Em 2017 eu fui apresentado ao Mastodon. Como a maior parte das pessoas, a primeira impressão que eu tive (e, francamente, praticamente todo mundo fala assim) era a de que o Mastodon seria “apenas” uma alternativa ao Twitter. Ainda mais depois das pataquadas proporcionadas pelo recordista mundial Elon Musk com o Twitter, o Mastodon vem ganhando muitos usuários nos últimos meses e, praticamente todo mundo, pensa que ele é apenas um clone do Twitter. É normal pensar isso… A limitação de caracteres e até a forma que a interface padrão se apresenta, nos fazem pensar ser este realmente o caso.
Só que a coisa não é bem assim. E, ainda bem, não precisei de 5 anos para aprender isso. O Mastodon é algo completamente diferente do Twitter (francamente, bem melhor também); bem fácil e divertido de usar.
Para começar, uma coinsideração importante. O Mastodon faz parte do Fediverso, uma verdadeira constelação de serviços que funcionam em cima de um protocolo chamado ActivityPub, criado pelo W3C e que permite que conteúdo em diferentes formatos seja distribuído pela internet.
O Mastodon é um destes serviços, mas não é o único. Existem serviços de mídia social que funcionam em cima do ActivityPub dedicados a imagens e vídeos, por exemplo. O Mastodon é apenas um deles, que permite atualizações em formato de texto e postagem de diferentes formatos de mídia.
Pois bem, Este é o básico da coisa relacionada ao ActivityPub. Se quiser saber mais sobre o ActivityPub, pode seguir este link.
Para entender e usar o Mastodon, no entanto, você não precisa saber isso a fundo. Basta entender que, sendo construído tendo como base este protocolo (ActivityPub), o Mastodon é uma plataforma de mídia social federada e aberta. Por federada, entenda que cada um pode criar uma instância (ou servidor) e ligar este servidor à federação, fazendo com que o conteúdo dos demais servidores federados seja acessado por quem estiver em sua instância e vice-versa (o conteúdo postado em sua instância será visualizado / acessado por quem estiver vinculado às outras instâncias federadas).
Isso proporciona um cenário bem interessante. Cada administrador de instância pode definir regras próprias e também é responsável pela gestão de usuários e, claro, pelo funcionamento deste pedacinho da rede. E como a rede é federada, os servidores se comunicam entre si e todo mundo pode ver o que é postado em outros servidores e interagir com outros usuários.
Funciona mais ou menos como o e-mail. O meu servidor de e-mail (caiocgo.net) tem regras específicas de tamanho de anexos e espaço de armazenamento para mensagens. Estas regras podem ser diferentes das do Gmail, do iCloud, do UOL ou do Yahoo. No entanto, pessoas que tenham e-mail criado em cada um destes serviços podem mandar mensagens para pessoas nos outros servidores sem problemas. Fazemos isso há anos, certo? No Mastodon é a mesma coisa. Cada servidor tem algumas particularidades mas, desde que vinculados à federação, os usuários podem interagir livremente.
Pois bem, os diferentes servidores / instâncias do Mastodon podem permitir – por exemplo – o ingresso apenas de um tipo de usuário (pense em uma instância de uma Universidade, que pode permitir cadastro apenas de membros da comunidade acadêmica), estabelecer regras de postagem e conduta próprias, definir limites de caracteres, permitir ou proibir tipos específicos de mídia e por aí vai. Isso pode ser bacana porque há a possibilidade de você restringir a visualização ou resposta a determinados posts apenas para membros da instância (ou para seus seguidores)… De qualquer forma, uma coisa é importante reforçar: os membros de uma instância com ingresso restrito (como no exemplo que dei, de uma Universidade) poderão seguir e ser seguidos por todos do fediverso (como é chamado este grande ambiente de servidores participantes da federação) normalmente.
Muitas pessoas colocam esta questão das instâncias como um elemento complicador do Mastodon. No entanto, explicando dessa forma, a coisa fica bem simples, né? A gente escolhe um servidor para se vincular a partir de quesitos que podem ser nossos (fazer parte de uma comunidade, por exemplo, ou ter interesse em conhecer pessoas de um determinado grupo) ou mesmo por quesitos que sejam particulares da instância (escolher participar de uma instância que tenha um limite maior de caracteres nas postagens, por exemplo ou mesmo ser empregado de uma empresa que criou uma instância) e manda brasa na interação.
Uma coisa que falei acima é relevante explorar mais: conhecer pessoas de um servidor / instância. Isso porque no Mastodon as postagens são visualizadas em três possíveis timelines mínimas (falo “mínimas” porque você pode escolher seguir hashtags e ter ainda mais timelines). Estas três são: A sua timeline (chamada HOME) em que aparecem as postagens de todas as pessoas que você segue. A segunda timeline é a do servidor (chamada LOCAL), onde você pode ver todas as postagens marcadas como públicas de pessoas da sua instância. A terceira é bem ampla (chamada FEDERADA) e mostra todas as postagens marcadas como públicas de todas as pessoas vinculadas aos servidores que estão conectados ao seu. Isso quer dizer que estas três timelines tendem a ser bem movimentadas, de forma crescente, percebe?
Ah, e já que estou explicando isso, vale aprofundar em um tema que toquei acima: as postagens marcadas como públicas. Isso porque no Mastodon, você pode marcar as postagens como restritas. Daí apenas quem te segue vai ver a postagem. Assim você não terá suas postagens selecionadas visualizadas nas timelines LOCAL e FEDERADA de ninguém. A não ser que você sinalize. Tudo isso é configurável para as pessoas, o que dá uma liberdade enorme ao usuário do Mastodon. Além de poder marcar as postagens como públicas ou privadas, você pode estabelecer o idioma da postagem (porque, de igual maneira, você pode escolher visualizar apenas postagens de um idioma especificado) ou mesmo trancar seu perfil, para que apenas quem você aprove possa te seguir. Ou seja: o usuário tem controle de muita coisa no Mastodon.
Entendendo estes pontos básicos, dá para ver que é uma plataforma de mídia social com bastante versatilidade e potencial, não é?
Ficou com vontade de usar o Mastodon? A primeira coisa a fazer é criar a sua conta. A melhor forma de fazer isso é acessando joinmastodon.org onde você poderá fazer uma filtragem de servidores e encontrar o seu servidor preferido. Não se preocupe pois esta escolha não é definitiva. Você poderá migrar depois. Eu mesmo já migrei quatro vezes (comecei em 2017 no mastodon.cloud, depois migrei pro mastodon.online, em seguida fui pra ursal.zone, depois pra social.vivaldi.net e agora estou no mastodon.social). Quando você migra de servidor, você leva sua lista de seguidores e a lista de perfis que você segue. Apenas os posts não são migrados também. É tudo muito simples.
Pois bem. Escolhido o servidor, basta fazer o seu cadastro. Recomendo enfaticamente que este processo seja feito pelo navegador em um computador. Depois de criada a conta, você pode acessar o seu servidor pelo navegador e também usar um dos vários clientes de mastodon disponíveis. Há clientes para todas as plataformas e com funcionalidades / visuais distintos. Os clientes nativos (oficiais) para Android e iOS são bem bacanas. No iOS eu uso Mona. Mas já usei muito o Metatext, que acho bem bacana (o Metatext permite editar postagens depois de publicadas, o que eu acho muito legal, visto que vivo cometendo erros de digitação) e tem também o Woolly e o IceCubes, que são excelentes aplicativos.
Usar o mastodon no smartphone é mais fácil. Os aplicativos fazem o processo de seguir e interagir com pessoas de outros servidores ser bem fácil. No desktop você pode interagir com as pessoas livremente também, mas de vez em quando seguir um perfil pode demandar copiar um URL e colar na barra de busca para poder seguir. Um passo a mais mas que não mata ninguém. A gente se acostuma. Como se não bastasse, você pode escolher também, no navegador, usar a interface básica ou avançada. Muitas pessoas recomendam a interface avançada porque fica parecendo com a interface de alguns clientes de Twitter que as pessoas usavam (TweetDeck).
Como o Mastodon é aberto, há também formas alternativas de acessar via navegador. O Elk (elk.zone) e o Pinafore (pinafore.social) são duas destas formas. Estas iniciativas permitem que você use o mastodon com uma interface diferenciada. Eu gosto muito do Pinafore e, quando estou no computador, acesso por ele.
Veja, abaixo, algumas possibilidades de interface citadas:
Voltando ao uso, o Mastodon é bastante inclusivo. Toda imagem que você postar, você pode colocar um texto de descrição. Os administradores de instâncias enfatizam que isso é muito importante e recomendam que todos coloquem as descrições das imagens. Isso acaba ajudando muito. Além disso, cabe ao autor do post indicar que um conteúdo é sensível e, assim, os leitores são avisados. Você pode fazer isso com postagens de texto e também com postagens de imagens. Olha que bacana! Claro, nos aplicativos (e também na interface web) você pode configurar para marcar tudo como sensível ou então visualizar todo conteúdo sem precisar dar mais um clique.
Sobre a dinâmica da plataforma, entenda que uma coisa é muito legal: o Mastodon não tem interferência no sortimento e ordenação das postagens por meio de algoritmos. Isso faz da plataforma um ambiente muito bacana para interação. Você verá tudo o que os perfis que você segue postam e vice-versa. Todas as suas postagens públicas serão visualizadas por todos que te seguem. Além disso há os boosts, que são os impulsionamentos. Você pode replicar uma postagem de alguém para os seus seguidores. Isso é bem legal para fazer uma mensagem chegar a um público maior. Tem também, claro, os comentários, que permitem que você interaja com os autores dos posts e com quem por ventura já tenha comentado lá. Por fim, há os favoritos, que, embora não amplifiquem uma mensagem, sinalizam ao autor que você gostou daquilo.
Evidentemente você pode usar as respostas às postagens para construir threads (fios), da mesma forma que no Twitter. De igual maneira há também as mensagens diretas (DMs, que podem ser individualizadas ou em grupo). Sobre as mensagens, uma coisa importante: elas não são criptografias e o adm da instância poderá acessar. Então, vale a recomendação de jamais colocar informação sensível em uma DM (mas isso vale para qualquer plataforma).
Pois bem. Acho que isso é bem o básico, né? O lance agora é criar a conta e começar a interagir. Há serviços legais como o movetodon (www.movetodon.org) em que você pode ver quais pessoas que segue no Twitter já estão no Mastodon e segui-las por lá também. A migração fica bem simples e fácil.
Há outros textos e guias bem bacanas para ajudar a usar o Mastodon. Este – em vídeo – do Manual do Usuário é muito bom. Também tem um guia da URSAL bem legal. Vale a leitura! Ah, e se pensar em algo para complementar, pode usar os comentários a esta postagem.