Intercom 2019 – Belém (PA)

No último dia 06/09 estive em Belém para apresentar um texto que está em desenvolvimento em meu grupo de pesquisa sobre a plataformização da nossa presença na Internet.

O título do texto é: “Precisamos conversar sobre o Facebook: Uma provocação sobre a plataformização das atividades sociais na Internet“. Ele faz parte de um conjunto de relatos de investigações que venho fazendo nos últimos anos.

A apresentação fez parte da programação do GP de Comunicação e Cultura Digital da Intercom. Durante o resto do evento participei de diversas sessões do GP e o aprendizado foi muito grande.

O texto, como dito, está em elaboração. A versão apresentada vai receber alguns aportes a partir dos ótimos inputs que recebi no evento e será publicado no e-book que o GP lançou este ano. Aguardem novidades nos próximos meses 🙂

 

A importância da palavra bem escrita

Estou escrevendo este texto depois de ver uma publicação no LinkedIn (serviço em que me pego todos os dias considerando fortemente apagar meu perfil) onde acabo de ver (pela enésima vez) alguém escrever uma frase usando o verbo haver no plural.

No livro Remote, o Jason Fried dedica um capítulo inteiro para a questão da escrita. Para ele, esta é uma questão crucial para quem vai trabalhar remotamente por causa da comunicação com seus pares. Mas esta importância não prevalece apenas para quem vai entrar na onda do teletrabalho. Escrever bem significa saber se expressar bem e defender bem uma ideia. Significa saber organizar ideias e apresenta-las de modo coerente.

Ele complementa que uma boa maneira de selecionar um bom programador para seu time é optar por aquele que escreve melhor. Texto mesmo. Porque se ele escreve um texto bem escrito, é bem provável que programação não será um problema para ele.

Particularmente, este posicionamento me impressionou um bocado quando li o livro. Isso porque o Jason Fried é um desenvolvedor. E desenvolvedores não são famosos por sua capacidade de escrita. Ainda mais por recomendarem (como no caso do Jason Fried o faz neste livro) que um dos mais (se não o mais importante) relevantes critérios de seleção deve ser a capacidade de um desenvolvedor de escrever bem um texto. O autor dá tanta importância para isso que insere em seu livro várias dicas de leituras e práticas que podem ser adotadas para que melhoremos nossas capacidades de escrita. Enfim, vale a leitura. E, claro, vale também prestar atenção e dar muito peso para a escrita.

Mas voltemos ao caso do LinkedIn. Não ao fato de eu querer deletar minha conta lá todos os dias (isso tratarei no momento apropriado), mas ao fato do erro do plural do verbo haver.

A questão não errar. Todo mundo erra. Eu erro, você erra. Todo mundo erra. A gente erra o tempo todo.

Meu ponto aqui ressaltar o cuidado que precisamos ter com os erros que cometemos e onde cometemos. O erro do plural pode parecer bobo para muita gente. Mas ele é bem diferente daqueles deslizes de digitação que cometemos quando trocamos a letra O pela letra I no teclado. E ainda tem a questão do local onde ocorreu o erro: uma plataforma voltada para profissionais. Errar o plural do verbo haver mostra algo mais grave; como dito, estrutural. Volte a entender que se trata de uma plataforma voltada para a vida profissional das pessoas. Então ver alguém em posição de liderança cometendo um erro desses não é a coisa mais legal de todas.

Enfim. O que quero dizer é que devemos tomar cuidado com nosso texto. Em qualquer circunstância, nosso texto falará muito sobre nós. E por mais que a pós-modernidade e toda sua liquidez indiquem que estes conteúdos não ficarão aqui por muito tempo; o estrago causado pode ser grande, mesmo que online por pouco tempo.

Reativando este espaço com duas dicas de leitura

Então.

Ontem vim para a Colômbia para uma série de eventos para os quais fui convidado a participar aqui na Universidad Cooperativa de Colombia – Cali. É minha segunda vez no país. Em 2014 estive em Medellin para evento semelhante realizado pela Universidad de Medellin. Será uma semana cheia e, mesmo assim, resolvi reativar este espaço de publicação. Espero que gostem.

Mas, por qual motivo escolhi reativar este blog justamente agora, com tanta coisa para fazer em um país diferente no meio de uma semana tão atribulada?Bem, porque sim. 🙂

Na verdade já fazia parte dos meus planos há algum tempo reativar este espaço. Mas durante o trajeto BH-Cidade do Panamá, eu reli o livro “The New Rules of Marketing and PR”; o que foi muito bom para reforçar algumas coisas que tinha na cabeça. Uma delas é justamente a importância destes mecanismos de publicação como este humilde blog.

Enfim. Na releitura, o autor menciona o Hubspot e, coincidentemente, também durante o voo, estava ouvindo uma edição do Marketing Over Coffee em que mencionam o Hubspot com uma dica de livro: Disrupted.

Aí juntei a fome (vontade de reativar este espaço) com a vontade de comer (indicar leituras) e estamos aqui com o blog de volta!

Aproveite então para anotar estas duas dicas de leitura:

  1. The New Rules of Marketing and PR (quem assiste minhas aulas de cibercultura e marketing digital conhece muito deste conteúdo, hehe)
  2. Disrupted (que comecei a ler hoje mesmo) 😀

Enfim. Depois me digam o que acham destes livros.

Qual o peso do título de especialista em Design de Interação

(Ou: você precisa de uma pós em Design de Interação para ser designer de interação?)

TL, DR: Não.

Quer a explicação completa? Leia a seguir e participe da discussão!

Preâmbulo – A inquietação
Para quem não sabe, eu – Caio Cesar – fui um dos responsáveis pela implementação da primeira pós graduação em Design de Interação no Brasil. Sob a minha coordenação, formaram-se cinco turmas de especialistas em DI. Foi um período muito gratificante, de muito trabalho e várias realizações. No entanto, algumas inquietações sempre me incomodaram. Uma delas, a corrida por uma pós a qualquer custo, sem se preocupar com uma formação mais sólida na base. Estas inquietações foram crescendo até que chegou um ponto em que eu precisei fazer algumas escolhas e continuar coordenando uma pós deixou de ser uma prioridade e um interesse. Daí nasceu o inter. ativida. de.

Embora esta questão da formação esteja bem clara na minha cabeça, aqui no projeto inter. ativida. de tenho recebido muitas indagações a respeito da pós em Design de Interação. A quantidade de gente que tem demandado este curso é grande. Mas minhas crenças e instinto me dizem que uma pós por si só não é o suficiente para formar um designer de interação. Na verdade, não acho que acabe colaborando com muita coisa além de apontar bibliografias, apresentar contatos e mostrar que existem caminhos…

Pra deixar bem claro, o que eu penso é que para você trabalhar com design de interação tudo o que você precisa é começar. E se esforçar muito. Para fazer um paralelo bem superficial, pense na quantidade de pessoas que trabalham com desenvolvimento front end para a web. Agora, a partir deste montante, tente identificar quantos destes profissionais aprenderam a fazer isso em cursos de graduação ou pós. Certamente você perceberá que a grande maioria aprendeu fazendo, e não frequentando aulas. Meu ponto aqui não é detonar a formação superior. Não sou maluco. Dou aulas numa universidade há 12 anos. Entendo e valorizo a formação superior. Mas, como já disse em outras ocasiões, você não é aquilo que você estuda.  Você é aquilo que você faz.

Nesse sentido, acho que fontes online de informação, somadas a disciplina e ao empenho do interessado acabam por fazer mais diferença na vida dele do que um título faria.

Perguntando a profissionais e empreendedores
Só que isso tudo pode ser coisa da minha cabeça e eu posso estar viajando muito. Por isso, decidi perguntar para pessoas que contratam profissionais, o que eles acham. Perguntei para alguns profissionais que empreendem e contratam pessoas para funções relacionadas ao DI qual o peso do curso na hora da contratação. De forma bem específica, coloquei a questão: se dois candidatos estão participando de um processo seletivo na empresa e apenas um deles tem título, este título é mais importante que o portifólio ou é apenas um critério de desempate? O portifólio e o perfil (entrevista) são mais importantes que o título ou a formação fala mais alto?

A primeira resposta que recebi foi da Juliana Duarte, da Lapis Raro. Para ela, a resposta mais direta só poderia ser: o portfólio e o perfil certamente contam mais que o título. No entanto, a Juliana levantou algumas questões interessantes como a velocidade do aprendizado em sala de aula, que é maior em sua percepção. De forma intimamente relacionada, a resposta do Leandro Alves, da Meliuz, foi a de que uma pós proporciona o networking necessário para alavancar a sua carreira ou até proporcionar a ela um novo direcionamento.

De forma mais que direta, Cristiano Dias, da Mutato, mandou: Portfolio, entrevistas e indicação de conhecidos valem muito mais do que diploma. Mas isso em agência. Em cliente normalmente é o contrário, até por que como são empresas maiores há planos de cargos e salários e o simples fato de ter um diploma pode te garantir um salário maior.

Isso se relaciona a uma questão que eu sempre coloquei parece também incomodar a Juliana e o Alexandre Estanislau, da Bolt: vale a pena fazer pós só por causa do título? Concordamos que não. O título pelo título não representa muito. O Leandro foi até mais além, dizendo que

“o diploma em si, não vale nada. O cara pode ser PhD na área que procuro, que não quer dizer muita coisa. Inclusive, eu sempre fico com pé atrás, quanto maior o título da pessoa, porque muitas das pessoas com as quais tive contato e que tinham titulação muito alta, acabavam por ser arrogantes, inflexíveis ou simplesmente loucas e impossíveis de se relacionar. ”

Renato Amarante, da Sense8, foi na mesma onda do Leandro em sua colocação sobre o assunto. Para ele, “portfolio e títulos são apenas indícios de que o cara pode ser bom. Afinal, se estudou e fez uma pós, teoricamente ele é melhor do que o que não tem nada”. Mas isso não quer dizer que quem não tem o título seja desqualificado: “em quase 20 anos de web nas costas, os melhores profissionais com quem trabalhei foram os que sequer iniciaram uma graduação”. Para fechar a sua fala sobre este assunto, o Renato ainda me informou que já se deu mal por apenas olhar o portifólio do candidato na hora da contratação “talvez por estar tentando enganar usando portfolios de outros, ou até mesmo porque no dia a dia, no trabalho em equipe, o cidadão não se dá bem”.

A integração com a equipe e a adequação com o perfil da empresa se mostraram também muito importantes para o Herbert Rafael, da 3bits. Ele relata que já contratou pessoas muito capacitadas (formação é um parâmetro dentro desse contexto) que não se adaptaram ao estilo da agência, o que não foi tão bacana no final das contas.

Então quer dizer que fazer um curso não vale nada?
Se você está se fazendo esta pergunta, peço que volte ao início do texto e comece a ler novamente. Todos os que responderam minha mensagem procuraram deixar bem claro que não se posicionam contra a formação superior. Da mesma forma que eu.

Isso me deixou um tanto quanto aliviado. Com as respostas que recebi, pude comprovar que minhas suspeitas e meu instinto não estão fora da realidade. Um curso é importante. A formação superior é importante. Mas não determinante. Ela colabora para que o profissional tenha uma bagagem que será muito interessante em sua vivência. A especialização (numa pós lato sensu) apenas pelo título pode ser bem legal se você receberá um aumento em função disso, como disse o Cristiano. De resto, é dinheiro jogado fora.

Para deixar mais claro, reitero o que o Cristiano falou lá em cima. Uma empresa costuma valorizar o título. Isso é correto. Mas tenho certeza de que este não é o único quesito avaliado. Se fosse, o meu título de doutor me garantiria o emprego que quisesse, mas a coisa não é bem assim. Não basta eu querer um emprego. Eu preciso ser capacitado para desempenhar esta função (um mestrado, um doutorado ou mesmo uma pós lato sensu não capacitam ninguém para funções específicas em empresas. Isso precisa ficar bem claro) se quiser a vaga.

O Leandro disse que dependendo de suas aspirações profissionais, a pós tem um incrível valor. Para ele, se o profissional quer atuar como consultor, uma pós ajuda e muito, dando um crédito formal à sua formação. Mas ele reforça que se o objetivo é aprender algo, cursos mais curtos e direcionados tem um valor muito maior do que uma pós deste formato.

A Juliana disse algo semelhante. Uma pós, de acordo com ela, pode ser um pontapé inicial para uma carreira acadêmica. Mas, se o profissional já aspira atuar nessa área, o mestrado é o caminho mais adequado.

(a falta de) Bagagem e vivência
O Alexandre, muito sabiamente, coloca uma questão deveras importante para apimentar a discussão:

“Vejo que muitos procuram um curso, uma pós ou algo do tipo, pra aprender um ofício. Pouco se preocupam em aprender a pensar. Aqui na Bolt temos grandes dificuldades de encontrar bons profissionais em todas as áreas. Achamos pessoas querendo trabalhar, mas com um perfil muito ruim para uma vaga. E principalmente na área de interação é mais complicado ainda. E ter um título, uma formação dentro do interesse específico é importante, mas não é só isso que vá render uma contratação. Hoje eu busco outras qualidades em quem vem trabalhar aqui na Bolt. Busco conhecimento em outras áreas, busco alguém que gosta de desafios, pessoas que tenham curiosidade, pessoas que saibam discutir sobre todo e qualquer assunto, que saiba ouvir, que saiba expor ideias e que saiba lidar com as pressões do dia a dia e que tenha capacidade de se adaptar mas principalmente pessoas CRIATIVAS. Tudo isso em geral se consegue com tempo de estrada, e é justamente o que não vejo na maioria dos candidatos. O título não é fundamental e nem é ele quem vai definir quem entra e quem fica de fora. Ele vai servir de base, mas é um conjunto de fatores que definem quem fica na vaga. ”

Até parece que combinaram as falas. Vejam o que a Juliana disse sobre isso:

“Uma outra coisa que me ocorre sempre quando o assunto é pós é a pressa das pessoas sair da graduação e cair matando em uma pós, sem nenhuma vivência de mercado, sem ter os problemas e questões que nascem da prática” … “nós, que já estamos há muito tempo na estrada e que começamos desde sempre pensando nas pessoas já temos isso muito internalizado. Muitas vezes, ao desenvolver um trabalho ainda me assusto com a ausência dessa perspectiva no raciocínio e na prática dos profissionais. ”

A falta de bagagem e vivência é uma coisa que certamente um curso não resolve.  Tem vaga sobrando, mas também tem gente ruim de serviço sobrando. Gastar dinheiro apenas cursando uma pós não resolve o problema de todo mundo. Na verdade, não resolve o problema de ninguém. Conheço gente que concluiu o doutorado trabalhando cibercultura com 28 anos e que não sabe nada de HTML ou que nunca conseguiu fechar (ou ao menos abrir) um arquivo . PSD.

O mercado está – e isso não é o Caio dizendo, volte e leia as falas dos profissionais e empreendedores que colaboraram com esta “mesa redonda virtual” – precisando de gente que coloca as mãos na massa e este tipo de profissional não se constrói num curso. Alguma coisa pode até vir de um curso, mas pensar é algo que não dá para se ensinar numa pós.

O que você sugere, Caio?
De forma bem direta, o que sugiro é que você comece a fazer. O que quer que seja. Dê início. Se você quer ser desenvolvedor front end, não hesite. Comece a quebrar a cabeça com HTML, JavaScript, CSS… Aprenda a trabalhar com ferramentas gráficas. Participe de comunidades online, fóruns de discussão. Faça experimentos. Coloque-os no ar e divulgue o que você está fazendo. Aos poucos, seu trabalho vai melhorar e com o feedback que você receberá da comunidade, você aprenderá muito.

Frequente associações de profissionais, como a IXDA por exemplo. Lá você poderá conhecer muita gente interessante que já trabalha na área ou que está na mesma situação que você. Não é possível que você não vá conhecer ao menos uma referência nova por este caminho.

Leia, leia e leia um pouco mais. Leia tudo sobre o assunto que te interessar. Não sabe ler em inglês? Então já sabe o que precisa fazer. Pare tudo e providencie sua capacitação em inglês, oras! Depois que você estiver com uma boa carga de leitura, faça novos experimentos, produza! Coloque seu conhecimento a prova fazendo coisas novas.

Se você acha que isso tudo acontece num curso, bem… acho que você está equivocado. Os ritmos das pessoas são diferentes e as aspirações bem como o conhecimento também são. Dessa forma, não dá para garantir que você conseguirá resolver seus problemas com uma pós.

E, como vocês puderam ler, os donos de agências e pessoas que contratam (o tal “mercado”) não está exigindo um título. As empresas querem pessoas que tenham repertório e maturidade.

Por fim, o que quero dizer é: não ache que uma pós (ou um curso qualquer) é a solução para os seus problemas. Eu posso fazer dez cursos de culinária e ainda assim continuar fazendo lambança na cozinha se eu não começar a levar a coisa a sério. Se eu quero comer uma omelete bem feita, a primeira coisa a fazer é quebrar os ovos.

No entanto, como bem lembrou o Herbert, o espaço para a leitura, a busca de referências e o contato pode muito bem ser o de um curso de pós. Sem dúvida alguma! O tempo destinado a um curso pode e deve ser aproveitado para que sejam feitos contatos, se descubra coisas novas e fazer muita experimentação. Mas estas coisas não acontecem apenas em cursos.

Por isso este projeto existe (existiu). De alguma forma, estamos lutando aqui para a formação de uma comunidade que discute e aprende design de Interação além dos muros das escolas. De uma maneira que não prenda a sua participação a um tempo específico (a duração de um curso). Se você quer participar, as portas estão abertas. Leia, discuta (comente), faça parte de nossa lista (Em breve retornarei com a lista de DI. Aguarde!!) para receber as novidades e interaja com a comunidade (ache a sua e participe dela ativamente!).

Quem sabe este não é o lugar que você vai encontrar um parceiro bacana para tocar um projeto legal que vai fazer toda a diferença na sua vida profissional? Já pensou que pode ser aqui que você vai ter a notícia de um livro ou uma metodologia que vai se encaixar com tudo o que você precisa? Tudo o que você tem a fazer é acompanhar e participar.

Comece comentando sobre este texto. O que você tem a dizer? Gostaria muito de saber. Você acha que é necessário fazer uma pós para ser um especialista em Design de Interação? Como dito, o espaço está aberto.

Você não é o curso que você faz

Eu me graduei em publicidade e propaganda. No entanto, nunca me senti um publicitário daqueles que se encaixam no estereótipo que você deve ter em sua mente.

Nunca trabalhei em agência, nunca fui um “criativo” (embora este fosse meu objetivo quando eu escolhi estudar comunicação, lá no final dos anos 1980). Desde o momento em que eu entrei para a universidade, já na metade dos anos 1990, atuei no limiar entre a comunicação e tecnologia. Na verdade, trabalhei com isso desde antes de começar o curso. Mas achava que seria apenas um “bico” que eu faria até me estabelecer no mercado de comunicação.

Enquanto fazia este “bico”, trabalhei com produção audiovisual (de longe, a coisa que eu mais odiei fazer em minha vida), passei por assessorias de comunicação e departamentos de marketing. Tudo isso enquanto eu ainda estava cursando comunicação.

Tentei, por várias vezes, fazer estágio em agências. Primeiro em agências de publicidade tradicionais. Tentei estágio com direção de arte, arte final e redação. Paulatinamente reprovado nas seleções, fui aprendendo que meu talento não era esse. Aí eu larguei a mão. Depois de trabalhar com marketing e gostar muito daquilo, resolvi dar uma chance ao meu bico (que àquela altura representava mais $$ no meu bolso do que o meu salário/bolsa de estágio). Novamente fui reprovado em seleções de agências web. Lembro-me de uma ocasião em que tentei um estágio na finada TN e, ao receber a resposta de que “eu não era um profissional TN”, desencanei. Insisti outra vez com produção audiovisual (só para me sentir mais infeliz ainda) e acabei voltando para o trabalho com marketing.

Ocasionalmente, o meu “bico” (que nunca deixou de ser algo presente na minha vida) virou meu ganha-pão principal. Finalmente eu estava trabalhando full time com web! Isso aconteceu na virada de 1999 para 2000. Eu havia acabado de me graduar e estava prestes a começar uma pós em comércio eletrônico. Nada mais apropriado, certo? Bem, e assim a coisa se desenrolou até chegar aos dias atuais.

O que passa desapercebido nessa história do início da minha trajetória profissional é que eu não aprendi nada de web na universidade. Muito menos de design centrado no usuário. Como foi então que eu vim a trabalhar com isso? Como foi que eu aprendi HTML, CSS e os meandros dos métodos e técnicas de DCU? Simples: eu li e fui experimentando. Quebrei muito (mas muito mesmo) a cabeça para aprender.

Lembro-me que éramos três os que trabalhavam com web em nossa turma na UFMG. Eu, Herbert Rafael (um dos donos da 3bits e – sem sombra de dúvidas – o melhor diretor de arte que eu conheci) e Carmem Borges (que hoje também é professora na PUC Minas). Houve outra ocasião marcante que o Herbert fez um mapa de imagens na munheca. Celebramos isso. Ver a coisa no ar era um prêmio para nosso esforço (eu e ele tínhamos um fanzine sobre música e fizemos uma edição eletrônica). Foi uma farra! E reforço: ninguém nos ensinou nadica de nada sobre web na universidade. A Carmem certa vez trouxe um xerox de um livro que ela havia arranjado sobre JavaScript e a gente quebrava a cabeça com aquilo. Sozinhos. Não havia sequer um professor com conhecimento específico algum para compartilhar com a gente. Uma vez, eu e a Carmem fizemos em dupla um trabalho versando sobre a internet. A professora nos disse que corrigiria apenas o texto e que a internet era coisa fantasiosa que a gente só via no Fantástico (sério, estas foram as palavras da professora).

O que quero dizer quando falo isso é: você não é o curso que você faz. Teve gente que se graduou comigo e que hoje faz outra coisa da vida; totalmente diferente de comunicação e ainda mais distante de web. Teve gente que não foi reprovada nenhuma vez (passava sempre com notas altas, diga-se) e, no entanto, é profissional de terceira categoria. Mesmo tendo estudado na tal UFMG. Novamente, você não é o curso que você faz. Eu fiz especialização em comércio eletrônico, mas o que me fez especialista de verdade foi trabalhar com sites de comércio eletrônico por uns bons anos da minha vida.

O que me fez especialista em marketing digital foi viver isso por outros tantos anos. Ou você acha que em 1997 algum professor de marketing que dava aulas na comunicação sabia o que era internet?

O que me fez professor de usabilidade foi o meu interesse pelo assunto e – de novo – quebrar muito a cabeça e ler incessantemente sobre a coisa desde a primeira vez que tive contato com o termo, em 1999. Foi a prática!

Então, me deixa muito chateado (pode brincar… #xatiado) ver na galera que estuda comunicação hoje em dia (na verdade esta galera sempre existiu, mas antes eu era colega deles. Hoje sou professor deles) esperar que a coisa vai ser toda ensinada completinha em pacotes  hermeticamente fechados pra ele nas disciplinas da universidade. Me deixa bastante frustrado ouvir que o aluno quer aprender Photoshop em sala de aula. Poxa. Pergunta pro Herbert se ele aprendeu a usar o Photoshop em alguma disciplina do curso de graduação que fizemos juntos?

Eu estudei fotografia na graduação. No entanto, minha esposa, que é advogada, tira fotos muito mais bacanas do que eu. O motivo? Ela gosta de tirar fotos. Ela se preocupa com luz, sombra e cores (sem ter feito uma aula sequer disso). Ela lê o manual da câmera. Ela busca informação na internet. Eu uso o autofoco e pronto. Estou satisfeito.

A galera que hoje tem 18-23 anos (em sua maioria) espera que o curso que escolheram para fazer dê a eles todas as respostas e todo o ferramental necessário para sua atuação profissional. Pra completar, esperam que os empresários ofereçam salários altos e contratem as pessoas apenas baseando-se em documentos do word que declaram que eles estão fazendo o curso X ou Y.

A coisa não é bem assim. Se a gente tiver sorte, muita sorte mesmo, o curso que a gente faz (estou falando aqui especialmente de comunicação e correlatos, ok?) vai dar pra gente apenas 10% do que a gente precisa. O resto é a gente que faz. Com muito esforço! Sabe o que vai fazer de você um bom programador front-end? Trabalhar com programação front-end! Se você não tiver um estágio ou outra oportunidade de fazer isso por dinheiro, faça porque é o que você quer fazer! E importante: não espere acertar da primeira vez. Espere acertar lá pela quadragésima vez, ok?

Tenha sempre em mente: você é apenas o que você é e o que você é é o resultado do que você faz de si. Assim sendo, faça algo de si. Não espere que os outros façam isso por você.

Abandonando a mediocridade

Este é o segundo de dois posts muito especiais resgatados dos arquivos do blog. Eles tratam do apagão de mão-de-obra qualificada no Brasil. Em especial no setor de comunicação e tecnologia. São 05 textos que consolidei em dois posts. Originalmente foram publicados em julho de 2010.

Abandonando a mediocridadeParte 01 – Produção Web

Aproveitando o momento de choque de realidade proporcionado pelo post sobre o apagão da mão-de-obra, imagino que seja interessante para muita gente saber como reverter a situação atual e deixar de ser um estudante ou profissional medíocre. Começarei pela Produção Web.

Então…  O Sérgio e o Dito deram algumas dicas nos comentários do post. Darei sequencia a elas e procurarei proporcionar algum tipo de auxílio a quem quer sair desta desconfortável posição.

Em primeiro lugar, é legal verificar se você faz parte do contingente de estudantes / profissionais medíocres. Para tanto, faça algumas ponderações:

  • Você já recebeu alguma negativa em um processo de seleção de alguma empresa sem motivo aparente ou com a justificativa de que sua qualificação ou conhecimento estão aquém do demandado para a vaga? Não vale aqueles casos em que você mandou um portfólio ou CV e a empresa nem respondeu. Existe muita empresa mal-educada que não dá retorno aos candidatos. Nestes casos, não necessariamente a questão é com o candidato…
  • Você acha que as exigências listadas nas vagas ofertadas são muito altas dentro da sua área de formação? Ex: Se você quer trabalhar com produção, acha que é muito abuso da empresa querer que você saiba PHP ou domine JavaScript?
  • Você desconhece mais do que 25% dos itens exigidos nas descrições das vagas para as quais você pensa em se candidatar ou se candidata? Ex: Você não sabe o que é JQuery, Tableless, APIs…

Se você respondeu “sim” a pelo menos uma dessas perguntas, uma mudança de atitude profissional é imperativa pois, necessariamente, você se encaixa naquela categoria de profissionais / estudantes e talvez seja esta a causa de sua posição atual.

Mas não tema… Há sempre o que fazer para mudar a sua situação. Abaixo, algumas coisas importantíssimas.

  1. Capacite-se em inglês. Faça urgentemente um curso e trate de dominar o idioma. Já disse um milhão de vezes e direi enquanto achar suficiente. Antes de sair fazendo cursos específicos ou pós-graduações, faça um curso de inglês. O conhecimento deste idioma será importante para você tirar melhor proveito de qualquer curso que quiser fazer.
  2. Busque conhecimento em fontes gratuitas online. O Dito mencionou o Lynda, mas tem também o php. net, o w3schools, o próprio w3c e o site do Maujor (para não dizer que não mencionei ninguém que propaga informação bacana para capacitação em português). Nestes sites há muito conteúdo bacana para você aprender muito sobre HTML, JavaScript, CSS e PHP (ferramentas muito importantes para quem quer trabalhar com Produção Web). Faça os tutoriais, tenha paciência e dedique-se… É compreendendo seus erros (mesmo os exercícios mais básicos reservam desafios) que você aprenderá de verdade.
  3. Compre um livro. Recomendo o do Maujor e o dos Deitel. São abrangentes o suficiente para ajudar quem já conhece um pouco e também quem não conhece nada. Adicionalmente, dê uma olhada nos títulos da editora Novatec (vale sempre explicar que eu não estou recomendando nada em troca de dinheiro ou de qualquer outra coisa). Eles têm bons títulos. Coma estes livros. Entenda o que está lá. Estude, leia e releia.
  4. Dedique-se e pratique! Exercite-se bastante. Construa os exemplos dos livros e depois faça os seus próprios… Coloque o que você fez no ar em um site seu. Apareça.
  5. Quando você começar a dominar o assunto, mostre o que você sabe. Discuta sobre o assunto num blog e mostre o que você sabe fazer em um site seu. Além de ajudar mais gente, você mostrará o quanto sabe e colocará a sua cara a tapa. Discuta suas ideias e mostre do que você é capaz.
  6. Como o Sérgio falou, pense diferente. Quando você começar a dominar algum assunto, pensar fora da caixa será natural. Exercite esta capacidade e mostre do que você é capaz. Pense em soluções alternativas e caminhos mais fáceis que coloquem em prática o que você aprendeu.
  7. Por último, volte a se candidatar as vagas que antes eram impossíveis para você. Aposto que os resultados começarão a ser diferentes.

É claro que esta é uma lista pequena e muito simplificada, mas é um ótimo começo. Tenho certeza que depois de chegar nas etapas 4 ou 5 você perceberá mudanças sensíveis em sua capacidade profissional e em sua postura.

Não tenha dúvidas de que você só terá a ganhar estudando, se capacitando, adotando uma postura humilde e pensando de forma diferenciada. Não há contra-indicações.

Bem, espero ter ajudado… Em breve, novas dicas para quem quer se aventurar em outras carreiras ligadas a comunicação e tecnologia.

Parte 02 – Design de Interfaces

Dando sequencia às reflexões sobre o apagão da mão-de-obra qualificada – especialmente no mercado de comunicação e tecnologia – aventuro-me neste post a falar sobre o design de interfaces.

É incrível perceber, gostaria de ressaltar antes de começar o post em si – como é comum vermos hoje em dia (em pleno ano de 2010) que tem gente que chama o designer de interfaces de webdesigner… Questãozinha que me dá até preguiça… Mas é legal deixar claro que não se trata da mesma coisa. O que se chamava no passado de webdesigner não existe mais hoje; era aquele profissional que, sozinho, dava conta de toda a produção de um site. Hoje, feitas as devidas adaptações, o webdesigner estaria mais para um gestor de projetos do que para um cara que desenha interfaces em si. Este cara, o que desenha as interfaces, e o seu trabalho são os pontos centrais de minha reflexão de hoje.

Falando sobre este trabalho, então, não é difícil percebermos que tem muita gente querendo trabalhar com isso. Entretanto, novamente temos aqueles grandes agrupamentos de categorias (ou capacidade / qualidade) dos profissionais…

  • Uma minoria ínfima tem talento e é capaz de propor algo novo e bacana.
  • Um grande contingente simplesmente replica o que vê e tem certo domínio da ferramenta para execução e, com isso, mantém-se no mercado sem muito destaque.
  • Um contingente ainda maior que o anterior é de gente ruim de serviço.

Como todo mundo quer sempre subir um degrau nesta escala de qualidade profissional, espero aqui ajudar com algumas dicas. De quebra, imagino que ajudarei algumas pessoas a abandonarem o estado de mediocridade profissional e garantir seu lugar ao sol. Obviamente seria um delírio achar que todo mundo deveria (ou conseguiria) se encaixar no estágio avançado de propor coisas novas e se dar bem com isso. Entretanto, é legal sabermos que às vezes a gente vai se encontrar quase lá. E comportar-se de acordo com isso é importante; especialmente para não levarmos grandes rasteiras da vida.

  1. Entenda que ser um bom designer de interfaces é algo que vai além do domínio de uma ferramenta ou outra. Você deve compreender o que é design, ter boas noções de composição, equilíbrio e de cores. A ferramenta em si é, como já disse, secundária. Saber o que deve ser feito é infinitas vezes mais importante do que saber o que cada botão faz num software. Cuidado para não entender errado… Não quero dizer que você não deve dominar as ferramentas, mas sim que apenas dominá-las não faz de você um bom designer de interfaces. Para entender isso, há algumas boas fontes, on e offline. Os livros do Modesto Farina, o do João Gomes Filho e também o do Felipe Memória podem ajudar bastante nisso. O do Felipe, inclusive, deve ser lido por quem quer trabalhar com planejamento e com experiência também. Mas disso falaremos num momento mais adiante. Dentre as referências online, a Communication Arts é uma excelente pedida. Confesso que tenho um pouco de preguiça daqueles sites que reúnem uma listagem de sites bonitos. Isso porque geralmente não se vê muita criação, mas sim replicação…
  2. Colecione boas referências. Navegue bastante, leia bastante, assista bastante, preste atenção e tudo o que você vê nas ruas e fora delas. O tempo todo. Tudo pode ser uma boa referência. Mas a coisa não para por aqui. Você deve aprender a tratar as referências como referências. Policie-se para não sair por aí replicando as coisas que vê. Este é um grande desafio.
  3. Compreenda que desenvolver interfaces demanda conhecimento daquilo que você vai fazer, mas também conhecimento do público que vai usar aquilo que você vai fazer e – obviamente – das inclinações estratégicas da entidade para a qual você vai fazer aquela interface. Procure, então, conhecer o usuário, suas características, costumes e demandas, bem como aquilo que os concorrentes da entidade que lhe contratou para desenvolver aquela interface fazem e quais são os objetivos desta entidade tanto no que se refere a esta interface em si quanto no que se refere as estratégias mais abrangentes da entidade.
  4. Tenha em mente que desenvolver interfaces é uma etapa num processo maior, que acontece depois que ensaios visuais foram feitos e que pesquisas foram conduzidas e antes que as soluções sejam efetivamente construídas. Levem em consideração, então, que você deve saber trabalhar em grupo, se envolver em etapas anteriores e envolver produtores e programadores que colocarão as mãos na massa em etapas posteriores. E que fique bem claro que todos estão trabalhando para atingir um objetivo comum. Este tipo de envolvimento é bacana pois reduz riscos de retrabalho, garante o alinhamento do projeto e minimiza as chances de algo dar errado. Se você é um bom profissional e se vê em uma empresa que não pratica estas boas práticas, tentar implementá-las é uma excelente demonstração de sua capacidade e potencial. Se você não é um bom profissional, nem perceberá que é uma falha quando isso não acontece. E se você é um profissional medíocre, vai reclamar quando alguém da produção ou do planejamento der algum pitaco que macule a sua obra de arte. Pense nisso.
  5. Desenvolva suas capacidades no uso das ferramentas. Esta dica é a última justamente pois penso que este domínio, embora seja uma maneira bem fácil e eficiente de as empresas filtrarem os bons profissionais, não deve ser o seu objetivo final de desenvolvimento profissional. Guarde isso: todo bom designer de interfaces domina as ferramentas. Mas nem todos os que dominam as ferramentas são bons designers de interfaces. Uma coisa que recomendo a todos é evitar cursos puramente voltados ao uso dos software. Normalmente estes cursos são pouco produtivos. Costumo recomendar cursos aplicados a objetivos ou procedimentos específicos e também a utilização forçada… Algo que mistura a busca por referências, o aprendizado online por meio de tutoriais e o desenvolvimento de capacidades a partir do exercício forçado. pegar uma composição bacana e se propor a replicar aquele efeito que você achou legal é um excelente exemplo disso. É o famoso “aprenda fazendo”… Costuma ser mais eficiente do que um curso para saber quais são os atalhos da ferramenta.

É claro que esta é uma lista bem curta. Se você procurar um bom designer de interfaces, como o Herbert Rafael ou o Daniel Negreiros, eles te falarão muitas outras coisas bastante eficientes e mais específicas. De qualquer forma, imagino que estas cinco dicas listadas acima podem te ajudar a sair de um estado de mediocridade profissional e colocá-lo no rumo de um futuro mais bacana.

Parte 03 – Atendimento e GP

Então você se encaixa numa categoria que quase se gaba poor não ter que dominar código, saber fazer layouts e ainda assim quer trabalhar no crescente e promissor mercado de comunicação e tecnologia. Good for you! Lembre-se, no entanto, que, embora bastante comum em empresas de comunicação offline, um atendimento em empresas de tecnologia e comunicação não tem o direito de ser acéfalo

Saiba que é muito fácil você acabar sendo demitido(a) ou nunca contratado(a) se achar que dá para permanecer sem saber como as coisas funcionam ou o que é possível fazer ou não em um projeto de comunicação e tecnologia. Claro que tem gente que vai achar que é muito mais fácil desempenhar este papel (o de atendimento) num mundo onde as tecnologias mudam com uma rapidez absurda e que os profissionais responsáveis pela execução dos projetos ralam como loucos. Entretanto, a verdade não é bem essa.

Um primeiro motivo para esta não ser uma verdade é que existem empresas que insistem em misturar o atendimento com o gestor de projetos (GP) e isso acaba por tornar a vida deste profissional um caos. Entendo que é muito complicado manter uma estrutura grande em vários casos, mas quando não é possível ter dois profissionais distintos para estas funções, deve existir uma contra-partida salarial e de carga de clientes. Então, a primeira coisa a fazer é saber dimensionar a capacidade de gerenciamento de contas que um profissional deve desempenhar na empresa. Esta quantidade não deve ser muito grande pois isso facilmente gerará decepção por parte dos clientes e isso nada é bom para os negócios.   Outra coisa importante que empresas costumam negligenciar é que este profissional – por ser muito exigido e desempenhar papel importante nos projetos – deve ser remunerado de forma adequada. Se a empresa quiser pagar pouco, terá sempre que se contentar com acéfalos. Aí, não há do que reclamar. Cada um cava sua cova.

Tratadas as questões estrutural e de condições de trabalho (que são de responsabilidade das empresas), vamos ao que é demandado deste profissional. Como já disse, muita gente acha que este é o trabalho mais “mamata” da empresa, mas não é por aí. Este profissional deve ter um bom conhecimento de tudo o que é possível ser feito, de todas as tecnologias e possibilidades de atuação existentes e ser um excelente comunicador e intermediador de relações. De nada vale um atendimento que funciona apenas como um leva-e-traz de demandas por parte do cliente e de respostas por parte da empresa. Este profissional deve ser capaz de – quando no cliente – saber responder o que a empresa dá conta de fazer, ter boa noção de prazos e capacidades e também ser capaz de frear as viagens do cliente, passando a ele um panorama real de tudo o que será feito. Do lado da empresa, ele deve ser capaz de representar o cliente ali, junto aos profissionais de planejamento e de produção. Ele deve conhecer o cliente muito bem para saber – antes de apresentar alguma proposta – se aquilo vai ser aprovado ou não tem chances. Sua importância é vital pois é ele quem representa a empresa junto ao cliente e também representa o cliente dentro da empresa. Viu só como este profissional é importante? Se for um acéfalo, a empresa estará dando um tiro no próprio pé!

Como se não bastassem as atribuições e características acima descritas, há empresas (e não são poucas) que ainda empilham nas costas destes profissionais a função de gerenciar projetos. Como disse, não acho que isso é legal, mas… Não sou eu quem regula o mercado. Assim sendo, vamos a algumas características imprescindíveis que um gestor de projetos deve ter. Além de ter as boas noções de prazos, capacidades, possibilidades e um bom conhecimento do orçamento e das diretrizes do projeto, este profissional deve ter uma excelente noção de tempo para bem planejar as atividades que serão desempenhadas. Ele deve ser o responsável pela montagem de um cronograma válido (Este papo de que “nenhum cronograma é respeitado” é coisa de gente ruim de serviço. Não é para me gabar, mas em meus cinco últimos trabalhos, me vi encurralado com um cronograma desumano, mas respeitei todos os prazos que me foram impostos e entreguei tudo o que me pediram nas datas combinadas. E olha que não eram trabalhos que dependiam apenas de mim…)  e de cuidar para que este cronograma seja cumprido. Ele deve saber alocar recursos e profissionais dentro da empresa e cobrar o que for necessário ser entregue pelo cliente.

Além disso tudo, este profissional tem papel fundamental no planejamento da solução. Sem que tem empresa que ainda empilha mais esta função ao profissional, mas aí é demais. Este tipo de coisas simplesmente não funciona e quem faz isso, em minha opinião, tem mais é que se dar mal mesmo. Empilhar três funções é forçar demais a barra. O ideal é que sejam três profissionais distintos (atendimento – GP e Planejamento). Empilhar duas funções (Combine o empilhamento como quiser) ainda vai. Mas três, é demais.

Donos de empresa e profissionais, lembrem-se de que a ganância é a ruína do homem. Se você quer ganhar mais e contratar menos gente, isso terá consequências. Se você quer ganhar mais e acumular funções, saiba que isso terá consequências…

Entretanto,  o profissional que gerencia os projetos deve ter um excelente trâmite tanto junto ao planejamento quanto com a direção de arte e a produção; sem mencionar o cliente.

Novamente pergunto, retoricamente: viu como este profissional não pode ser um acéfalo? Se você quer ser este profissional, saiba que ele ganha muito bem (ou pelo menos deve ganhar) e que o bônus não vem desacompanhado de ônus (normalmente é o cara que mais se estressa durante um projeto, e é o que menos pode demonstrar isso).

Para não ser um profissional medíocre, então, um resumo de qualidades a perseguir:

  1. Não seja um ignorante digital. Conheça tecnologias, possibilidades e capacidades. Entenda de conceitos novos e saiba que você sempre será demandado por parte do cliente para explicar o que deve ser feito e os motivos de tal coisa ser feita de um jeito ou de outro. Você deve ser capaz de prometer entregar algo que a sua produção consiga fazer.  Saber falar a língua do cliente e também a da produção é primordial. Os pré-requisitos não são poucos.
  2. Ter um excelente jogo de cintura. Você vai ter que lidar com prazos apertados vindos do cliente e muitas vezes empurrados para a produção. Você vai ter que agradar ambos. Boa capacidade de comunicação e ser uma pessoa que se relaciona facilmente com os outros são importantes para este profissional.
  3. Saber que você deverá ter conhecimento mais do que básico de planejamento, direção de arte, produção e – claro – gestão de projetos. Este conhecimento não é técnico necessariamente, mas sim do que consistem estas atividades. Você sera muito cobrado e cobrará muito. É preciso ter conhecimento para isso.
  4. Lembre-se: você representa o cliente na empresa e a empresa no cliente. Aprenda a agir profissionalmente e de maneira completa. Conheça bem o cliente e também a empresa.  Saiba gerenciar expectativas e cobranças.
  5. Por último, aprenda que é importante ser uma pessoa organizada é algo mais do que imprescindível para desempenhar estas funções. Se você perder o fio da meada, muita coisa ruim vai acontecer com seu projeto, seu cliente e, consequentemente, com seu emprego.

Bem, espero que estas dicas ajudem você profissional e também você que tem uma empresa; afinal, não é só responsabilidade do empregado responsável por estas funções fazer as coisas andarem.

Parte 04 – Planejamento

Post rapidinho para dar sequência aos apontamentos de soluções para o apagão da mão-de-obra qualificada.

Um profissional de planejamento medíocre que trabalha com comunicação e tecnologia é aquele que já tem o site / produto / ação completamente planejado enquanto o atendimento lhe repassa o briefing. É aquele profissional que acha que um microsite (uma aberração também chamada de hotsite) resolve qualquer problema de lançamento de produto e acredita no mantra de que o importante é “gerar buzz” (seja lá o que isso queira dizer). Ou seja: um profissional de planejamento medíocre é aquele que trabalha com soluções pré-fabricadas e não entende (ou acha que não precisa saber) as necessidades dos usuários e de seu cliente. Suas propostas não inovam e nem se modificam. E o mais grave: ele acha que sabe algo. E isso é muito perigoso!

Para ser bem direto, se você se enxergou em alguma(s) das afirmações sobre um profissional de planejamento medíocre apresentadas acima, eis algumas dicas para você:

  1. Seu trabalho não acontece dentro de quatro paredes.  Saia da sua sala e vá para a rua. Conheça o usuário que vai se beneficiar daquilo que você está fazendo (ou planejando). Conheça as reais necessidades do cliente que te contratou. Converse com ele. Procure entender o que deve ser bom para estes dois “stakeholders” em especial. Ganhar um prêmio de criatividade deve ser uma consequência e não um objetivo. Pense que seu objetivo é fazer algo que seja apropriado para as necessidades do usuário e que atinja os objetivos do cliente. Observe os concorrentes e aprenda a aproveitar o que há de melhor e evitar replicar o que há de ruim nestas iniciativas. Pesquise antes de começar a apontar soluções baseadas em sua “experiência”. Aprenda a ensaiar e a testar antes de apresentar uma solução final.
  2. Seu trabalho não é centrado em você.  Seu trabalho é centrado no usuário que vai se beneficiar daquilo que você está fazendo (planejando). Não ache que você conhece o usuário sem ter ido a campo e realmente observado, conversado e aprendido. Muitas vezes vemos soluções concebidas com base em pré-conceitos (no sentido restrito da expressão) e que não funcionam. Para evitar isso é legal ter sempre em mente que o profissional de planejamento é muito importante porque ele deve ser o profissional capaz de transformar esta massa bruta de informações em uma proposta de solução adequada, e não porque ele já conhece como o usuário pensa. Aliás, quando alguém falar isso, saiba que trata-se de principal cartão de visitas de um profissional de planejamento medíocre.
  3. Seu trabalho não consiste em reinventar a roda.  Isso não quer dizer que todas as soluções propostas por você devem ser iguais… Entenda: Você não tem que ser inventivo, você precisa ser atento e competente para planejar soluções adequadas para os usuários e – obviamente – que estejam dentro dos objetivos propostos pelo cliente que te contratou. Isso quer dizer que os trabalhos não têm que ser totalmente inéditos, eles têm que ser adequados. Esta adequação pode implicar em adaptar algo que já funciona hoje sem ter que reescrever tudo a partir do zero… Entendeu?
  4. Seu trabalho não depende apenas de você.  Você é parte de uma equipe. Se você planejar algo que não pode ser executado, seu trabalho não valeu muito. Se você planejar algo que está em desacordo com as diretrizes passadas a você, você não fez um bom serviço. Se você se fechar numa salinha e resolver tudo sem consultar o cliente, o atendimento, conversar com o designer de interface, o produtor e pesquisar com o usuário, você não terá feito um bom trabalho. Você não é obrigado a saber tudo. Por isso existe uma equipe. O profissional que acha que sabe tudo, não é um profissional, é um idiota. Você tem que se lembrar que seu trabalho tem um objetivo – apontado pelo cliente – e uma prioridade – atender as necessidades dos usuários. Ninguém consegue atingir um objetivo e atender uma prioridade tão amplos como estes sozinho.
  5. Seu trabalho não se resume ao que você tem que fazer.  Aprenda a perguntar. Profissionais de planejamento costumam se colocar numa posição de oráculo, dando mais respostas do que fazendo perguntas. Isso não deve existir. Você precisa conversar e tentar ir além, tendo em mente o objetivo e a prioridade que foram apresentadas acima. Fazer além é extrapolar aquelas linhas da OS dentro destes parâmetros. Não se trata de fazer o que não foi pedido, afinal, você não tem bola de cristal. Trata-se de resolver problemas de maneira eficiente pensando além (pode ser em termos de prazo, de alcance ou de escopo). Outra coisa importante, dentro desta premissa é entender que seu trabalho deve ser complementado com os expertises dos outros membros da equipe. O trabalho deve ser feito em conjunto, sempre!
  6. Seu trabalho demanda ficar atento e prestar atenção em tudo a sua volta. Planejar ações implica em saber caminhos que podem ser seguidos. Para saber qual caminho escolher, é preciso conhecer os caminhos e entender os destinos para os quais estes caminhos levam. Isso quer dizer que você deve experimentar as coisas, saber como elas funcionam e entender o que há por trás delas. Se você não tiver este conhecimento, fatalmente suas propostas de soluções serão ainda mais limitadas.

Update: São capacidades imprescindíveis para um profissional de planejamento:

  • Saiba trabalhar com métodos e técnicas de pesquisa
  • Saiba perguntar e retirar a essência nas respostas recebidas
  • Saiba se explicar por meio de textos e visualmente
  • Saiba trabalhar em equipe
  • Saiba conversar com usuários, cliente e equipe

O apagão da mão-de-obra qualificada

Este é o primeiro de dois posts muito especiais resgatados dos arquivos do blog. Eles tratam do apagão de mão-de-obra qualificada no Brasil. Em especial no setor de comunicação e tecnologia. São 05 textos que consolidei em dois posts. Originalmente foram publicados em julho de 2010.

Na semana passada estava conversando com o Fred e um dos assuntos foi: estamos vivendo um apagão de mão-de-obra qualificada.

Sem sombra de dúvidas, estamos sim vivendo este apagão. Um dos indicativos mais latentes desta falta de mão-de-obra é este próprio blog. Se não fosse pelo apagão, ele estaria às moscas, mas ultimamente tem virado um balcão de vagas disponibilizadas pelos colegas do mercado que sabem que eu tenho um público primordialmente formado por profissionais da área e futuros profissionais (meus alunos). Sei que tem gente que não gosta que o blog seja substituído por um balcão de vagas, mas é meio que incontrolável.

Como a coisa já se instalou, vamos às perguntas e ações práticas:

Onde se manifesta o apagão?O apagão é claro na área de tecnologia. Desenvolvedores de interface, gestores de projeto, designers de experiência e de interação, programadores, profissionais de planejamento e marketing eletrônico são os que mais estão fazendo falta por aí…

Muito embora seja fácil notar que há vários cursos de graduação e pós nessas áreas (ou que contemplem estas áreas) o pessoal se divide em três grupos básicos:

  1. os bons de serviço que já estão empregados ou trabalham como freelancers e que dão o preço de seus serviços (ou seja: escolhem salários) – Esta galera representa algo entre 01 e 05% do total.
  2. profissionais ou estudantes medianos, que dão conta do recado e, por isso mesmo, vivem pulando de emprego em emprego (se paga R$ 10,00 a mais no salário, o povo tá indo) – Este montante representa algo entre 45 e 50% do total da mão de obra ofertada.
  3. profissionais ou estudantes medíocres. Este grupo dispensa apresentação e representa os 50% restantes da mão de obra ofertada.

Qual é o tamanho do apagão?Pelas contas feitas a partir dos grupos acima listados, dá para perceber facilmente que o mercado está trabalhando com uma capacidade ociosa alta. Praticamente todo mundo está precisando de gente de qualidade para trabalhar e não está encontrando.

Deve ficar bem claro que a questão não é falta de gente. Gente tem de sobra. O problema é que não tem gente capaz. Ou seja: embora tenha muita gente desempregada, isso não indica que o mercado está saturado. Mas de jeito nenhum! O que acontece é que tem muita gente ruim de serviço e pouca gente realmente qualificada!  Por mais que isso possa te deixar com raiva de mim, lembre-se que não sou eu quem está falando, é o empregador… É o dono de agência, de produtora e de fábrica de software… Esse pessoal está arrancando os cabelos pois tem demanda de trabalho mas não consegue achar gente boa o suficiente para trabalhar.

Sou um empregador, o quê devo fazer?Em primeiro lugar, tentar se virar com o contingente de mão-de-obra que tem. Num segundo momento, vejo algumas atitudes que não podem ser ignoradas:

  1. Seja realista e evite buscar aquele funcionário canivete-suíço. Este cara não existe e, se existisse, não estaria disposto a receber o que você quer pagar.
  2. Aumente sua proposta de salário. Isso ajudará a fazer os bons profissionais considerarem ficar mais tempo com você.
  3. Crie um ambiente bacana para o funcionário se sentir estimulado a trabalhar em sua empresa.
  4. Seja honesto com seus clientes com relação a esta questão de mão-de-obra e ajuste seus contratos. Talvez você esteja cobrando pouco demais e isso causa um efeito cascata em sua estrutura.
  5. Procure treinar profissionais que já trabalham com você e também os novos funcionários. Custa caro e é arriscado, mas se você oferece um bom salário, um bom ambiente de trabalho e boas condições, os riscos são minimizados. Investir em treinamento pode ser uma boa saída para o apagão, mas não funciona isoladamente.

Sou um profissional (ou quase). O quê devo fazer para tirar proveito do apagão?Antes de mais nada, seja honesto consigo mesmo e verifique em qual das três categorias de profissionais / estudantes você se encaixa. Se você se encaixa no grupo 1, relaxe e aproveite. Se se enquadra no grupo 2, procure uma empresa para ficar mais tempo trabalhando e lembre-se que se você ficar pulando de galho em galho, não crescrerá em lugar algum. Tente “aquetar o faixo” um pouco para crescer numa empresa que seja bacana para você. O mercado de trabalho não é uma boite… Encare um emprego como um relacionamento que você tem que trabalhar em conjunto com seu empregador para que seja duradouro.

Se você se encaixa no terceiro grupo de profissionais / estudantes, há muito para fazer:

  1. Passe a levar as coisas mais a sério. O mercado de trabalho não é como a escola, onde se você fizer o mínimo necessário, se dá bem. Aqui ninguém quer saber se o seu colega de grupo “barrigou” o projeto inteiro e sua responsabilidade pelo fracasso deve ser minimizada em função disso. O pessoal quer resultados. Então acorde para a realidade!
  2. Capacite-se. A culpa não é da sua escola. Falo isso pois sei que escola nenhuma te capacitará por completo. Assim sendo, mexa-se e corra atrás! Pode fazer cursos o quanto quiser, mas se você não se comprometer de verdade, nunca sairá do lugar. Esta capacitação inicial é primordial para você se dar bem depois. Pense nisso.
  3. Depois da capacitação básica, vá além! Especialize-se em algo. Escolha uma coisa e corra atrás dela. Aprenda a avaliar as oportunidades que aparecem e veja de que tipo de profissional o mercado está precisando. Busque ser este profissional. Pode ser com cursos, pode ser de maneira autônoma. Em raríssimas situações uma certificação oficial lhe será exigida. Então, não é “fazendo um curso” que você vai se capacitar. Muito menos abandonando a escola de vez. O segredo é realmente cursar algo ou comprometer-se com algo (caso não exista algum curso ou algo semelhante).
  4. Estude um segundo idioma. A totalidade dos medíocres ignora o inglês ou chega até a se orgulhar de não saber inglês. Pois tenha noção que sem inglês você perde muito. Perde em material de treinamento que é disponibilizado online gratuitamente em inglês, perde em leitura de livros bacanas e material técnico que não é traduzido, perde em oportunidades de trabalho pois o mundo inteiro anda precisando de gente bacana.
  5. Pratique, pratique e pratique! Mesmo que você esteja desempregado ou nunca trabalhou, pratique e monte um portfólio de projetos e de tudo o mais que você sabe fazer. É errando que se aprende.
  6. Mostre-se! Crie uma presença online bacana o suficiente para que os empregadores saibam que você existe!
  7. Seja humilde. Entenda que dificilmente somos os melhores do mundo em alguma coisa. Assim sendo, aprenda a reconhecer a limitação de suas capacidades e seja honesto sobre elas.
  8. Reconheça seus erros e amadureça. Se alguém da empresa disser que algo que você fez não ficou legal, não leve para o lado pessoal. Reconheça, corrija e aprenda com seu erro. Fechar os olhos para isso é uma sentença de morte profissional.
  9. Saiba que você deve começar por baixo. Provavelmente o pessoal ainda não te conhece. Então, fica difícil você exigir o melhor cargo e o mais alto salário. Aprenda a trabalhar com o que lhe é oferecido e aproveite cada oportunidade para crescer.
  10. Tenha paciência e saiba a hora de pedir aumento ou aumentar o seu preço. Isso demora, mas não é inalcançável. Você vai ter que trabalhar por pouco dinheiro por muito tempo, mas isso vai compensar.

ConclusãoTem muita vaga sobrando. Tem muita gente medíocre sobrando. Enquanto você não fizer nada a respeito, a coisa vai continuar assim. Uma coisa que aprendi logo no começo da minha graduação – há quase quinze anos – foi que não existe falta de trabalho para quem é bom de serviço. Até o momento, não vi nenhum exemplo para suspeitar que isso não seja uma grande verdade. Outra verdade é a de que quem é realmente bom de serviço faz o seu salário. Novamente, nunca me deparei com nenhuma ocorrência que contrariasse isso. Ou seja: o apagão existe e é um buraco cheio de oportunidades para quem quer se dar bem. Vão se dar bem o profissional que souber aproveitar as oportunidades e os empregadores que os empregarem.

Especializar-se ou estudar inglês?

Hoje recebi uma mensagem muito bacana de um ex-aluno que se formou já há algum tempo e que estava na dúvida se cursava uma especialização na área em que trabalha (logística) ou se buscava capacitação em inglês.

Como imagino que esta seja a dúvida de muita gente, resolvi compartilhar aqui no blog o que respondi a ele:

Se eu estivesse em sua situação, colocaria as seguintes coisas na balança:

  1. Há quanto tempo eu me formei?
    (quanto mais tempo de formado, maior a necessidade de uma volta à escola para reciclagem)
  2. Estou trabalhando numa área que domino?
    (se sim, a necessidade de me especializar formalmente na área que domino será restrita ao título)
  3. Qual é a minha estabilidade em meu emprego?
    (maior estabilidade indica que posso buscar algo que expanda meus conhecimentos numa esfera mais ampla de minha carreira. Não necessariamente algo que vá me especializar em um assunto específico ou único; partindo, claro, do pressuposto de que eu estou trabalhando em algo que já domino)
  4. O que fará a maior diferença em minha carreira?
    (caso o setor em que você atua valorize mais a titulação de especialista, temos que considerar esta como a primeira opção. se o setor prioriza uma formação mais completa e demanda conhecimentos culturais que vão além do diploma de especialista, a escolha é outra)
  5. Esta especialização vai me demandar muito de leitura e material didático em inglês?
    (áreas ligadas a tecnologia têm esta peculiaridade; dessa forma, o inglês é um pré-requisito para uma boa especialização)

Então…  Colocando os itens na balança, você deve ter uma boa noção do que fazer. Lembre-se: faça algo quando estiver pronto para fazer bem feito. Compromisso, vontade de aprender e dedicação serão fundamentais tanto numa especialização quanto num curso de inglês. Do contrário, você estará jogando tempo e dinheiro na lata do lixo.

Pessoalmente, recomendo a todos que estudem inglês antes de se especializarem. Acredito muito (por causa da minha área de atuação)que você se capacita melhor na sua área quando expande seus limites de conhecimento. O idioma estrangeiro é excelente para expandir estes limites.

Enfim… não é uma escolha fácil. Mas colocando estes elementos numa balança, creio que a coisa fique menos complexa de decidir.

Boa sorte e sucesso em sua escolha!

Como disse antes, espero que esta mensagem ajude a quem quer que esteja com o mesmo “dilema” a fazer uma boa escolha.

Aprendendo a aprender

Volta e meia me vejo em conversas que têm como tema as relações entre alunos e as instituições de ensino. Sempre – nestas situações – me lembro de um post de 2003 do blog do Kottke que fala sobre o que precisamos entender para aprender. Ele cai como uma luva para explicar e dar suporte a  várias argumentações que construímos neste tipo de conversa. Entretanto, como ele não citava a fonte das informações em seu post, eu me sentia reticente ao me referir ao texto.

Só que hoje eu estou com tempo (super sarcasmo mode on) e resolvi traduzir a lista de ítens a considerar quando queremos aprender algo (minha tradução do título do post). Poque mesmo que não venha de uma fonte que eu consiga identificar, é um texto bacana e pode auxiliar muita gente.

O engraçado é que o Kottke postou a lista justamente por causa de uma situação específica em que ele e alguns colegas de trabalho (o texto é da época em que ele ainda não vivia de ser dono de blog) passaram. Ou seja: encaixa-se bem com as situações com as quais eu me deparo de quando em vez.

Sem mais delongas, então, a lista de coisas a considerar quando queremos aprender algo:

1. Release the need to be right. 1. Livre-se da necessidade de estar sempre certo.  Isso é bastante interessante. Nem eu estou ali por acaso (quero aprender) e nem a pessoa que foi colocada alí (ou que eu escolhi) para me ensinar sem que houvesse uma razão (normalmente baseada na competência) para tanto. Então, embora pareça óbvio, é sempre legal lembrarmos que para aprender, precisamos entender que não sabemos algo e que isso nos será ensinado ou nos ajudarão a descobrir. Assim sendo, é bem provável que – durante o processo – venhamos a cometer algum erro. Ou seja: não estamos sempre certos. Então, que nos livremos dessa necessidade, né?

2. Welcome one another’s thoughts and opinions. 2. Agradeça e esteja aberto a ouvir os pensamentos e opiniões dos outros.  Esta é bem legal. É bem freqüente alunos irem pra casa com dúvidas após uma aula. Isso é péssimo. Mas acontece porque muita gente recrimina o aluno que pergunta durante a aula. Que tal sermos mais tolerantes com isso? Outra situação bem freqüente é a de uma pessoa achar que está correta (não levando em conta o ítem anterior) e, por conseqüência, as outras – que por ventura tenham opiniões contrárias ou mesmo um pouco diferentes – estão erradas.

3. Suspend judgment. 3. Suspenda os julgamentos.  Para aprendermos, temos que estar abertos ao que nos é oferecido. Segurar um pouco nosso ímpeto de julgar (ou mesmo pré-julgar) as coisas que chegam pra gente.

4. Listen for understanding, not rebuttal. 4. Escute buscando o entendimento, e não apenas para construir contra-argumentações. Essa é também uma boa. E complementa os ítens anteriores. É muito comum as pessoas confundirem o desenvolvimento de senso ou olhar crítico com do desenvolvimento de um comportamento de criticar tudo o que lhe é apresentado. É sempre bom lembrar que são duas coisas bem diferentes.

5. Make personal statements by using “I” rather than “you”. 5. Faça suas considerações pessoais usando o “eu” ao invés do “você”.  Normalmente as pessoas quando adotam a postura de criticar tudo e todos, não fazem qualquer referência a si mesmos, sempre falando (provavelmente mal) dos outros. Para nos colocarmos em condições de aprender algo, devemos adotar esta postura. Isso evita que fiquemos falando das coisas dos outros e falemos mais de nós (as críticas tendem a diminuir).

6. Clarify first what was said before you challenge someone. 6. Torne claro o que foi dito anteriormente (por você ou por outros) antes de desafiar alguém numa argumentação.  Normalmente as argumentações e embates de idéias acontecem de forma bem calorosa quando há ataques.   E isso tudo se origina (em grande parte das vezes) porque alguma idéia não ficou clara. Tentemos então deixar as coisas bem claras antes de partirmos para o embate, que tal?

7. Take time to reflect. 7. Tire um tempo para refletir.  Isso serve para que tenhamos como “digerir” o que chegou até nós. Se não dermos tempo para fazer isso, as nossas conclusões podem não ser as mais legais. E em tempos de imediatismo exacerbado catalizado pela velocidade ta troca das informações, a gente tende a eliminar este tempo para refletir. Pior pra gente. Portanto, nunca é demais reforçar a máxima de pensar antes de falar e de agir.

8. Lean into discomfort. 8. Apóie-se (acostume-se a apoiar-se) no desconforto.  É das situações de desconforto que a gente consegue chegar às soluções mais geniais. Assim é no campo das idéias e da reflexão. Aprender é coloca-se no estado de desconforto, uma vez que você não sabe a coisa. A posição desconfortável de não saber ou não compreender algo é primordial para que possamos chegar ao ponto do entendimento compreendendo o processo de busca (o que é mais importante do que saber a coisa em si).

9. Respond first to what was said before making your point. 9. Responda primeiro à pergunta (ou afirmação) feita e depois exponha sua idéia.  Isso é bacana para que as coisas fiquem claras (6) e também para que a gente possa evitar falar dos outros (5) e atacar (4) os interlocutores.

10. Have fun. 10. Divirta-se.  Quando a gente aprende a aprender, o processo (que é o mais importante) deixa de ser tedioso e passa a ser divertido.

Então… Embora com cinco anos de diferença, é sempre legal agradecer ao Kottke por ter tornado a lista pública. E foi ótimo tirar da cabeça estas argumentações que fervilham aqui na cabeça desde 2003 quando tive contato com a lista.

Espero que ajude alguém a aprender melhor; respeitando colegas, instituições e professores.