se o risco de pensar que tudo é imprescindível. Portanto, a necessidade de um filtro interno (dentro de cada pessoa – não de cada caixa postal) é primordial.

Aquela mensagem sobre as gêmeas que precisam de ajuda, ou aquela apresentação em . pps que fala da importância da amizade certamente não se encaixam na categoria de “prioridade número um”. Em primeiro lugar porque as tais gêmeas já devem ter superado seus problemas e em segundo lugar pois se a amizade fosse um bem tão valioso e que precisasse de tanto destaque, você falaria isso para poucos e verdadeiros amigos e preferiria dizer esta mensagem pessoalmente, e não por um arquivo em . pps que você nem sabe quem fez.

Assim sendo, pense bem antes de enviar este tipo de mensagem. Em primeiro lugar, pense no espaço desperdiçado com este anexo. Em segundo lugar pense que nem todo mundo quer receber este tipo de mensagem.

O e-mail é, sim, uma excelente ferramenta de comunicação, não de aporrinhação. Então, se você quer mandar aquele vídeo engraçado para um bando de remetentes (coitados deles!), evite fazê-lo pelo e-mail. Publique o vídeo (isso se já não tiverem feito isso) num site de vídeos e mande apenas o link. Melhor, não é? Uma pena que não inventaram ainda o Youtube de arquivos em . pps.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa, é outra coisa. Não é todo tipo de assunto que a gente pode sair falando em público para quem quiser ouvir, não é mesmo? Então lembre-se sempre que não é todo tipo de coisa que falamos por e-mail também. Dessa forma, evite “misturar as bolas” tratando de assuntos pessoais através do e-mail que você usa profissionalmente e vice-versa.

Quando misturamos os assuntos, as fronteiras entre o que é a sua vida provada e o que é a sua vida profissional desaparecem. E aí podem surgir uma série de problemas. Se teve um malefício ocasionado pela digitalização exacerbada e incontrolável que vivemos de tudo o que nos cerca, a eliminação das fronteiras (principalmente dos horários de trabalho) entre o profissional e o pessoal é o seu nome.

Separando as coisas você evita que – per exemplo – que sua semana de trabalho se prolongue até a noite de sábado e, por outro lado, também evita que a sua noite de sábado dure até a tarde de terça. Para resolver isso, é simples: use contas diferentes para assuntos diferentes.

O desafio da newsletter

Achei em uns antigos backups aqui no escritório um cd com minhas colunas para a revista WWW. Escrevi estas colunas nos anos de 2005 e 2006. Como elas ainda não estavam disponíveis para os leitores do blog, resolvi colocá-las aqui aos poucos. O que replicarei no blog é o texto bruto, enviado para os editores da revista. Os textos podem estar antigos e, ainda, terem erros. Conto com vossa compreensão. Boa leitura!

Coluna enviada para a revista WWW no dia 30 de outubro de 2006

O desafio da newsletter

Para qualquer profissional que está na condição ou já se encontrou na posição de ter que gerenciar a comunicação e o relacionamento com clientes / usuários através de um site ou de outros meios interativos sabe que o título desta coluna não é nada distante da realidade. Manter ou desenvolver relacionamento com clientes através de sistemas de comunicação interativos como as newsletters é um grande desafio, repleto de obstáculos e armadilhas.

Evite ser chamado de spammer. É muito fácil esquecer de uma premissa básica quando se fala em envio de newsletter: o usuário – voluntariamente – deve ter se cadastrado para receber suas mensagens. Se não for este o caso, repense todo o projeto de envio das mensagens. No caso da newsletter, dependemos exclusivamente do cadastro do usuário. Este fato jamais deve ser ignorado, pois representa da maneira mais direta e simples o postulado que tanto adoramos entoar “o poder está nas mãos do usuário”. Lembrar-se disso é a primeira coisa que precisamos saber para, respeitando e entendendo o cliente, realmente fazer comunicação não apenas enviar mensagens que não interessam a ninguém além de quem as enviou.

Para não ser considerado um spammer, pense, então, em oferecer algo convidativo ao cliente. Algo que incentive o cadastro para o recebimento das mensagens. Normalmente pensamos em uma promoção ou algo que o valha. Cuidado. Este tipo de permissão circunstancial não custuma render os frutos mais suculentos. Ofereça algum tipo de serviço que seja realmente relevante ao público que interessa para a empresa.

Comunicação na Internet significa interação. Pela própria natureza do meio, o modelo de comunicação “um-para-muitos” é um fracasso na hora de se falar em comunicação pela Internet. É de bom grado considerar que a newsletter não é apenas um boletim informativo, mas sim uma maneira de deixar o cliente a par daquilo que o interessa e suscitar o contato para que ele possa interagir com a empresa. Manter este canal aberto é primordial para que ele indique o que quer receber e – obviamente – isso é primordial para que a empresa possa entregar uma mensagem mais eficiente.

Respeito é bom e ajuda a manter (e aumentar) a base de assinantes. Sabendo que uma newsletter não deve ser empurrada à força para a caixa de entrada do usuário, é preciso entregar o que ele quer. É importante buscar personalizar a comunicação ao máximo entregando a informação que o cliente solicitou. Para fazer isso, não há fórmula mágica, mas algumas dicas: 1) Procure – no cadastro – coletar informações que ajudem a personalizar a mensagem a ser enviada; 2) Incentive que o usuário se manifeste e indique o que ele quer receber; 3) Acompanhe as ações do usuário quando este visita o seu site; 4) Procure manter um cadastro atualizado dos hábitos e comportamentos do usuário (normalmente conseguimos isso através de uma página de perfil que o usuário possa editar sempre que achar necessário).

Além de entregar o que o usuário / cliente quer ler, é importante que deixemos o poder nas mãos de quem realmente o detém: o cliente. Deixe sempre bem clara a opção de descadastramento da newsletter. O cliente, da mesma forma que optou por receber suas mensagens tem o direito de optar por não recebê-las mais. Não torne este procedimento difícil e moroso. Respeite-o e ele respeitará sua empresa.

Nivele por baixo. Apesar de parecer forte, o último conselho é este mesmo. Lembre-se que controle é algo que – definitivamente – não é nosso. Não temos controle sobre as ações de cadastramento e descadastramento dos usuários e devemos nos acostumar também à idéia de que não temos controle sobre como nossos usuários / clientes visualizarão as mensagens que enviamos a eles. Dessa forma, nivele por baixo.

O formato de texto puro não é, de maneira alguma, menos eficiente do que uma mensagem cheia de imagens, códigos HTML ou scripts. Texto todo cliente de e-mail (seja ele um serviço de webmail ou um software para leitura offline) consegue enxergar. Não ignore isso. Mais vale uma mensagem de texto que consegue ser visualizada do que uma mensagem cheia de gráficos que o cliente não consegue ler pois seu dispositivo de leitura é incompatível.

Obviamente estas são apenas algumas dicas sobre a manutenção de relacionamentos e de estratégias de comunicação com clientes em ambientes interativos. Existem muitas outras que fazem parte do bom uso da rede. Voltaremos a abordar este importante assunto em textos futuros.

Um blog é um blog e nada mais que um blog

Achei em uns antigos backups aqui no escritório um cd com minhas colunas para a revista WWW. Escrevi estas colunas nos anos de 2005 e 2006. Como elas ainda não estavam disponíveis para os leitores do blog, resolvi colocá-las aqui aos poucos. O que replicarei no blog é o texto bruto, enviado para os editores da revista. Os textos podem estar antigos e, ainda, terem erros. Conto com vossa compreensão. Boa leitura!

Coluna enviada para a revista WWW no dia 30 de setembro de 2006

Um blog é um blog e nada mais que um blog

Não é pra ser chato, mas sim realista. Embora os blogs (ou weblogs) sejam a materialização mais proeminente das assertivas de que a web é um espaço democrático, devemos sempre ter em mente que um blog não é nada mais do que um blog.

Como assim? É fato que, já há algum tempo, mais precisamente desde 2002, quando a Globo. com popularizou no país o serviço Blogger. com em sua versão brasileira, vivemos um crescente hype em torno dos blogs. Todos os dias milhares de novos blogs são criados e um sem-número de jornalistas descobrem a ferramenta e começam a publicar usando suas facilidades ou a criticá-la, apontando aqueles velhos defeitos (impossibilidade de aferir se o que está escrito é verdade, a questão do anonimato e por aí vai). Isso se mostra no fato de que hoje há quase tanto destaque nos grandes portais brasileiros para os blogs mantidos por jornalistas e hospedados por ali do que paras as próprias notícias. É uma bolha que não pára de crescer.

Isso tem o lado bacana de popularizar os blogs, mas tem o lado ruim de distorcer seu formato inicial. Usar o formato de blog para manter um jornal ou um periódico noticioso pode ser muito ruim. Tanto para quem o faz quanto para quem o acompanha. E os grandes portais têm feito isso sistematicamente no Brasil, contratando equipes de profissionais para escrever posts em blogs que levam a chancela de jornalistas famosos. Isso é muito ruim. Em primeiro lugar porque não custa nada manter um blog coletivo e todos assinarem com seus próprios nomes; em segundo lugar porque este tipo de blog acaba por confundir a cabeça de quem lê, sem saber direito se é um blog ou um site de notícias; em terceiro lugar, porque esta crise de identidade acaba por criar mais celeuma em cima do formato, contestando-se sua validade.

Adicione a esta argumentação aquela já conhecida síndrome de Andy Warhol: Todo mundo parece querer seus quinze minutos de fama na Internet. Aí, as celebridades instantâneas mantenedoras de blogs acabam por se confundir, tentando assumir a postura de fontes oficiais de notícias e de delineadores de opinião quando a coisa não é bem assim.

Por isso, repito: um blog é um blog e nada mais que um blog. É um espaço para a publicação rápida e fácil de conteúdo, num formato padronizado cuja maior característica é a disposição de informações em uma página de forma cronologicamente inversa, onde as entradas mais recentes estão no topo e as mais antigas, na parte de baixo da página. Além disso, o formato permite que o leitor interaja com o dono do blog, comentando as entradas e perenizando as discussões, através dos arquivos disponíveis. Esta explicação simplificada do formato tem o propósito de deixar claras as vantagens para as pessoas comuns, como você e eu, que querem manter um blog.

Ta, Caio… Você indicou uma questão, mas não apontou nenhuma resposta. Calma!

Que tal começarmos a tratar os blogs como eles são: blogs? O primeiro passo para isso é deixar claro, naquele conhecido espaço onde o autor fala de si, algumas linhas sobre o conteúdo autoral daquele site. Outra ação interessante é evitar usar o formato para fazer jornalismo. Isso evita críticas ao site em si e ao formato de blog. Uma terceira ação é a de evitar usar um blog para nada mais do que ganhar dinheiro. Pessoalmente, sou contra um blog pessoal ter anúncios.

Admito que não há como escapar da prática. Entretanto, é legal sempre ter em mente que, se o propósito é ter um site pessoal, por qual motivo você precisa de anúncios? Agora, se o seu negócio é ter um site de conteúdo e vender espaço publicitário nele, recomendo outro formato que não o de blog. O motivo? Simples: um blog é um blog e nada mais que um blog.

 

Num mundo perfeito. . .

Achei em uns antigos backups aqui no escritório um cd com minhas colunas para a revista WWW. Escrevi estas colunas nos anos de 2005 e 2006. Como elas ainda não estavam disponíveis para os leitores do blog, resolvi colocá-las aqui aos poucos. O que replicarei no blog é o texto bruto, enviado para os editores da revista. Os textos podem estar antigos e, ainda, terem erros. Conto com vossa compreensão. Boa leitura!

Coluna enviada para a revista WWW no dia 25 de agosto de 2006

Num mundo perfeito…

Num mundo perfeito, muita coisa seria diferente. As pessoas não repassariam correntes. Os celulares e laptops gratuitos não seduziriam os incautos a enviar mensagens desnecessárias para enormes listas de destinatários.

Em momentos em que enviar uma mensagem para uma grande lista se faz necessário, num mundo perfeito, as pessoas esconderiam os endereços dos destinatários das mensagens no campo de cópia oculta das mensagens. Além disso, num mundo perfeito, as empresas aprenderiam que enviar mensagens comerciais não solicitadas é ruim para sua imagem e reputação.

Num mundo perfeito, os worms, cavalos de troia e virus não assustariam tanto, pois deixaríamos de enviar e – principalmente – receber mensagens de e-mail compostas em HTML.

Os e-mails não conteriam anexos desnecessários. Nada de vídeos dentro das mensagens. Apenas links, indicando que o vídeo da piadinha da hora está disponível no YouTube. Falando nisso… Num mundo perfeito, celebraríamos a criação de um site tipo o YouTube, mas só que ao invés de vídeos, seriam hospedados os famosos arquivos do powerpoint, que tanto nos atormentam com as infames fotinhas de criancinhas fofinhas e animais engraçadinhos.

Aquelas mensagens que vão além, forçando as rimas para falar da importância da amizade e do amor por meio de letrinha scoloridas e animadas acompanhadas de um não menos chato fundo musical nem chegariam a nossas caixas postais.

Num mundo perfeito, as pessoas deixariam de lado o péssimo hábito de subverter as regras gramaticais e assassinar o nosso idioma em troca de alguns toques a menos nos teclados. A gritaria em caixa-alta praticamente desapareceria.

Num mundo perfeito, o conteúdo dos sites e dos textos que colocamos na web não seriam copiados indiscriminadamente sem que fosse citada a fonte da informação. O plágio, tão deplorável, seria minimizado.

Os sites não teriam introdução em flash e nem splash-pages. Os microsites seriam chamados de microsites e não de sites quentes. Num mundo perfeito não sofreríamos com sites e peças publicitárias interativas que têm áudio, mas não oferecem a opção de desligá-lo.

Num mundo perfeito, o compartilhamento de arquivos via redes P2P não seria encarado como pirataria, pois cairia a ficha de que quem mais baixa arquivos de música é – coincidentemente – quem mais compra discos.

Num mundo perfeito, o acesso a determinados sites e serviços, o uso de mensageiros instantâneos e de software de VoIP não seria travado por gerentes de redes obcecados por proibições e restrições. Isso porque, num mundo perfeito, as pessoas saberiam usar com moderação todos os recursos que têm a seu dispor.

Num mundo perfeito, o argumento mais usado por nove de cada dez gerentes de rede de que estas proibições ocorrem apenas por questão de segurança cairia por terra, uma vez que eles (os gerentes de rede) aceitariam o fato de que a maior porta de entrada de virus nas empresas é o e-mail, e não faz sentido proibí-lo.

Finalmente, num mundo perfeito, as pessoas fariam excelente uso da rede.