A questão da extrema informalidade dos profissionais de Publicidade

Então. (ultimamente tenho começado muitas frases e até e-mails assim…)

Há um bom tempo tenho falado (às vezes sozinho, outras, acompanhado) que falta profissionalismo na publicidade. No digital, nem se fala. Mas, mesmo já abordando este tema há tempos, a questão persiste. Em sala de aula isso me afeta e incomoda quando alunos (publicitários em formação) deixam trabalhos para serem feitos na última hora, pedem adiamento de prazos e acabam entregando produtos que poderiam ter ficado muito mais bacanas se alguns cuidados básicos tivessem sido tomados. Profissionalmente vemos jobs sendo perdidos, pagamento abaixo do mercado e vários outros comportamentos que afetam negativamente a imagem dos publicitários…

Peraí, Caio. Você também já foi aluno! Pega leve…

Pois é. E também já procrastinei muito e entreguei muita coisa abaixo da crítica. Mas aprendi que se eu quisesse ser levado a sério, precisava me levar mais a sério. E é esse excesso de pedidos para “pegar leve” que configura um dos sintomas que quero tratar. Pode parecer papo de velho (e é), mas encarar-se com mais seriedade e também as nossas atividades com mais seriedade pode fazer toda diferença. Eu acho que o ambiente da universidade é um bom lugar para tentar corrigir este comportamento. Especialmente porque é, justamente depois que se forma, que o profissional começa a adotar algumas práticas que podem ser muito ruins para ele na sua atuação profissional.

Vamos começar com a questão da disciplina para executar trabalhos

Então. Como eu falei acima, é muito comum que os alunos entreguem trabalhos feitos na última hora. Costumo brincar que, se o trabalho é para ser entregue às 23:59, o aluno começa a fazer às 23:30. Isso depois de ter tentado um e-mail pedindo mudança de prazo às 23:15 e não ter obtido resposta até as 23:29. Brincadeiras à parte, a questão é que se entrega, normalmente, um texto ou uma peça que foi a primeira coisa que se conseguiu fazer. Ou seja: faz-se uma versão e boas. Está entendido que está pronto para entregar. Só que não é bem assim. Normalmente a primeira versão de uma coisa contém vários erros e está longe de ser a melhor versão daquilo. Escrever um texto ou conceber uma peça é uma atividade que demanda o exercício da criação. E este exercício não se dá num único sprint.  A atividade de fazer, dar um tempo, olhar outras coisas e retomar a atividade faz com que a gente tenha uma outra visão sobre aquilo que fez. Além disso, proporciona um distanciamento que nos ajuda a encontrar erros.

Pois bem, mas como fazer isso, Caio?

A primeira coisa é não deixar para fazer na última hora. Comece a fazer a tarefa (pode ser a criação de um layout, a redação de um texto, enfim… qualquer coisa) com antecedência. Pense e planeje-se de forma a poder trabalhar por mais tempo naquela tarefa. Vai por mim. Se você começar a fazer qualquer atividade no momento em que ela foi designada a você, dificilmente você precisará ficar atravessando madrugadas fazendo algo perto do fim do prazo. E atravessar madrugadas é algo que muitos profissionais da publicidade se vangloriam de ter que fazer. E eu tenho verdadeira raiva deste comportamento. Ninguém precisa trabalhar até de madrugada se planejar bem aquilo que tem para fazer. Me dá especial raiva porque eu já deixei isso me atrapalhar muito. Se você planeja bem a execução de um trabalho, menos horas extras serão necessárias e menos madrugadas serão comprometidas. Além disso, você terá tempo para rever o que fez e melhorar os produtos que está criando. E isso vai ser muito bom para a qualidade final daquilo que estiver fazendo.

Outra coisa: dê-se o valor

É muito comum esse lance de fazermos as coisas de última hora, porque não nos deram prazos bacanas para executar a tarefa. Quando for este o caso, um sinal de que você está dando valor a si mesmo é não aceitar fazer naquele prazo tão pequeno. É comum os profissionais aceitarem fazer isso porque não querem “perder o cliente”. Só que, ao fazer algo com tão pouco prazo, a qualidade final vai ser péssima e você vai perder o cliente da mesma forma, só que, desta vez, porque o trabalho ficou ruim. E aí, a culpa não vai ser do prazo (afinal, você aceitou fazer), sacou? A culpa vai ser sua.

Aceitar fazer uma coisa num prazo desumano é não se dar o valor. É não se respeitar. Outra coisa que entra no montante da falta de respeito é aceitar fazer reuniões fora do expediente (porque esta é a hora que o cliente pode te receber). Uma coisa que eu aprendi num dos melhores lugares que trabalhei foi: se o cliente não quer te receber durante o expediente, é porque ele não acha que comunicação é uma coisa importante pra ele. Esse já é um sinal de que ele não vai te respeitar e nem respeitar o seu trabalho. Faz parte deste bolo do respeito a si mesmo e ao seu trabalho também parar de participar de “concorrências”.

Na comunicação isso é muito comum. E é péssimo para os profissionais. Empresas chamam três ou cinco profissionais ou agências e pedem que executem algo para, só depois, escolher o que acharam melhor. Estas “concorrências” (as aspas servem para indicar que são falsas concorrências, sem critérios claros e nem sombra do que lembraria um edital) são muito ruins para o negócio da comunicação, porque acabamos trabalhando de graça (outro sinal claro de que não nos damos valor como profissionais é quando nos deixamos ser enganados assim).

Não há problema nenhum em trabalhar de graça, desde que seja por vontade própria (por exemplo, se você quer fazer a comunicação de uma ONG sem cobrar nada). O que é péssimo é a agência ou profissional se deixar levar fazendo isso corriqueiramente.

Pense como seria isso em outras profissões. Você, por acaso, vai ao dentista e, na consulta, fala que também vai a outros dois profissionais e, só vai pagar pelo serviço de quem “achar que é o melhor profissional”? Claro que não, né? O dentista não oferece consulta gratuita e muito menos o médico. O arquiteto não faz projeto “no risco” e o engenheiro também não. Mas porque os publicitários fazem coisas assim? Eu arrisco dizer que é porque eles não se levam a sério e não se dão o valor.

Por fim, um último comportamento que me dá nos nervos e que é um sintoma desta desvalorização é o fato de apresentar três versões de uma peça pro cliente escolher. Acho isso o fim da picada. Nada errado em fazer três versões e até levar para a apresentação para ter algo na manga caso a apresentação daquela peça que você achou a mais apropriada, der errado. Mas já mostrar de cara três versões (de uma marca, por exemplo) para o cliente escolher é, pra mim, um atestado de incompetência.

É algo como dizer “toma, olha essas três opções e me diga qual a que mais gostou, porque nem pra isso eu sirvo”. Para me ajudar a explicar, novamente faço comparação com o trabalho do médico. O médico mostra três versões do diagnóstico para a gente escolher qual é o melhor? Não, né? O que ele oferece, quando é possível, são opções para o tratamento. Mas ele não as apresenta de cara pra que façamos uma escolha. Ele mostra aquela que julga ser a mais adequada e, depois, se for possível, fala que existem alternativas e, cada uma delas tem seu ponto positivo e ponto negativo.

Todas as vezes que me vi nesta situação com um médico, ele me disse que a primeira opção tinha uma justificativa bem plausível. E me apresentava o embasamento para aquela escolha. Acontece que em mais de 90% dos casos os publicitários não tem o embasamento para justificar sua escolha e recomendação. É tudo baseado no achismo e no gosto pessoal. Daí, o cliente acaba achando que se é algo baseado no gosto pessoal, ele , por ser dono do negócio, entende mais e tem o “gosto mais apurado”. Aí, meu amigo, ferrou.

Quando chega a esse ponto, o publicitário ou a agência vira apenas manobrista de layout; aumentando a marca e “chegando o texto mais para a direita”. O fato é que, na maioria esmagadora das vezes, o publicitário não sabe argumentar como aquilo que ele fez vai resolver o problema do cliente.

O publicitário acha que defender um conceito é uma questão de “lábia”. Isso porque ele não sabe. Porque ele não fez pesquisa. Por que a sua proposta não tem substância. Aí, acha que tudo é na base do “Rolando Lero”. E sabe por qual motivo que o publicitário não tem argumento ou substância para defender sua escolha? Acertou, porque ele começou a fazer aquela peça meia hora antes de apresentar pro cliente. Aí, não deu tempo de fazer pesquisa (te dizer que faz muito tempo que vi uma proposta de ação de publicidade efetivamente baseada em pesquisa). Não deu tempo de embasar as escolhas. Não deu tempo de nada. Depois, claro, não dá pra reclamar. E voltamos a questão inicial.

O meu ponto é: enquanto isso persistir, publicitário vai ser tratado do jeito que é. E eu acho que a origem destes problemas é justamente porque ele não se respeita e não faz as coisas com seriedade. Claro. Tem aqueles que preferem trabalhar de madrugada e também os gênios que fazem uma versão perfeita logo na primeira tentativa. Mas estes são pontos fora da curva.

O normal mesmo é termos o comportamento que mina o sucesso da atividade. É a participação em “concorrências” e o trabalho executado sem pesquisa, feito de forma tocada, na última hora. Enquanto estes comportamentos forem tratados como a normalidade, também os publicitários e as agências continuarão sendo tratados como são. Talvez isso não seja uma causa direta, mas minha leitura é a de que, de certa forma, interfere, sim, no jeito que as pessoas externas à profissão lêem os publicitários.

Enfim… Essa é a minha questão, na verdade a minha preguiça, com essa extrema informalidade dos publicitários.

Dica de leitura: Introdução à Análise de Redes Sociais Online

Em dezembro de 2017 tive contato com a publicação “Introdução à Análise de Redes Sociais Online”, escrito pela pesquisadora Raquel Recuero e disponibilizado gratuitamente pela EDUFBA (http://www. lab404. ufba. br/?p=3223).

Trata-se de iniciativa bem interessante e necessária. Como sabemos, o tópico da Análise de Redes Sociais (ARS) ainda é muito pouco explorado no país; em especial na Comunicação. Há muito o que fazer e estudar. Muita coisa por descobrir e explorar.

É justamente nesse sentido que se faz a recomendação da leitura. Tendo em vista que o objetivo da autora é apresentar o tema e métodos possíveis de investigação, creio ser interessante para se familiarizar com o tema. Nas palavras da autora:

“O que é relevante aqui é perceber que a ARS existe dentro do arcabouço de métodos possíveis para que pesquisadores das áreas que tradicionalmente não trabalham de modo tão empírico e com tantos dados (como é o caso da Comunicação) possam se munir de modos de análise e compreender elementos mais amplos em seus dados. Nosso objetivo, portanto, é ampliar a compreensão desses modos e permitir que a ARS seja mais popularizada entre os pesquisadores, de modo especial, entre aqueles que trabalham com dados provenientes do ciberespaço. ”

O livro tem leitura bastante fácil e é bem direto ao assunto, apresentando a origem das informações e indicando caminhos.

Tenho apenas duas ressalvas com relação ao texto. Tecnicalidades que não atrapalham o objetivo da autora e muito menos o entendimento do assunto.

A primeira delas é com relação ao conceito de buraco ou lacuna estrutural (structural hole). Embora Recuero (2017) cite bem acertadamente Burt para fundamentar o conceito, creio que vale observar que este mesmo autor apresenta o conceito de lacuna estrutural (Burt, 1995) como sendo a posição de um ator que é a única ligação entre diferentes grupos. Nesse sentido, se este ator se ausenta, há a criação da lacuna (ou buraco). Tratei deste assunto na ocasião em que procedi com o mapeamento da rede de pesquisadores em Administração no país (Oliveira, 2013). Na ocasião apresentei o conceito a partir de Burt (1995) com a ligação a Coleman (1988) da seguinte forma:

“Ao compreender o capital social como um recurso da rede buscado pelos atores e, portanto, motivador de suas ações, deve-se entender também que a posição ocupada na rede lhes proporciona capital social. Assim sendo, é possível enxergar que determinado ator que está posicionado na estrutura como a única ligação entre dois grupos que compartilham interesses ocupa um espaço conceitual de destaque, pois é ele quem controla o acesso a recursos por parte dos dois grupos. A esse ator atribui-se o título de lacuna estrutural (Burt, 1995).

Ocupar uma posição de lacuna estrutural na estrutura da rede não é o único ganho ou recurso proporcionado a determinado ator. Reputação, controle de informação, confiança e cooperação são também recursos ou ganhos que se pode obter a partir de suas relações e posicionamentos na rede (Coleman, 1988). ”

A segunda questão é ainda mais sutil e refere-se a questão das redes de dois modos. Como meu trabalho de mapeamento da rede de pesquisadores em Administração no Brasil tratou disso, entendo que as redes de dois modos são um pouco diferentes daquilo que é apresentado no livro. Recomendo a leitura desta postagem do Tore Opsahl (https://toreopsahl. com/tnet/two-mode-networks/defining-two-mode-networks/) para mais detalhes sobre as redes de dois modos (o autor, inclusive, exemplifica as redes de colaboração científica como redes de dois modos, como fiz. Tanto ele quanto eu usamos Newman (2001), Wasserman e Faust (1994), dentre outros, para embasamento.

Como disse, estas diferenças no modo de enxergar o que é uma lacuna estrutural e uma rede de dois modos não atrapalham e nem desabonam o texto. A leitura do livro é bastante recomendada. Fica aí uma dica bem interessante para quem quer, rápida e objetivamente, se introduzir ao tema da Análise de Redes Sociais.

Referências:

Burt, R. (1995). Structural holes: The social structure of competition. Harvard University Press.

Coleman, J. (1988). Social capital in the creation of human capital. American Journal of Sociology, 94

Newman, M. E. J. (2001). Scientific collaboration networks. II. Shortest paths, weighted networks, and centrality. Physical Review E 64, 016132.

Oliveira, C. C. (2013). Coopetição em redes interpessoais: relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores brasileiros em Administração. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Recuero, R. (2017). Introdução à análise de redes sociais online. EDUFBA, Salvador, BA, Brasil.

Wasserman, S. , Faust, K. (1994). Social Network Analysis: Methods and Applications. Cambridge University Press, New York, NY.

Qual é o seu presente para a web no dia de hoje?

Hoje, dia 12 de março de 2018, a WEB faz 29 anos. E ela está ameaçada.

A web é um instrumento, um dispositivo, um aparato, um ambiente em que nós, os usuários (se preferir, os “nós” da rede), podemos ter o poder. Podemos, como Licklider e Taylor (1968) e vários outros depois deles pensaram: a capacidade de participar ativamente do processo comunicacional. A web representa o que Negroponte chamou de deslocamento do poder do transmissor para o receptor. A gente monta nossa própria programação e consome o que quer, quando quer e do jeito que quer.

Acontece que, a necessidade de certo domínio de um conjunto de técnicas (Lévy, 2010), acabou por levar-nos a uma posição de dependência de plataformas controladas por entidades – as plataformas sociais como Twitter e Facebook – cujo modelo de negócios e funcionamento se assemelha enormemente com o que conhecemos na mídia de massa. Sua necessidade de obter lucro por meio de publicidade subverte a ideia de poder nas mãos das pessoas e desvirtua o que se pensava anteriormente como a web sendo o espaço onde todos poderíamos ter voz. Nestas plataformas, a lógica é a mesma da mídia de massa: é necessário ter o poder financeiro para fazer sua mensagem chegar às pessoas.

Só que a web não é isso. A web é um território livre.

Que tal darmos de presente para ela e, consequentemente, nós mesmos (já que a web somos nós) um passo adiante para a retomada do poder que a web nos proporcionou e que, voluntariamente, temos aberto mão nos últimos anos? É isso que (no link lá do começo) o inventor da web, Tim Berners-Lee fala sobre fazer a web trabalhar para as pessoas. Trata-se de uma retomada do poder que, voluntariamente, entregamos para corporações cujos interesses se distanciam enormemente dos nossos. Precisamos exercer mais a autocomunicação.

O poder da comunicação e da autocomunicação bem conceitualizado por Castells (2010) conceitualizou, permite que nós, indivíduos utilizemos da rede para nos organizar e constituir um novo poder que pode contrapor às instituições vigentes. Aqui refiro-me especialmente ao poder da mídia de massa que visa homogeneizar o que não é possível de homogeneizar (a sociedade).

Por isso insisto, que tal a gente dar para a web o presente que ela (nós) merece (merecemos)? Vamos retomar o poder. Vamos voltar a escrever em nossos próprios sites ao invés de usarmos plataformas outras que não nos pertencem e cujas decisões de alcance dependem do quanto os executivos podem ganhar em cima da nossas produções!

Vamos adotar a ideia de construirmos novas conexões entre ideias de forma mais orgânica e menos dependente dos algoritmos. Eles são interessantes, mas não devem ditar nossos comportamentos e intermediar plenamente nossas relações e as ligações entre nossas ideias.

Que tal a gente presentear a web com a ação de retornarmos a autoria do grande hipertexto que a compõe?

REFERÊNCIAS

Castells, M. (2013). Communication power. OUP Oxford.

Lévy, Pierre. (2010). Cibercultura. Editora 34.

Licklider, J. C. , & Taylor, R. W. (1968). The computer as a communication device. Science and technology, 76(2), 1-3.

Negroponte, N. (1995). being digital. Alfred A. Knorpf: New York.

EXTRA
http://tantek. com/2018/037/t1/posse-indieweb-twitter-facebook
https://webfoundation. org/2018/03/web-birthday-29/

A falta de experiência na questão da experiência do usuário

Às vezes a gente pensa que, porque já sabemos alguma coisa, os outros também já sabem. Mas outra coisa que a gente sabe é que não é bem assim.

Isso costuma acontecer comigo muito. O tempo todo preciso me policiar.

Como, desde o ano 2000 trabalho com usabilidade (isso mesmo: de 1995 a 2000 eu trabalhei com desenvolvimento web sem saber que existia algo chamado usabilidade. Trevas, amigo. Trevas), arquitetura de informação e correlatos, é muito fácil achar que, em pleno ano de 2017 estes sejam conceitos introjetados em qualquer processo de produção de um sistema interativo que se preze.

Ainda mais em tempos em que vivemos a emergência (eu diria até com certo exagero) da “experiência do usuário”.

Infelizmente, esta afirmação não poderia ser mais distante da realidade.

Vamos a um caso prático que ilustra perfeitamente a situação.

Meus filhos ganharam uma caixa de bombons Garoto hoje, para a páscoa. Ao abrir a caixa, vi que havia uma promoção na tampa. A instrução era a de entrar num site, digitar um código e ver se o dono da caixa ganhou R$ 100. 000,00.

Tentador, né?

Lá fui eu digitar o código.

A primeira coisa com a qual me deparei foi um problema que, a princípio, pensei ser de compatibilidade de browser. Estava tentando fazer o cadastro no Safari. Não conseguia de forma alguma. Mesmo estando idênticos, o formulário acusava que os endereços de e-mail não eram corretos e/ou não conferiam. Fato equivalente ocorreu com os campos de senha. Isso me fez afastar (a princípio) a má fá de quem fez o formulário de impedir os truques bacanas que o Gmail nos permite usar para identificar empresas que vendem nossos cadastros.

Depois de tentar algumas (sério, tentei mais de 5) vezes, abri o Chrome. Deu o mesmo problema.

Não obstante a questão do conteúdo do formulário não ficar 100% visível para o usuário, o erro persistiu. Tirei o +garoto do endereço e consegui me cadastrar.

O passo seguinte foi validar a conta clicando no link do email enviado. Aí, tudo certo. Como meu navegador padrão é o Safari, o link clicado no cliente de e-mail me levou para este software. Cadastro efetivado. Consegui fazer o login.

Em seguida, o que precisava fazer era cadastrar o código da tampa. Tentei fazer por pelo menos mais cinco vezes no Safari. O CAPTCHA acusou erro em todas as vezes.

Retornei ao Chrome.

Novo login. Novas cinco tentativas.

Nesse momento eu nem lembrava mais a questão do prêmio. Já havia se passado mais de 20 minutos e agora eu só estava preocupado em saber até onde vai a falta de capacidade de construir um sistema que funcione. Em pleno 2017.

Mais algumas tentativas (afinal, como todo usuário, até eu penso que o problema pode ser comigo) depois, o resultado final: Desisti.

Eu achava que isso de sites não funcionarem em algum sistema específico era coisa de meu passado, quando usava Linux + Opera (coitados dos alunos de Ciência da Computação cujos projetos precisavam funcionar corretamente nessa configuração).

Claro que a realidade se mostra bem diferente. E o problema não é só com a Garoto e esta promoção estranha. Recentemente tentei por várias vezes montar um carro em sites de montadoras usando iOS. Te desafio conseguir fazer isso no site da Fiat. Já o site da Renault precisa de Flash para funcionar.

Risos.

Mas, enfim. A questão é que, por mais que achemos que as coisas estejam evoluindo, a realidade (sempre ela) nos presenteia com um belo tapa na cara.

Ainda há muito o que aprender sobre usabilidade, acessibilidade, empatia com o usuário e a tão falada UX. Estes assuntos passaram longe das equipes que estão à frente de projetos web. Em pleno 2017.

Boa sorte a todos nós.

A importância da palavra bem escrita

Estou escrevendo este texto depois de ver uma publicação no LinkedIn (serviço em que me pego todos os dias considerando fortemente apagar meu perfil) onde acabo de ver (pela enésima vez) alguém escrever uma frase usando o verbo haver no plural.

No livro Remote, o Jason Fried dedica um capítulo inteiro para a questão da escrita. Para ele, esta é uma questão crucial para quem vai trabalhar remotamente por causa da comunicação com seus pares. Mas esta importância não prevalece apenas para quem vai entrar na onda do teletrabalho. Escrever bem significa saber se expressar bem e defender bem uma ideia. Significa saber organizar ideias e apresenta-las de modo coerente.

Ele complementa que uma boa maneira de selecionar um bom programador para seu time é optar por aquele que escreve melhor. Texto mesmo. Porque se ele escreve um texto bem escrito, é bem provável que programação não será um problema para ele.

Particularmente, este posicionamento me impressionou um bocado quando li o livro. Isso porque o Jason Fried é um desenvolvedor. E desenvolvedores não são famosos por sua capacidade de escrita. Ainda mais por recomendarem (como no caso do Jason Fried o faz neste livro) que um dos mais (se não o mais importante) relevantes critérios de seleção deve ser a capacidade de um desenvolvedor de escrever bem um texto. O autor dá tanta importância para isso que insere em seu livro várias dicas de leituras e práticas que podem ser adotadas para que melhoremos nossas capacidades de escrita. Enfim, vale a leitura. E, claro, vale também prestar atenção e dar muito peso para a escrita.

Mas voltemos ao caso do LinkedIn. Não ao fato de eu querer deletar minha conta lá todos os dias (isso tratarei no momento apropriado), mas ao fato do erro do plural do verbo haver.

A questão não errar. Todo mundo erra. Eu erro, você erra. Todo mundo erra. A gente erra o tempo todo.

Meu ponto aqui ressaltar o cuidado que precisamos ter com os erros que cometemos e onde cometemos. O erro do plural pode parecer bobo para muita gente. Mas ele é bem diferente daqueles deslizes de digitação que cometemos quando trocamos a letra O pela letra I no teclado. E ainda tem a questão do local onde ocorreu o erro: uma plataforma voltada para profissionais. Errar o plural do verbo haver mostra algo mais grave; como dito, estrutural. Volte a entender que se trata de uma plataforma voltada para a vida profissional das pessoas. Então ver alguém em posição de liderança cometendo um erro desses não é a coisa mais legal de todas.

Enfim. O que quero dizer é que devemos tomar cuidado com nosso texto. Em qualquer circunstância, nosso texto falará muito sobre nós. E por mais que a pós-modernidade e toda sua liquidez indiquem que estes conteúdos não ficarão aqui por muito tempo; o estrago causado pode ser grande, mesmo que online por pouco tempo.

Protejam seus fãs!

Cara, muito legal este vídeo do canal “Do campo à mesa“.

Eu gosto muito deste canal e já o recomendei em algumas oportunidades. Falo dele especialmente em sala de aula quando menciono sobre a possibilidade de rentabilização de conteúdo autoral na internet. A dona do canal, Francine Lima, é jornalista e muito competente. Ela faz um trabalho muito bem feito e seus vídeos são informativos e inteligentes.

No vídeo acima ela faz algo muito corajoso: chama a atenção de youtubers famosos acerca do patrocínio feito pela indústria de refrigerantes. Todos sabemos que estas bebidas fazem muito mal a saúde pela quantidade de açúcar.  Francine põe o dedo na ferida. E eu acho que ela acertou.

A crítica que ela faz aos youtubers que aceitam fazer propaganda deste tipo de produto me fez lembrar imediatamente de algo que aconteceu há nove anos no BlogCamp de BH*, quando eu perguntei aos donos de blog que vendiam posts se eles não estariam jogando a sua reputação na latrina ao fazerem isso. Esta minha intervenção fez até com que criassem uma google bomb com meu nome e a expressão “latrina mambembe”.

O fato, recuperando a fala da Francine, é que ela mandou bem ao chamar esta patota na responsabilidade. Estes produtores de conteúdo podem nem ligar, mas têm muita responsabilidade nas costas. Seus fãs os seguem cegamente. E isso é sério. Quando eles fazem apologia ao consumo de produtos tão danosos, devemos pensar não só na grana que eles ganham, mas também nas consequências.

Falo isso porque uma coisa muito bacana das plataformas web (uau, estou recuperando a minha fala de 2007!) é justamente o fato de termos o rompimento com o modelo da mídia de massa do patrocínio de grandes corporações para viabilizar projetos. No contexto da web, as pessoas podem individualmente financiar os produtores de conteúdo (como no caso da própria Francine, que recebe doações via PayPal); e isso faz deste espaço um lugar único em que a independência editorial é possível.

Por isso (em meu caso, antes da questão da saúde), acho que é uma bola fora fazer isso de associar sua imagem à de uma corporação. Em minha opinião, por mais que um youtuber cobre caro, jamais será um montante representativo para a corporação e – mais importante – jamais será algo que compensará a venda de sua credibilidade. É um modelo de comunicação publicitária velho. Funciona (não estou negando isso). Funciona muito bem para o anunciante (por isso falei da questão do montante). Mas o custo para o garoto propaganda é alto. Isso os jovens e inexperientes youtubers não sacam. Ao pensar na grana, estão focados no agora e esquecendo que o tempo passa.

A questão da saúde, levantada pela Francine, é igualmente importante. Mas como eu só parei de tomar refrigerantes há três anos (por causa de uma grave crise de labirintite. sabia que o refrigerante pode ajudar a desencadear uma crise?), acho que a Francine tem mais autoridade para falar do assunto sob este aspecto.

Kudos, Francine!

*Curiosamente ao apresentar o professor Jorge Rocha ontem em sala de aula para a terceira turma da pós em Comunicação Digital nos lembramos que foi neste evento que eu o conheci. Das coincidências da vida, né?

Reativando este espaço com duas dicas de leitura

Então.

Ontem vim para a Colômbia para uma série de eventos para os quais fui convidado a participar aqui na Universidad Cooperativa de Colombia – Cali. É minha segunda vez no país. Em 2014 estive em Medellin para evento semelhante realizado pela Universidad de Medellin. Será uma semana cheia e, mesmo assim, resolvi reativar este espaço de publicação. Espero que gostem.

Mas, por qual motivo escolhi reativar este blog justamente agora, com tanta coisa para fazer em um país diferente no meio de uma semana tão atribulada?Bem, porque sim. 🙂

Na verdade já fazia parte dos meus planos há algum tempo reativar este espaço. Mas durante o trajeto BH-Cidade do Panamá, eu reli o livro “The New Rules of Marketing and PR”; o que foi muito bom para reforçar algumas coisas que tinha na cabeça. Uma delas é justamente a importância destes mecanismos de publicação como este humilde blog.

Enfim. Na releitura, o autor menciona o Hubspot e, coincidentemente, também durante o voo, estava ouvindo uma edição do Marketing Over Coffee em que mencionam o Hubspot com uma dica de livro: Disrupted.

Aí juntei a fome (vontade de reativar este espaço) com a vontade de comer (indicar leituras) e estamos aqui com o blog de volta!

Aproveite então para anotar estas duas dicas de leitura:

  1. The New Rules of Marketing and PR (quem assiste minhas aulas de cibercultura e marketing digital conhece muito deste conteúdo, hehe)
  2. Disrupted (que comecei a ler hoje mesmo) 😀

Enfim. Depois me digam o que acham destes livros.

Sobre o golpe de 2016

Um pouco de contexto

Replico aqui (porque, afinal, o site é meu), minha participação em uma discussão em uma plataforma social que gostaria de deixar registrada publicamente para a posteridade. Não que isso vá ser apagado do Facebook, mas a dinâmica da plataforma faz com que lá este conteúdo se perca, embora fique registrado pra sempre nos servidores deles. Mas aqui eu tenho mais controle e, bem, aqui você está lendo este texto agora e pra mim é isso que importa.

A discussão

Então, começou com um desabafo de minha angústia ao ver tremenda injustiça acontecendo em meu país. Me deixa genuinamente chateado ver que isso está acontecendo e que tem gente achando normal.

Eu disse:

Se a essa altura do campeonato você ainda não se tocou que rolou um golpe e que está em curso um desmonte de nossa democracia, das duas uma: ou você é muito ignorante ou covarde.

Questionaram a existência de um golpe. E argumentaram a responsabilidade da presidenta e de seu partido no golpe (tipo, culpando a vítima? Eu realmente não entendi esta parte do argumento. As pessoas dizem que a culpa de o Temer estar ocupando ilegitimamente a presidência é do PT e de quem votou no PT para a presidência).

Acontece que são duas coisas diferentes. Uma foi a sequência de erros do PT de ter se associado ao PMDB esperando que isso fosse garantir maioria no congresso e, por consequência, governabilidade. Este foi um erro que custou muito caro. Fez com que muita gente demonstrasse sua insatisfação nas urnas em 2014 (pode me incluir neste grupo; o de pessoas que não votaram no PT no primeiro turno). Enfim. Esta associação com o PMDB não foi benéfica, pois trata-se de um partido sem qualquer orientação moral ou mesmo ideológica.

Mas isso não dá legitimidade ao Temer. Ele compunha a chapa. Quem votou na Dilma, não votou nela por causa do Temer. Arrisco dizer que muitos, como eu, votaram nela no segundo turno de 2014 APESAR do Temer.

Então, associar um com o outro como se fosse algo que passasse macio na garganta de quem votou não é o caminho.

Outra coisa (que valeria por si só, mesmo se o que expus acima fosse completamente equivocado) é a legitimidade do processo de impeachment.

Uma série de jogadas e associações – no mínimo estranhas – entre poder judiciário, legislativo e uma clara campanha difamatória que usou e abusou do poder financeiro e da mídia para desqualificar um governo legítimo (não estamos entrando no mérito aqui da qualidade da gestão Dilma, mas sim falando de sua legitimidade).

A questão do crime de responsabilidade é altamente contestável. Isso não está claro e muito menos plenamente definido. E temos que levar em consideração também os diferentes pesos e medidas usados para atacar Dilma e defender seus opositores.

O fato de se aprontar um verdadeiro escarcéu com relação a Dilma e Lula (quando na tentativa de nomeação do segundo para um ministério) e, logo na primeira ação do governo ilegítimo que assumiu o país vermos 7 ministros investigados na mesma operação que culminou no afastamento da Dilma sendo nomeados é um bom exemplo desses pesos e medidas diferenciados. Além de, claro, sinalizar a manipulação midiática visto que não se indignou com os 7 ministros como se indignou com a indicação de Lula. Seguindo aquela lógica, as pessoas que se indignaram com Lula deveriam estar sete vezes mais indignadas com a ação do Temer. Mas não, o que vemos é o silêncio.

O desmonte da democracia evidenciado (como se um presidente ilegítimo assumir não fosse o suficiente) na remoção do MinC e na sinalização de perda de direitos trabalhistas pra todos os lados (não percamos de vista o que está prestes a acontecer na saúde).

Sem mencionar o fato de que quem conduziu o processo (Eduardo Cunha) na câmara ser réu e ter contra si muito mais provas de atos ilícitos cometidos do que a Dilma.

E também sem mencionar que quem cuidou do processo no senado (Anastasia e Perrella, para citar os dois mineiros) não são pessoas limpas. O primeiro cometeu o mesmo crime de responsabilidade (do qual acusam Dilma) em Minas e o segundo teve um helicóptero de sua propriedade apreendido com 450 kg de pasta-base de cocaína – coisa que passou batida pela PF – evidenciam que houve, no mínimo, um viés que não deveria existir no processo.

Agora, se você não enxerga que isso é um golpe e que um governo sem qualquer representação de minorias, que extinguiu a secretaria que defendia as pessoas com deficiência não representa um retrocesso no Brasil, acho que nem adiantaria eu continuar. Vista sua camisa da CBF e seja feliz pagando um enorme pato.

Aí falaram que não era golpe e que as instituições brasileiras, em especial o judiciário, estão funcionando de maneira lisa e independente.

Respondi argumentando que concordamos em algumas coisas e discordamos em outras. Especialmente na percepção de que o judiciário está trabalhando. Se assim fosse, não seria nem sido iniciado o processo de impeachment porque o então presidente da câmara tem contra si provas irrefutáveis de atos ilícitos e não deveria estar no cargo naquele momento. O judiciário estaria funcionando se fosse aplicada a mesma lógica que impediu Lula de assumir um ministério quando SETE ministros de Temer que são investigados assumem ministérios.

Persistiram no argumento de que eu não deveria continuar questionando a legitimidade do processo; que o governo da Dilma era ruim e que tem que trocar tudo mesmo.

Do lado de cá, devo confessar, curto muito esta discussão. Acho que estes debates são muito importantes para que todos aprendamos mais.

E as argumentações contra o que falei são muito bacanas. Mas levam para uma interpretação de que “se eles (deputados e senadores) foram eleitos, tem carta branca para fazer o que for dentro da lei”. Há uma série de possíveis ciladas neste raciocínio.

A primeira é achar que o processo foi legítimo. Não foi. O STF não parece estar atento a isso (estou, claro sendo irônico aqui. O esquema dos pesos e medidas diferentes para a nomeação do Lula e dos 7 ministros sujos na lava-jato do governo Temer é uma clara indicação de que o STF tem algum interesse neste esquema).

A segunda delas é achar que era necessário destituir um governo legítimo sem que fosse apurado qualquer crime de fato. Isso é gravíssimo. O que ocorreu com um governo legítimo sem que qualquer coisa que o desabonasse criminalmente fosse provada é assustador. Por isso a comunidade internacional se move falando do ocorrido como golpe. Porque assim o foi.

A terceira cilada é achar que vai melhorar porque, afinal, tiramos (por meio de processos lícitos) um governo (alegadamente) corrupto. Isso está longe de ser verdade. Se a injustiça ocorrida não te toca de qualquer forma, tudo bem. Mas é ingenuidade demais pro meu gosto argumentar que o fim do MinC é algo positivo. Pode escolher o prisma que você quiser para analisar isso e não sairá um resultado bom. A mesma coisa acerca da secretaria nacional de promoção dos direitos das pessoas com deficiência, que foi extinta pelo ILEGÍTIMO governo do Temer.

A quarta é imaginar que é de responsabilidade de quem votou na Dilma o fato de o Temer estar aí. Ele praticamente jogou o projeto de governo de sua chapa no lixo quando assumiu. Na real, já havia se mostrado um crápula quando vazou aquela cartinha na virada de 2015-2016.

Pensar que isso é certo é a mesma coisa de se forçar ficar casada com uma pessoa que te traiu, porque assim havia sido acordado. Não é. Não é mesmo.

As respostas que recebi foram de que estava agindo meio que em clima conspiratório e que a mídia teria independência no país e isso indica que não há um golpe em curso.

Minha resposta sobre a questão da mídia foi a indicação de que uma ley de medios é do que precisamos. Basta acompanhar o ganhador do Pulitzer Glenn Greenwald no Intercept. Acho que vale  para ver como alguém de fora do país enxerga a presença da mídia no cenário político brasileiro.

E, da mesma maneira que expliquei anteriormente, são duas coisas diferentes:

1 – O governo da Dilma não era bom. Mas era legítimo. 2 – O processo não foi liso. De forma alguma. Só não vê quem não quer.

Ou seja. Estamos vivendo um golpe e muita gente tende a cerrar os olhos para isso. Afinal, às 17:00 tem natação. O que é uma pena.

Não entendeu a referência? Assista este vídeo.

Ah, e um adendo Pra finalizar: posar de isento é a pior coisa que você pode fazer neste momento. Se isentar implica em ignorar algo que está mudando os rumos de um país. Se isso não te afeta de alguma forma, putz… Nem sei mais o que dizer.

Mas os argumentos que defendem o ilegítimo governo de Temer despertam minha genuína curiosidade. Perguntei aos meus interlocutores o que os fazia pensar que não rolou um golpe. Questionei se eles não enxergam perdas que nos retrocedem no tempo nestas primeiras ações de um governo que não é legítimo.

Aí falaram que eu sou petista e que meus argumentos são atacar as pessoas contra o PT.

E, aí, a conversa acabou.

2015 será um ano excelente

Nesta noite de 21 de fevereiro acontecerá algo mais importante do que você imagina. Vai parecer que você apenas estará atrasando seu relógio para se adequar ao final do horário de verão. Mas é muito mais do que isso. Preste atenção e leia atentamente. Isso pode mudar a sua vida.

Me dei conta há alguns minutos, enquanto estava no banho (claro, boa parte de nossas boas ideias acontece ali). Pensava nas pessoas que comentaram que o ano começara na última quarta-feira, por causa do final do carnaval. “Mas é lógico que não!” foi a frase que retumbou em minha mente enquanto vivia esta epifania que compartilho com vocês.

Claro que o ano novo não começou na última quarta. Ele começa na segunda. Afinal, não faz sentido o ano começar na quarta. Tudo deve começar na segunda. Seu regime vai começar na segunda, a leitura daquele livro, a frequência à academia… Enfim. O ano começa na próxima segunda.

Você pode estar achando que sou louco ou que apenas estou repetindo os clichês do Facebook da quarta e quinta passadas. Nada disso. Estamos no dia 21 de fevereiro, mas seremos catapultados ao dia 30 de dezembro quando atrasarmos nossos relógios daqui a pouco. Vai ser complicado e o dia de amanhã (quando a segunda meia-noite acontecer será 31 de dezembro de 2014; mesmo que o calendário te fale outra coisa) será um dia estranho. Um mix de reveillon e 22 de fevereiro. Vai parecer que você tomou um porre homérico.

Inicialmente você responsabilizará os exageros do carnaval. Mas o buraco é mais embaixo. A sensação faz parte desta brincadeira pelo tempo e espaço pela qual você vai passar. Você não se lembrará. Mas será como se tivesse, já disse, tomado um porre verdadeiramente épico.

Daqueles porres que te deixam meio perdido. Será um domingo estranho e você passará o tempo todo perguntando as horas e sentindo um jetlag esquisito. Diferente do comum.

Não adiantará tentar. Você não conseguirá fazer nada de útil amanhã. Estará sob o efeito desta passagem mágica que começará a acontecer quando você atrasar o relógio logo mais. Vai dormir meio consternado e, quando acordar na segunda-feira, será 23 de fevereiro. Mas isso porque durante a noite de domingo para segunda, os 54 dias do ano terão passado. Será como se você tiver passado a noite dentro da TARDIS. Por isso você terá dormido tão bem e sua segunda-feira será excelente, mesmo com a aparente dificuldade para dormir que você vai enfrentar na noite de amanhã. Isso mesmo. Dormir de domingo pra segunda será difícil, mas apesar das dificuldades e de você acabar dormindo pouco “por causa do Oscar” (é isso que você vai pensar), você acordará bem na segunda.

Pode acreditar, pois é isso que vai acontecer. Mas além do fato de ser 30 de dezembro em pleno 21 de fevereiro, isso não tem nada a ver com o título do post.

Qual o peso do título de especialista em Design de Interação

(Ou: você precisa de uma pós em Design de Interação para ser designer de interação?)

TL, DR: Não.

Quer a explicação completa? Leia a seguir e participe da discussão!

Preâmbulo – A inquietação
Para quem não sabe, eu – Caio Cesar – fui um dos responsáveis pela implementação da primeira pós graduação em Design de Interação no Brasil. Sob a minha coordenação, formaram-se cinco turmas de especialistas em DI. Foi um período muito gratificante, de muito trabalho e várias realizações. No entanto, algumas inquietações sempre me incomodaram. Uma delas, a corrida por uma pós a qualquer custo, sem se preocupar com uma formação mais sólida na base. Estas inquietações foram crescendo até que chegou um ponto em que eu precisei fazer algumas escolhas e continuar coordenando uma pós deixou de ser uma prioridade e um interesse. Daí nasceu o inter. ativida. de.

Embora esta questão da formação esteja bem clara na minha cabeça, aqui no projeto inter. ativida. de tenho recebido muitas indagações a respeito da pós em Design de Interação. A quantidade de gente que tem demandado este curso é grande. Mas minhas crenças e instinto me dizem que uma pós por si só não é o suficiente para formar um designer de interação. Na verdade, não acho que acabe colaborando com muita coisa além de apontar bibliografias, apresentar contatos e mostrar que existem caminhos…

Pra deixar bem claro, o que eu penso é que para você trabalhar com design de interação tudo o que você precisa é começar. E se esforçar muito. Para fazer um paralelo bem superficial, pense na quantidade de pessoas que trabalham com desenvolvimento front end para a web. Agora, a partir deste montante, tente identificar quantos destes profissionais aprenderam a fazer isso em cursos de graduação ou pós. Certamente você perceberá que a grande maioria aprendeu fazendo, e não frequentando aulas. Meu ponto aqui não é detonar a formação superior. Não sou maluco. Dou aulas numa universidade há 12 anos. Entendo e valorizo a formação superior. Mas, como já disse em outras ocasiões, você não é aquilo que você estuda.  Você é aquilo que você faz.

Nesse sentido, acho que fontes online de informação, somadas a disciplina e ao empenho do interessado acabam por fazer mais diferença na vida dele do que um título faria.

Perguntando a profissionais e empreendedores
Só que isso tudo pode ser coisa da minha cabeça e eu posso estar viajando muito. Por isso, decidi perguntar para pessoas que contratam profissionais, o que eles acham. Perguntei para alguns profissionais que empreendem e contratam pessoas para funções relacionadas ao DI qual o peso do curso na hora da contratação. De forma bem específica, coloquei a questão: se dois candidatos estão participando de um processo seletivo na empresa e apenas um deles tem título, este título é mais importante que o portifólio ou é apenas um critério de desempate? O portifólio e o perfil (entrevista) são mais importantes que o título ou a formação fala mais alto?

A primeira resposta que recebi foi da Juliana Duarte, da Lapis Raro. Para ela, a resposta mais direta só poderia ser: o portfólio e o perfil certamente contam mais que o título. No entanto, a Juliana levantou algumas questões interessantes como a velocidade do aprendizado em sala de aula, que é maior em sua percepção. De forma intimamente relacionada, a resposta do Leandro Alves, da Meliuz, foi a de que uma pós proporciona o networking necessário para alavancar a sua carreira ou até proporcionar a ela um novo direcionamento.

De forma mais que direta, Cristiano Dias, da Mutato, mandou: Portfolio, entrevistas e indicação de conhecidos valem muito mais do que diploma. Mas isso em agência. Em cliente normalmente é o contrário, até por que como são empresas maiores há planos de cargos e salários e o simples fato de ter um diploma pode te garantir um salário maior.

Isso se relaciona a uma questão que eu sempre coloquei parece também incomodar a Juliana e o Alexandre Estanislau, da Bolt: vale a pena fazer pós só por causa do título? Concordamos que não. O título pelo título não representa muito. O Leandro foi até mais além, dizendo que

“o diploma em si, não vale nada. O cara pode ser PhD na área que procuro, que não quer dizer muita coisa. Inclusive, eu sempre fico com pé atrás, quanto maior o título da pessoa, porque muitas das pessoas com as quais tive contato e que tinham titulação muito alta, acabavam por ser arrogantes, inflexíveis ou simplesmente loucas e impossíveis de se relacionar. ”

Renato Amarante, da Sense8, foi na mesma onda do Leandro em sua colocação sobre o assunto. Para ele, “portfolio e títulos são apenas indícios de que o cara pode ser bom. Afinal, se estudou e fez uma pós, teoricamente ele é melhor do que o que não tem nada”. Mas isso não quer dizer que quem não tem o título seja desqualificado: “em quase 20 anos de web nas costas, os melhores profissionais com quem trabalhei foram os que sequer iniciaram uma graduação”. Para fechar a sua fala sobre este assunto, o Renato ainda me informou que já se deu mal por apenas olhar o portifólio do candidato na hora da contratação “talvez por estar tentando enganar usando portfolios de outros, ou até mesmo porque no dia a dia, no trabalho em equipe, o cidadão não se dá bem”.

A integração com a equipe e a adequação com o perfil da empresa se mostraram também muito importantes para o Herbert Rafael, da 3bits. Ele relata que já contratou pessoas muito capacitadas (formação é um parâmetro dentro desse contexto) que não se adaptaram ao estilo da agência, o que não foi tão bacana no final das contas.

Então quer dizer que fazer um curso não vale nada?
Se você está se fazendo esta pergunta, peço que volte ao início do texto e comece a ler novamente. Todos os que responderam minha mensagem procuraram deixar bem claro que não se posicionam contra a formação superior. Da mesma forma que eu.

Isso me deixou um tanto quanto aliviado. Com as respostas que recebi, pude comprovar que minhas suspeitas e meu instinto não estão fora da realidade. Um curso é importante. A formação superior é importante. Mas não determinante. Ela colabora para que o profissional tenha uma bagagem que será muito interessante em sua vivência. A especialização (numa pós lato sensu) apenas pelo título pode ser bem legal se você receberá um aumento em função disso, como disse o Cristiano. De resto, é dinheiro jogado fora.

Para deixar mais claro, reitero o que o Cristiano falou lá em cima. Uma empresa costuma valorizar o título. Isso é correto. Mas tenho certeza de que este não é o único quesito avaliado. Se fosse, o meu título de doutor me garantiria o emprego que quisesse, mas a coisa não é bem assim. Não basta eu querer um emprego. Eu preciso ser capacitado para desempenhar esta função (um mestrado, um doutorado ou mesmo uma pós lato sensu não capacitam ninguém para funções específicas em empresas. Isso precisa ficar bem claro) se quiser a vaga.

O Leandro disse que dependendo de suas aspirações profissionais, a pós tem um incrível valor. Para ele, se o profissional quer atuar como consultor, uma pós ajuda e muito, dando um crédito formal à sua formação. Mas ele reforça que se o objetivo é aprender algo, cursos mais curtos e direcionados tem um valor muito maior do que uma pós deste formato.

A Juliana disse algo semelhante. Uma pós, de acordo com ela, pode ser um pontapé inicial para uma carreira acadêmica. Mas, se o profissional já aspira atuar nessa área, o mestrado é o caminho mais adequado.

(a falta de) Bagagem e vivência
O Alexandre, muito sabiamente, coloca uma questão deveras importante para apimentar a discussão:

“Vejo que muitos procuram um curso, uma pós ou algo do tipo, pra aprender um ofício. Pouco se preocupam em aprender a pensar. Aqui na Bolt temos grandes dificuldades de encontrar bons profissionais em todas as áreas. Achamos pessoas querendo trabalhar, mas com um perfil muito ruim para uma vaga. E principalmente na área de interação é mais complicado ainda. E ter um título, uma formação dentro do interesse específico é importante, mas não é só isso que vá render uma contratação. Hoje eu busco outras qualidades em quem vem trabalhar aqui na Bolt. Busco conhecimento em outras áreas, busco alguém que gosta de desafios, pessoas que tenham curiosidade, pessoas que saibam discutir sobre todo e qualquer assunto, que saiba ouvir, que saiba expor ideias e que saiba lidar com as pressões do dia a dia e que tenha capacidade de se adaptar mas principalmente pessoas CRIATIVAS. Tudo isso em geral se consegue com tempo de estrada, e é justamente o que não vejo na maioria dos candidatos. O título não é fundamental e nem é ele quem vai definir quem entra e quem fica de fora. Ele vai servir de base, mas é um conjunto de fatores que definem quem fica na vaga. ”

Até parece que combinaram as falas. Vejam o que a Juliana disse sobre isso:

“Uma outra coisa que me ocorre sempre quando o assunto é pós é a pressa das pessoas sair da graduação e cair matando em uma pós, sem nenhuma vivência de mercado, sem ter os problemas e questões que nascem da prática” … “nós, que já estamos há muito tempo na estrada e que começamos desde sempre pensando nas pessoas já temos isso muito internalizado. Muitas vezes, ao desenvolver um trabalho ainda me assusto com a ausência dessa perspectiva no raciocínio e na prática dos profissionais. ”

A falta de bagagem e vivência é uma coisa que certamente um curso não resolve.  Tem vaga sobrando, mas também tem gente ruim de serviço sobrando. Gastar dinheiro apenas cursando uma pós não resolve o problema de todo mundo. Na verdade, não resolve o problema de ninguém. Conheço gente que concluiu o doutorado trabalhando cibercultura com 28 anos e que não sabe nada de HTML ou que nunca conseguiu fechar (ou ao menos abrir) um arquivo . PSD.

O mercado está – e isso não é o Caio dizendo, volte e leia as falas dos profissionais e empreendedores que colaboraram com esta “mesa redonda virtual” – precisando de gente que coloca as mãos na massa e este tipo de profissional não se constrói num curso. Alguma coisa pode até vir de um curso, mas pensar é algo que não dá para se ensinar numa pós.

O que você sugere, Caio?
De forma bem direta, o que sugiro é que você comece a fazer. O que quer que seja. Dê início. Se você quer ser desenvolvedor front end, não hesite. Comece a quebrar a cabeça com HTML, JavaScript, CSS… Aprenda a trabalhar com ferramentas gráficas. Participe de comunidades online, fóruns de discussão. Faça experimentos. Coloque-os no ar e divulgue o que você está fazendo. Aos poucos, seu trabalho vai melhorar e com o feedback que você receberá da comunidade, você aprenderá muito.

Frequente associações de profissionais, como a IXDA por exemplo. Lá você poderá conhecer muita gente interessante que já trabalha na área ou que está na mesma situação que você. Não é possível que você não vá conhecer ao menos uma referência nova por este caminho.

Leia, leia e leia um pouco mais. Leia tudo sobre o assunto que te interessar. Não sabe ler em inglês? Então já sabe o que precisa fazer. Pare tudo e providencie sua capacitação em inglês, oras! Depois que você estiver com uma boa carga de leitura, faça novos experimentos, produza! Coloque seu conhecimento a prova fazendo coisas novas.

Se você acha que isso tudo acontece num curso, bem… acho que você está equivocado. Os ritmos das pessoas são diferentes e as aspirações bem como o conhecimento também são. Dessa forma, não dá para garantir que você conseguirá resolver seus problemas com uma pós.

E, como vocês puderam ler, os donos de agências e pessoas que contratam (o tal “mercado”) não está exigindo um título. As empresas querem pessoas que tenham repertório e maturidade.

Por fim, o que quero dizer é: não ache que uma pós (ou um curso qualquer) é a solução para os seus problemas. Eu posso fazer dez cursos de culinária e ainda assim continuar fazendo lambança na cozinha se eu não começar a levar a coisa a sério. Se eu quero comer uma omelete bem feita, a primeira coisa a fazer é quebrar os ovos.

No entanto, como bem lembrou o Herbert, o espaço para a leitura, a busca de referências e o contato pode muito bem ser o de um curso de pós. Sem dúvida alguma! O tempo destinado a um curso pode e deve ser aproveitado para que sejam feitos contatos, se descubra coisas novas e fazer muita experimentação. Mas estas coisas não acontecem apenas em cursos.

Por isso este projeto existe (existiu). De alguma forma, estamos lutando aqui para a formação de uma comunidade que discute e aprende design de Interação além dos muros das escolas. De uma maneira que não prenda a sua participação a um tempo específico (a duração de um curso). Se você quer participar, as portas estão abertas. Leia, discuta (comente), faça parte de nossa lista (Em breve retornarei com a lista de DI. Aguarde!!) para receber as novidades e interaja com a comunidade (ache a sua e participe dela ativamente!).

Quem sabe este não é o lugar que você vai encontrar um parceiro bacana para tocar um projeto legal que vai fazer toda a diferença na sua vida profissional? Já pensou que pode ser aqui que você vai ter a notícia de um livro ou uma metodologia que vai se encaixar com tudo o que você precisa? Tudo o que você tem a fazer é acompanhar e participar.

Comece comentando sobre este texto. O que você tem a dizer? Gostaria muito de saber. Você acha que é necessário fazer uma pós para ser um especialista em Design de Interação? Como dito, o espaço está aberto.