Toda vez que vejo isso. . .

Toda vez que vejo uma ação de comunicação com o argumento de que tal empresa é “o Uber de XXX” ou “o Netflix de XXX” logo me lembro das sábias palavras da Lisa Simpson quando Marge fala da universidade McGill, num episódio da 22ª temporada:

Em outras palavras, o que a Lisa quer dizer (e que todo mundo deveria ouvir) é que “qualquer coisa que se denomina “o XXX do YYY” na verdade é o nada do nada”. Isso se aplica a muitos empreendimentos que apenas se espelham em outros. Não há identidade; capacidade distintiva. . . Enfim. Não há nada que os identifique, a não ser a sua semelhança (cópia) de uma outra coisa.

Ou seja: ainda há muito o que evoluir. . . 🙂

Intercom 2019 – Belém (PA)

No último dia 06/09 estive em Belém para apresentar um texto que está em desenvolvimento em meu grupo de pesquisa sobre a plataformização da nossa presença na Internet.

O título do texto é: “Precisamos conversar sobre o Facebook: Uma provocação sobre a plataformização das atividades sociais na Internet“. Ele faz parte de um conjunto de relatos de investigações que venho fazendo nos últimos anos.

A apresentação fez parte da programação do GP de Comunicação e Cultura Digital da Intercom. Durante o resto do evento participei de diversas sessões do GP e o aprendizado foi muito grande.

O texto, como dito, está em elaboração. A versão apresentada vai receber alguns aportes a partir dos ótimos inputs que recebi no evento e será publicado no e-book que o GP lançou este ano. Aguardem novidades nos próximos meses 🙂

 

Atrás do trilho, reside um velho milho

Outro dia um colega professor falou que escutar podcasts era uma tortura. Adorei.

Como você deve saber, ouvir podcasts pra mim é exatamente o contrário de uma tortura: é um enorme prazer. Aprendo muito. Este post, então, é apenas uma desculpa para recomendar a você dois podcasts bacanas. Tudo porque os seus episódios mais recentes falam sobre milho.

O primeiro deles é o 37 graus. Para mim, um dos melhores podcasts produzidos no Brasil na atualidade. Para contexto, recomendo o episódio Pipoca, Pamonha e Canjica. O episódio mostra muito da capacidade das apresentadoras/redatoras/produtoras de contar histórias. Fala, logicamente, sobre o milho.

O outro é o podcast do Duolingo em espanhol, que, em seu mais recente episódio, claro, fala também do milho. Adoro este podcast para aprender um pouco e minimizar os micos que pago quando me meto a falar espanhol.

Aproveito a desculpa dos podcasts para recomendar a você que escute uma música que gosto muito:

Algumas coisas que percebi durante o mês que usei o Nubank como meu principal cartão

Tenho o cartão de crédito do Nubank há alguns anos e priorizo o uso dele para fazer minhas compras pela internet. Ele se mostrou muito mais bacana do que o meu cartão anterior, do Santander. O que me fez priorizar o uso do Nubank para compras online foi o fato de repetidamente o Santander negar processar uma compra legítima que eu estava tentando fazer online e eu só conseguir fazer pelo Nubank. Você pode até argumentar que o Santander faz isso por segurança. Mas aí quando apareceu uma compra suspeita na minha fatura, novamente tive muito mais trabalho de cancelar e não ser cobrado indevidamente pelo Santander do que pelo Nubank.

Por isso (e claro, por uma série de outros motivos) o Nubank tem tomado de assalto (trocadilho infame) o mercado de serviços financeiros no país.

Recentemente foi habilitada pra mim a função de débito no Nubank. Achei interessante e resolvi passar um mês usando apenas o Nubank para débito e crédito. Foi julho. Assim que recebi meu salário, fiz um saque para garantir um $$ no bolso durante o mês (emergência, etc) e transferi todo o resto pra conta do Nubank; durante o mês usei apenas o cartão para débito e crédito.

A primeira coisa que senti foi um frio na barriga. Isso porque fiquei com medo de precisar fazer saques. Afinal, cada ida ao caixa 24h para tirar dinheiro de sua conta no Nubank vai te custar 7 dinheiros. Ou seja: se você vai tirar R$10, o que vai sair de sua conta são R$17. Assustador. Ainda bem não precisei fazer isso. Obviamente, como tenho conta no Santander, poderia tirar por lá. Isso me deixou mais tranquilo. Mas enfim.

Uma outra coisa que achei bacana foi usar apenas a aproximação do cartão para pagar coisas no débito. Achei muito legal e, ao mesmo tempo preocupante. Em alguns locais, apenas aproximando a compra já era processada. Em outros, além de aproximar, precisava digitar a senha. Em alguns, embora a maquininha tivesse o indicador de pagamento pro aproximação (algo que au acabei usando muito) os operadores nem sabiam do que se tratava. Fiquei um pouco preocupado com a questão da segurança. Qualquer pessoa com meu cartão poderia fazer comprar mesmo sem saber minha senha!!

Ao longo do mês tudo correu bem. Paguei todas as compras com o Nubank e foi uma experiência bem interessante. Já nos últimos dias de julho, ao fazer uma compra na loja do Leroy Merlin, o operador do caixa puxou papo quando fui pagar com débito Nubank e ele me deu uma dica. Ele disse que estava usando a conta do Nubank também, mas que fazia diferente. Ele passava todo o dinheiro para a sua conta do Nubank como eu. Mas ele não usava o débito. Apenas o crédito. De acordo com ele, o dinheiro ficava rendendo lá na conta e, quando chegava a fatura ele pagava com o dinheiro que estava lá. Ele disse que sempre dava para ganhar alguma graninha extra assim. Achei que o caixa da Leroy era realmente muito mais esperto financeiramente do que eu. A cada dia, um novo aprendizado 🙂

Enfim. O experimento foi legal para descobrir que eu realmente não preciso mesmo do Santander para viver. Embora a questão de pagar POR SAQUE seja bem ruim, tenho esperança de um dia isso se resolver e eu passar a usar apenas o Nubank.

Refletindo sobre abandonos de debates

Recentemente o cientista político Rudá Ricci abandonou um programa ao vivo na TV Horizonte. Assista abaixo o vídeo em que o Rudá abandona o debate.

O ocorrido me fez lembrar de outro acontecimento do passado recente: o abandono de um programa de Rádio pela Márcia Tiburi. Veja abaixo o vídeo deste episódio.

Entendo que os dois casos de abandono de debate tem motivação comum: a impossibilidade de discutir com pessoas que argumentam de uma maneira semelhante. Embora coincidentemente os dois debatedores que foram abandonados defendam uma mesma pauta, não é esse o ponto.

O ponto é a maneira com a qual estas pessoas defendem suas ideias, a postura agressiva com a qual se colocam, a forma como desqualificam qualquer ponto de vista diferente dos seus e a impossibilidade total de desenvolver uma conversa sensata desta maneira. Em outras instâncias também tive muita dificuldade de debater com quem se comporta desta forma.

Não tiro a razão dos dois que abandonaram os debates. Não tenho sangue frio, não sei se eu teria a mesma capacidade. Mas, enfim.

O que quero dizer é que achei uma pena que o Rudá usou de sua titulação para desqualificar o rapaz do PSL com quem debatia. Acho que não é esse o caminho. Não é a titulação de alguém que capacita a pessoa de trocar ideias. Conheço pessoas que não tem qualquer titulação e que são extremamente coerentes e interessantes de se conversar. Ao mesmo tempo, conheço doutores que são obtusos e não sabem conversar.

Acho que o que impede que exista uma conversa legal e produtiva nestes (e em vários outros) debates é que ninguém está aberto a ser convencido. Isso é uma coisa complicada. Participar de um debate não é tentar convencer o outro. É apresentar suas argumentações e, principalmente, estar aberto a ser convencido. Se não há a menor possibilidade de você ser convencido por seu interlocutor, melhor não debater mesmo.

Enfim. Queria apenas refletir sobre isso.

Muito chata esta “tara” por negócios que (apenas) dão lucro

Não que eu seja contra ganhar dinheiro, obviamente. O que me chateia é essa tendência a valorizar – por parte de quem reporta sobre tecnologia e, como consequência, por parte dos leitores dessas publicações e dos usuários em geral – apenas iniciativas tocadas por empresas que visam o lucro como soluções viáveis para os problemas das pessoas. O exemplo mais recente é o Parler (que foi reportado pelo Inside Social como sendo uma alternativa para o Twitter).

Por quê precisamos de uma alternativa ao Twitter?

A resposta é simples (mas não pequena). . . pelo motivo de aquele espaço ser um ambiente tóxico, repleto de contas falsas e discurso de ódio, onde as conversas não fluem como poderiam porque há manipulação algorítmica do alcance orgânico das postagens (em outras palavras: nem todos os seus seguidores visualizam tudo o que você publica lá é, obviamente, você não vê tudo o que as pessoas que você segue publicam. . . ) e, em breve, teremos os diálogos potencialmente manipulados com respostas escondidas, o que pode -potencialmente – polarizar ainda mais as posições. Mas enfim. . . por isso que eu acho que é importante que existam alternativas ao Twitter. O Parler é apenas a mais nova dentre as possibilidades controladas por empresas com fins lucrativas. Recentemente vimos o Gab (que, tal qual está sendo reportado sobre o Parler, foi tomado por supremacistas brancos e o pessoal “de bem” da extrema direita). Enfim. . . precisamos que o diálogo flua e que os ambientes sejam saudáveis. Por isso precisamos de alternativas ao Twitter. O que eu acho é que não necessariamente esta alternativa será proporcionada por uma empresa que vise o lucro. Ponho isso porque entendo que esta busca pelo faturamento acaba levando todo mundo a cometer os mesmos erros que as plataformas que hoje existem: por precisarem de $$, manipulam o feed e permitem a criação de contas falsas e robôs. Isso leva a saúde de uma plataforma ladeira abaixo.

A alternativa já existe

Então. Acho que já existe uma excelente alternativa ao Twitter. Ela se chama Mastodon. É open source e federada. Nela, não há manipulação algorítmica do feed e os diálogos podem fluir. A única coisa que me inquieta lá é que é possível criar contas falsas. Acho que o Mastodon é a alternativa perfeita ao Twitter. O fato de ser descentralizado é muito bacana. Podemos criar uma instância de Mastodon privada e nela só deixarmos se cadastrar pessoas que existem de verdade. . . ou então controlar o ambiente expulsando aqueles que tragam discurso de ódio ou mentiras. . . enfim. Eu acredito que é uma opção infinitamente melhor. Mas o pessoal gosta de reportar e valorizar casos de empreendedores que desenvolvem produtos que são voltados para seu enriquecimento. Uma pena. /rant

Tudo sobre tod@s

Já há algum tempo fiz a leitura do livro Tudo sobre tod@s, de autoria do prof. Sérgio Amadeu, como parte da preparação de uma conferência que acabei não proferindo (uma pena, aliás).

Recentemente recuperei esta leitura porque estou transformando o material que usaria na conferência em um artigo. Nesse sentido, decidi falar um pouco do livro aqui, como parte do processo de recuperação do assunto e, claro, para compartilhar e indicar a leitura.

Antes de qualquer coisa, devo dizer que o livro tem leitura bastante recomendada. O texto do professor Amadeu é bastante interessante. Elucidativo sobre as ameaças dos dispositivos que carregamos em nossos bolsos especialmente no que diz respeito às capacidades de -por meio deles- empresas descobrirem cada vez mais sobre nós e nossos hábitos.  

Há muitas reflexões bacanas sobre privacidade e o autor nos apresenta o tempo todo aos argumentos e contra-argumentos que envolvem a privacidade e propriedade dos dados. Penso tratar de uma boa referência sobre o tema escrita por um autor brasileiro.

Entretanto há que se considerar que, embora o texto apresente excelentes argumentos muito bem embasados e ótimas recomendações e referências, em outros momentos a redação informal e quase condescendente incomoda um pouco.

Outra coisa que me chamou a atenção – desta vez de maneira bastante positiva – foi a busca por referencial da área de gestão. Isso é bastante legal por parte do autor. Apesar disso, me surpreendeu que, mesmo com esta busca, o texto trate de criação de necessidades; algo que é bastante controverso. Mais fácil talvez seja formos em criação de desejos a partir de descobertas de tendências e culturas por meio de dispositivos de vigilância como os smartphones. Além disso a ideia de que as bolhas formadas em função da atuação de algoritmos nas plataformas seja algo pensado não me parece encontrar pleno respaldo.

De qualquer forma, acho que é um texto muito importante e necessário. Creio que será encarado como uma leitura básica e imprescindível sobre o assunto.

Retomando este espaço

Iniciando o ano e também retomando um antigo hábito: o de escrever mais aqui. Isso vai mudar. Por 3 motivos bem simples:

1 – Precisamos reocupar nossos sites pessoais e deixar as plataformas mediadas por algoritmos.
Estamos abandonando espaços válidos de presença online (sites pessoais e blogs) e adotando plataformas outras (Facebook, Twitter, Instagram, Medium) que não nos pertencem e que não permitem que nosso conteúdo chegue à totalidade de nossa audiência.

2 – As plataformas sociais fazem mais mal do que bem.
Esta pode ser novidade para você, mas é a minha mais recente motivação. E está baseada não só em meus achados de investigações sobre plataformas sociais. Some a esses achados de minha autoria os escritos por Jaron Lanier e Cal Newport. Ambos, em seus livros demonstram que as plataformas sociais fazem mais mal do que bem para a gente. O primeiro está preocupado na questão social enquanto o segundo, na produtividade.

3 – É divertido!
Escrever no meu próprio site e interagir com as pessoas aqui (por meio dos comentários e e-mail) é muito mais legal do que aquela chatice das plataformas. Aqui a coisa é mais legal (eu controlo o visual do que eu publico) e íntima.

Espero apenas manter o ritmo!

Não deixe decisões editoriais nas mãos de plataformas

Durante esta primeira semana de Setembro estive em Joinville para participar do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom. Lá, um dos assuntos discutidos no GT de Comunicação Digital foi o de que veículos de comunicação acabam por buscar soluções prontas (plataformas sociais como o Facebook) para distribuir seu conteúdo.

O professor Andre Pase lembrou também, em uma discussão bem interessante, que até adotar plataformas outras (como Disqus ou o próprio Facebook) para comentários em seus sites representa esta ação de buscar uma solução pronta para tratar seu conteúdo. Esta solução pode parecer sedutora. Afinal são 2 bilhões de pessoas conectadas ao Facebook. Só que apenas uma parte bem pequena delas curte sua fan page e uma fração menor ainda efetivamente vê o que você posta.

Para piorar, as coisas que você posta em sua fan page podem ser apagadas pelo próprio Facebook quando ele (por meio de seus algoritmos) julga que aquele conteúdo não é apropriado.

Este exemplo relatado pelo Nieman Lab mostra exatamente isso.

Está passando da hora de percebermos (todos nós) que a web é, em sua essência, social. Não precisamos destas plataformas proprietárias e voltadas exclusivamente para uma operação lucrativa para atuarmos em rede, num contexto social.

Más decisões de design impactam o faturamento

Ou: Como uma série de problemas de design impediram-me de fazer uma surpresa para minha mãe

Nesta semana estive na casa da minha mãe numa rápida visita na terça de tarde. Chegando lá, vi que havia inaugurado uma filial da Domino’s no bairro dela. Havia um folheto da filial na caixa de correio (a mídia offline ainda funciona, claro! 🙂 ). No folheto, um alerta para a promoção de “leve 2 e pague 1” na terça. Resolvi surpreender minha mãe e fazer um pedido de pizza para ela mais tarde.

Tentei pelo telefone. Infelizmente, a atendente da loja não entendeu que eu queria pagar as pizzas antecipadamente. De verdade. Eles não conseguiram me cobrar pelo telefone. O pagamento deveria ser feito na entrega. Somente na entrega. Ah, e outra coisa: Eu estava ligando por volta das 17:30. Não poderia deixar uma entrega agendada. Se eu liguei naquela hora, o pedido teria que sair da loja assim que ficasse pronto. Eles não podiam (ou não conseguiram) fazer o pedido naquela hora e preparar a pizza e entregar mais tarde. De fato, muitas informações, né?

Então. Fazer minha mãe pagar pela pizza na entrega seria um presente de grego e isso eu não queria.

Tentei de outra forma. Pus-me a instalar o app da Domino’s no meu celular. Te dizer que foi uma luta. O design da interação do aplicativo é muito fraco. Saltar de campos no formulário de cadastro é um suplício! Além disso, as minhas ações de toque no app ficavam sem resposta. Eu tocava nos botões e não tinha qualquer tipo de feedback. Um exemplo: no primeiro uso do app, somos incentivados a cadastrar endereços para entrega. Eu preenchia os dados e tocava em “cadastrar”. Como não tinha resposta, toquei repetidas vezes. Depois de desistir, fui ver meus dados e um mesmo endereço havia sido criado repetidas vezes.

Outro problema do aplicativo da Domino’s foi o pagamento. Fiz o processo de cadastro à duras penas e, depois, procedi com o pedido. Ao fazê-lo, fui levado a crer (com um botão para escolher a forma de pagamento) que poderia pagar pelo app. Ledo engano. O pedido é fechado sem que conseguisse fazer o pagamento pelo app.

Depois de incorrer neste erro, liguei para a loja para pedirem que incluíssem o pagamento no pedido. Assim, minha mãe não seria cobrada quando as pizzas chegarem em sua casa. Novamente, não foi possível. Tiveram que cancelar o pedido na loja.

Voltei ao app e cadastrei um cartão de crédito em minha conta. Refiz o processo. Sem sucesso. Na segunda vez que tive que ligar para a loja para cancelar o pedido e evitar que minha mãe fosse cobrada, a atendente disse: “por que você não faz o pedido pelo ifood?”

Pois é. A funcionária de uma marca pedindo para que eu não use o app desta marca, mas sim o app de outra empresa. Tudo isso porque, em algum momento, péssimas decisões de design foram tomadas.