Respondendo algumas perguntas sobre usabilidade

Post resgatado dos arquivos do blog. Publicado em 26 de julho de 2010.

Recebi um questionário enviado por graduandos em comunicação. Embora esteja um pouco amplo demais, sem uma indicação muito precisa do que quer ser descoberto, com problemas em algumas perguntas, e contendo outras que não me compete responder, resolvi compartilhar as minhas respostas por aqui. Quem sabe isso não ajuda mais pessoas a se informarem sobre o assunto, né?

Boa noite;

Sou Xxxxxx Xxxxxxxx, estudante de Jornalismo e integrante do grupo de TCC da Xxxxxxx, cujos objetos de estudo são Jornalismo Multimidiático e Jornalismo Institucional. Nossa peça prática será o projeto piloto de um Portal de Comunicação para a Xxxxxx. Após pesquisas, chegamos ao seu nome para ajudar no corte teórico através de uma entrevista. Portanto, segue, em anexo, um pequeno questionário para que você, por favor, responda e nos ajude. Peço que me envie as respostas até terça-feira (27/07), neste mesmo e-mail. Peço também que informe o seu currículo. Estou no aguardo. Desde já agradeço.

Como estão os estudos de usabilidade atualmente?

Acredito estarem se desenvolvendo de maneira bastante promissora. O campo está cada vez mais conhecido e mais pessoas estão colaborando, o que é bastante positivo. A Usabilidade tem ganhado mais atenção a cada novo projeto. Isso é bom para o projeto e, especialmente, os usuários.

O meio acadêmico tem mais influência ou quem dita mais as regras nessa área é o mercado e seu empirismo?

No que diz respeito a Usabilidade, mercado e academia são bem próximos. Grande parte dos pesquisadores em universidades têm um pé no mercado e grande parte dos consultores em usabilidade têm um pé na universidade. Esta ligação é uma indicação – inclusive – de credibilidade do profissional. Dessa forma, a dicotomia entre universidades e mercado não existe neste campo como em outros.

Como você vê os avanços na área?

Vejo com olhos bastante animados e esperançosos. As recentes colaborações vindas – por exemplo – da vertente do desenvolvimento ágil são bastante interessantes e prometem ajudar a popularizar o trato em usabilidade no desenvolvimento de produtos interativos.

Quais são as tendências no que tange a usabilidade hoje em dia? E o futuro, tem como prever um pouco?

Acredito que o desenvolvimento e aprimoramento / validação de técnicas e métodos de desenvolvimento ágil voltados para usabilidade ou que levem em consideração a usabilidade são especialmente promissores. Além disso, há um crescimento que deve ser olhado de forma muito positiva das abordagens que levam em conta acessibilidade e usabilidade.

Quais são os sites ou portais que você considera referência em usabilidade? Por quê?

Google é um exemplo que devemos sempre ter em mente neste aspecto. Sua mentalidade de desenvolvimento voltado para o usuário é bastante interessante. Obviamente eles erram, como todos os outros, mas estão sempre atentos e iterando a partir do feedback dos usuários. Seus produtos são desenvolvidos tendo isso em mente, o que faz deles muito eficientes.

Além de Google, enxergo a Globo. com como uma empreitada que trabalha de forma bastante interessante e efetiva o trato em experiência do usuário.

Onde entra a experiência do usuário nessa área? E os testes de usabilidade?

Entram onde os métodos e técnicas que estão sendo adotados indicam. Normalmente acontece em todo o desenvolvimento e produção de um projeto. Desde a pesquisa para a descoberta de usuários, validação de ideias, verificação da eficiência de propostas a partir de protótipos, testes com produtos em desenvolvimento e avaliação de produtos prontos.

Além da usabilidade, quais os outros conceitos que, se colocados em prática, ajudam o usuário a chegar o mais próximo o possível da “experiência perfeita” na web?

Na verdade a usabilidade envolve vários conceitos e é difícil enxergá-la como algo único. Estão contidos dentro desta grande ideia, trato em acessibilidade, procedimentos de arquitetura de informação, prototipação, validação, e por aí vai. Assim sendo, a lista de variáveis e conceitos é bem ampla. De qualquer forma, acredito que os membros de todas as equipes de desenvolvimento e produção precisam ficar bastante atentos com as demandas dos usuários e também com a validação de suas propostas, verificando, inclusive, a adequação destas junto aos usuários. Seguindo isso, é possível proporcionar excelentes experiências de uso.

O que você acha que um portal multimidiático de uma faculdade de comunicação precisa ter?

Precisa atender as necessidades dos usuários e contemplar os objetivos da instituição. Assim sendo, este tipo de descoberta deve ser feita pesquisando-se junto aos usuários do portal e, obviamente, consultando e entendendo os objetivos da instituição.

O apagão da mão-de-obra qualificada

Este é o primeiro de dois posts muito especiais resgatados dos arquivos do blog. Eles tratam do apagão de mão-de-obra qualificada no Brasil. Em especial no setor de comunicação e tecnologia. São 05 textos que consolidei em dois posts. Originalmente foram publicados em julho de 2010.

Na semana passada estava conversando com o Fred e um dos assuntos foi: estamos vivendo um apagão de mão-de-obra qualificada.

Sem sombra de dúvidas, estamos sim vivendo este apagão. Um dos indicativos mais latentes desta falta de mão-de-obra é este próprio blog. Se não fosse pelo apagão, ele estaria às moscas, mas ultimamente tem virado um balcão de vagas disponibilizadas pelos colegas do mercado que sabem que eu tenho um público primordialmente formado por profissionais da área e futuros profissionais (meus alunos). Sei que tem gente que não gosta que o blog seja substituído por um balcão de vagas, mas é meio que incontrolável.

Como a coisa já se instalou, vamos às perguntas e ações práticas:

Onde se manifesta o apagão?O apagão é claro na área de tecnologia. Desenvolvedores de interface, gestores de projeto, designers de experiência e de interação, programadores, profissionais de planejamento e marketing eletrônico são os que mais estão fazendo falta por aí…

Muito embora seja fácil notar que há vários cursos de graduação e pós nessas áreas (ou que contemplem estas áreas) o pessoal se divide em três grupos básicos:

  1. os bons de serviço que já estão empregados ou trabalham como freelancers e que dão o preço de seus serviços (ou seja: escolhem salários) – Esta galera representa algo entre 01 e 05% do total.
  2. profissionais ou estudantes medianos, que dão conta do recado e, por isso mesmo, vivem pulando de emprego em emprego (se paga R$ 10,00 a mais no salário, o povo tá indo) – Este montante representa algo entre 45 e 50% do total da mão de obra ofertada.
  3. profissionais ou estudantes medíocres. Este grupo dispensa apresentação e representa os 50% restantes da mão de obra ofertada.

Qual é o tamanho do apagão?Pelas contas feitas a partir dos grupos acima listados, dá para perceber facilmente que o mercado está trabalhando com uma capacidade ociosa alta. Praticamente todo mundo está precisando de gente de qualidade para trabalhar e não está encontrando.

Deve ficar bem claro que a questão não é falta de gente. Gente tem de sobra. O problema é que não tem gente capaz. Ou seja: embora tenha muita gente desempregada, isso não indica que o mercado está saturado. Mas de jeito nenhum! O que acontece é que tem muita gente ruim de serviço e pouca gente realmente qualificada!  Por mais que isso possa te deixar com raiva de mim, lembre-se que não sou eu quem está falando, é o empregador… É o dono de agência, de produtora e de fábrica de software… Esse pessoal está arrancando os cabelos pois tem demanda de trabalho mas não consegue achar gente boa o suficiente para trabalhar.

Sou um empregador, o quê devo fazer?Em primeiro lugar, tentar se virar com o contingente de mão-de-obra que tem. Num segundo momento, vejo algumas atitudes que não podem ser ignoradas:

  1. Seja realista e evite buscar aquele funcionário canivete-suíço. Este cara não existe e, se existisse, não estaria disposto a receber o que você quer pagar.
  2. Aumente sua proposta de salário. Isso ajudará a fazer os bons profissionais considerarem ficar mais tempo com você.
  3. Crie um ambiente bacana para o funcionário se sentir estimulado a trabalhar em sua empresa.
  4. Seja honesto com seus clientes com relação a esta questão de mão-de-obra e ajuste seus contratos. Talvez você esteja cobrando pouco demais e isso causa um efeito cascata em sua estrutura.
  5. Procure treinar profissionais que já trabalham com você e também os novos funcionários. Custa caro e é arriscado, mas se você oferece um bom salário, um bom ambiente de trabalho e boas condições, os riscos são minimizados. Investir em treinamento pode ser uma boa saída para o apagão, mas não funciona isoladamente.

Sou um profissional (ou quase). O quê devo fazer para tirar proveito do apagão?Antes de mais nada, seja honesto consigo mesmo e verifique em qual das três categorias de profissionais / estudantes você se encaixa. Se você se encaixa no grupo 1, relaxe e aproveite. Se se enquadra no grupo 2, procure uma empresa para ficar mais tempo trabalhando e lembre-se que se você ficar pulando de galho em galho, não crescrerá em lugar algum. Tente “aquetar o faixo” um pouco para crescer numa empresa que seja bacana para você. O mercado de trabalho não é uma boite… Encare um emprego como um relacionamento que você tem que trabalhar em conjunto com seu empregador para que seja duradouro.

Se você se encaixa no terceiro grupo de profissionais / estudantes, há muito para fazer:

  1. Passe a levar as coisas mais a sério. O mercado de trabalho não é como a escola, onde se você fizer o mínimo necessário, se dá bem. Aqui ninguém quer saber se o seu colega de grupo “barrigou” o projeto inteiro e sua responsabilidade pelo fracasso deve ser minimizada em função disso. O pessoal quer resultados. Então acorde para a realidade!
  2. Capacite-se. A culpa não é da sua escola. Falo isso pois sei que escola nenhuma te capacitará por completo. Assim sendo, mexa-se e corra atrás! Pode fazer cursos o quanto quiser, mas se você não se comprometer de verdade, nunca sairá do lugar. Esta capacitação inicial é primordial para você se dar bem depois. Pense nisso.
  3. Depois da capacitação básica, vá além! Especialize-se em algo. Escolha uma coisa e corra atrás dela. Aprenda a avaliar as oportunidades que aparecem e veja de que tipo de profissional o mercado está precisando. Busque ser este profissional. Pode ser com cursos, pode ser de maneira autônoma. Em raríssimas situações uma certificação oficial lhe será exigida. Então, não é “fazendo um curso” que você vai se capacitar. Muito menos abandonando a escola de vez. O segredo é realmente cursar algo ou comprometer-se com algo (caso não exista algum curso ou algo semelhante).
  4. Estude um segundo idioma. A totalidade dos medíocres ignora o inglês ou chega até a se orgulhar de não saber inglês. Pois tenha noção que sem inglês você perde muito. Perde em material de treinamento que é disponibilizado online gratuitamente em inglês, perde em leitura de livros bacanas e material técnico que não é traduzido, perde em oportunidades de trabalho pois o mundo inteiro anda precisando de gente bacana.
  5. Pratique, pratique e pratique! Mesmo que você esteja desempregado ou nunca trabalhou, pratique e monte um portfólio de projetos e de tudo o mais que você sabe fazer. É errando que se aprende.
  6. Mostre-se! Crie uma presença online bacana o suficiente para que os empregadores saibam que você existe!
  7. Seja humilde. Entenda que dificilmente somos os melhores do mundo em alguma coisa. Assim sendo, aprenda a reconhecer a limitação de suas capacidades e seja honesto sobre elas.
  8. Reconheça seus erros e amadureça. Se alguém da empresa disser que algo que você fez não ficou legal, não leve para o lado pessoal. Reconheça, corrija e aprenda com seu erro. Fechar os olhos para isso é uma sentença de morte profissional.
  9. Saiba que você deve começar por baixo. Provavelmente o pessoal ainda não te conhece. Então, fica difícil você exigir o melhor cargo e o mais alto salário. Aprenda a trabalhar com o que lhe é oferecido e aproveite cada oportunidade para crescer.
  10. Tenha paciência e saiba a hora de pedir aumento ou aumentar o seu preço. Isso demora, mas não é inalcançável. Você vai ter que trabalhar por pouco dinheiro por muito tempo, mas isso vai compensar.

ConclusãoTem muita vaga sobrando. Tem muita gente medíocre sobrando. Enquanto você não fizer nada a respeito, a coisa vai continuar assim. Uma coisa que aprendi logo no começo da minha graduação – há quase quinze anos – foi que não existe falta de trabalho para quem é bom de serviço. Até o momento, não vi nenhum exemplo para suspeitar que isso não seja uma grande verdade. Outra verdade é a de que quem é realmente bom de serviço faz o seu salário. Novamente, nunca me deparei com nenhuma ocorrência que contrariasse isso. Ou seja: o apagão existe e é um buraco cheio de oportunidades para quem quer se dar bem. Vão se dar bem o profissional que souber aproveitar as oportunidades e os empregadores que os empregarem.

Especializar-se ou estudar inglês?

Hoje recebi uma mensagem muito bacana de um ex-aluno que se formou já há algum tempo e que estava na dúvida se cursava uma especialização na área em que trabalha (logística) ou se buscava capacitação em inglês.

Como imagino que esta seja a dúvida de muita gente, resolvi compartilhar aqui no blog o que respondi a ele:

Se eu estivesse em sua situação, colocaria as seguintes coisas na balança:

  1. Há quanto tempo eu me formei?
    (quanto mais tempo de formado, maior a necessidade de uma volta à escola para reciclagem)
  2. Estou trabalhando numa área que domino?
    (se sim, a necessidade de me especializar formalmente na área que domino será restrita ao título)
  3. Qual é a minha estabilidade em meu emprego?
    (maior estabilidade indica que posso buscar algo que expanda meus conhecimentos numa esfera mais ampla de minha carreira. Não necessariamente algo que vá me especializar em um assunto específico ou único; partindo, claro, do pressuposto de que eu estou trabalhando em algo que já domino)
  4. O que fará a maior diferença em minha carreira?
    (caso o setor em que você atua valorize mais a titulação de especialista, temos que considerar esta como a primeira opção. se o setor prioriza uma formação mais completa e demanda conhecimentos culturais que vão além do diploma de especialista, a escolha é outra)
  5. Esta especialização vai me demandar muito de leitura e material didático em inglês?
    (áreas ligadas a tecnologia têm esta peculiaridade; dessa forma, o inglês é um pré-requisito para uma boa especialização)

Então…  Colocando os itens na balança, você deve ter uma boa noção do que fazer. Lembre-se: faça algo quando estiver pronto para fazer bem feito. Compromisso, vontade de aprender e dedicação serão fundamentais tanto numa especialização quanto num curso de inglês. Do contrário, você estará jogando tempo e dinheiro na lata do lixo.

Pessoalmente, recomendo a todos que estudem inglês antes de se especializarem. Acredito muito (por causa da minha área de atuação)que você se capacita melhor na sua área quando expande seus limites de conhecimento. O idioma estrangeiro é excelente para expandir estes limites.

Enfim… não é uma escolha fácil. Mas colocando estes elementos numa balança, creio que a coisa fique menos complexa de decidir.

Boa sorte e sucesso em sua escolha!

Como disse antes, espero que esta mensagem ajude a quem quer que esteja com o mesmo “dilema” a fazer uma boa escolha.

Recursos interessantes em webdesign: wireframes

Wireframes são ferramentas imprescindíveis para quem se envolve com projetos web. De uma maneira simples e direta, eles ajudam a explicar para o seu cliente (ainda na proposta / projeto de site) como as páginas serão – antes mesmo delas serem. Além disso, é um documento muito importante para que a equipe de produção consiga tocar o projeto antes que sejam feitos os layouts.

Para ter uma idéia mais visual do que são os wireframes, você pode ver uma série de exemplos deles fazendo uma busca por imagens de wireframes no google, por exemplo. Selecionei alguns exemplos bacanas – com diferentes níveis de detalhamento – aqui, aqui, aqui e aqui.

Bem, agora que você já sabe – pelo menos por alto – o que são e como são os wireframes, fica fácil raciocinar, então, que eles darão a orientação necessária para o desenvolvimento de seus layouts.

Criar wireframes é simples. Você pode fazê-los online (algumas ferramentas interessantes são o Gliffy e o Creately), em software específico (tem gente que adora o Axure, mas ele é caro que dá até dó!) ou em seu editor de imagens predileto (Photoshop é uma boa pedida, mas não menos cara). Há os mais radicais – como eu – que usam apenas papel e lápis para fazer wireframes. É óbvio que depois de desenhar numa folha de papel eu “passo a limpo” meus wireframes num editor de imagens. Para isso, eu uso o Gimp.

A orientação inicial para construir wireframes deve ser a mesma usada para a construção de um layout. Assim sendo, é uma boa se inteirar sobre grids e sua importância. Uma excelente ferramenta para se entender grids é essa apresentação do Mark Boulton e Khoi Vinh. Para colocar os grids para trabalhar a seu favor, uma referência imperdível é o 960 Grid System. Lá você encontra tudo o que precisará para conceber wireframes e layouts dentro (ou a partir) de um grid.

Não se esqueça que os modelos de páginas que você vai conceber devem atender às necessidades dos seus usuários e – ao mesmo tempo – buscar resolver as questões direcionadoras (objetivos) de seu site. Se você não prestar atenção nisso, o fracasso será certo.

Recursos interessantes em webdesign: personas

Personas são – de maneira curta e grossa – personagens que você concebe a partir de dados coletados acerca do público para o qual você construirá o site. Elas servem para que você, literalmente, personifique as necessidades e características destes tipos de usuários para que seja mais fácil construir as soluções destinadas a resolver os problemas que eles têm.

É importantíssimo, então, que se tenha muitos dados sobre os diferentes tipos de usuários que seu site vai atender. Estes dados podem ser coletados a partir de observação, entrevistas ou aplicação de questionários. Uma boa referência para se entender o processo de obtenção destes dados iniciais é o vídeo the deep dive, oriundo de um programa da tv americana que mostrou o processo de criação da empresa de design Ideo. No começo do processo, as equipes de design buscam dados sobre os usuários e depois organizam estes dados coletados para nortear a produção da solução. Construir uma persona é um processo que pode seguir este caminho, por exemplo.

As personas vão te acompanhar por todo o processo de construção deste site. No momento inicial, elas te ajudam a definir as funcionalidades do site e a linguagem do conteúdo, por exemplo. Num momento imedaitamente posterior, elas te ajudarão a definir o aspecto visual e orientação criativa do layout das páginas. Na etapa de produção, elas te acompanharão na verificação da adequação das soluções de tecnologia aplicadas. E, claro, em todos os momentos de testes e consultas a usuários elas vão te indicar quem deve ser procurado para colaborar com os procedimentos.

Parece difícil, mas não é. E vá por mim, trabalhar personas traz uma diferença positiva brutal ao resultado final de um projeto web.

Se você se interessou sobre o assunto, consulte a maior referência da web sobre o assunto: Mr Alan Cooper, além de cunhar o termo, escreveu extenso material sobre Personas.

Sobre marketing e relacionamentos

Para quem nunca percebeu, relacionamentos entre empresas e consumidores são como relacionamentos entre pessoas. Sempre uso esta analogia em sala de aula; meus alunos devem estar cansados de ouvir. Funciona com estratégias de venda, relacionamento (óbvio), fidelização e desenvolvimento de produtos.

Veja o caso do Data Liberation Front. É a própria empresa (no caso, Google) te dizendo o que fazer caso você queira se desligar dela. Claro que isso não é novidade. Há uma pá de serviços que oferecem este tipo de informação e funcionalidade a seus usuários. Outro exemplo é o do SquareSpace, que usa esta possibilidade como argumento de venda.

O fato é que é eficiente. E muito.

Como nos relacionamentos pessoais (pense em um namoro, por exemplo): quanto mais possessiva e ciumenta é uma parte, maior é a propensão da outra parte querer se desvencilhar e partir pra outra, certo? Para usar uma analogia zen, pense numa mão segurando um monte de areia. Se a mão fica aberta, a quantidade de areia é maior do que a que fica quando se fecha a mão…

Pra pensar, né?

A importância de uma presença online profissional

Para quem trabalha ou quer trabalhar com web, estar na web é prioridade. Isso pode parecer (e é) básico, mas tem muita gente que ainda não compreende bem esta necessidade.

Convença-me

A possibilidade de teletrabalho que a internet oferece e a cada vez mais crescente tendência de os trabalhos serem executados por equipes de freelancers ao invés de empresas formalmente estabelecidas (ou ainda: as empresas formalmente estabelecidas têm contratado cada vez mais profissionais freelancers independentes – desculpem o pleonasmo – para colaborar em seus trabalhos) faz com que seja cada vez mais necessário para estes profissionais figuararem de maneira profissional na web.

Aparecer para ser contratado

Quando uma agência ou produtora vai contratar um profissional para fazer parte de sua equipe ou para colaborar em um projeto, duas coisas são muito importantes: ter referências sobre o profissional e saber das capacidades do profissional.

Num período passado, resolvia-se isso com uma entrevista, análise de currículum e portifólio e um telefonema para alguma referência. Levava tempo.

Hoje, em tempos de mídias sociais, blogs, Twitter e adjacências, é possível fazer uma seleção de um profissional sem que o profissional sequer saiba que está sendo selecionado. Em função disso, este profissional que quer ser selecionado, deve se preparar para que conheçam seu trabalho.

É por isso que recomenda-se que o profissional construa uma presença online sólida e consistente.

Em defesa do site pessoal do profissional

Em termos práticos, construir esta presença online profissional implica em: montar um portifólio de qualidade e expor seus trabalhos mais representativos nele. Em se tratando de um profissional que queira trabalhar com desenvolvimento web, é mais do que básico que este profissional seja dono de seu próprio nariz na rede. Ter um domínio e lá colocar seu portifólio é uma excelente (e básica) decisão.

Além do site com portifólio, é legal que as pessoa mostre suas opiniões e reflexões sobre o cenário profissional. Um blog ajuda a resolver isso de maneira bem interessante. Tem gente que pensa que blog é bobagem ou que é apenas para opiniões pessoais. Nada disso. Pense na situação em que você deve escolher um novo diretor de arte. Você tem dois candidatos com trabalhos muito bacanas. Mas um deles colocou só os seus trabalhos, e o outro tem um blog onde discute – com bons textos e muita propriedade – assuntos relacionados ao oficio do diretor de arte e todas as áreas que com esta se relacionam. A chance de você escolher o segundo (ou de qualquer outra empresa fazer isso) é muito maior. Portanto, mostrar a que veio ao mundo é também muito interessante e não há ferramenta mais apropriada para isso do que um blog.

Ser um usuário ativo de redes de compartilhamento de conhecimento, recomendações e outros tipos de sites e serviços que fomentem a interação social também pode ser muito interessante. Perfis no Twitter, Flickr e Delicious ajudam a mostrar para o mundo o que você faz todos os dias. Afinal, em seu portifólio você coloca apenas aquilo que merece destaque, certo?

Conclusão
(estou adorando escrever posts com “conclusão”)

Com isso tudo, seu site pessoal acaba virando um local que, além de abrigar seu blog, seu portifólio e seu currículum, é também um local onde você concentra as referências para todos os locais onde está presente no ciberespaço. E, convenhamos, não há lugar melhor para fazer isso com toda liberdade que você precisa do que um site seu.

InterAct 2009

Gostaria de ter falado um pouco mais. Gostaria de ter dialogado com a platéia. Gostaria que tivesse dado tempo de finalizar apropriadamente a apresentação. Mas não deu. Então aproveitarei este post para explicar um pouco a minha apresentação no InterAct2009.

A motivação para a apresentação

A minha motivação para esta apresentação era a de deixar claro que fazer design centrado no usuário (DCU) e ter preocupação com usabilidade não são coisas que implicam em fazer sites “feios” ou “quadrados”.

A apresentação

De início, quis mostrar referências que apontam a necessidade de se trabalhar de forma equilibrada as duas vertentes que mais conhecemos quando falamos em design: a funcional/racional e a emocional. Normalmente associa-se o trabalho de DCU e o trato com usabilidade com o lado estritamente racional e funcional do design; e isso faria com que esta “vertente” se coloque de maneira diametralmente oposta à da criatividade e emoção. Só que enxergar estas coisas dessa maneira não é bacana e esta visão de que o emocional se opõe ao racional não é verdade.

A “moral” dessa história é a de que o profissional de design deve equilibrar adequadamente os dois conjuntos de fatores.

Design e emoção

Donald Norman, no excelente trabalho que fez (e vem fazendo) sobre Design Emocional mostra que além de atender quesitos relacionados à funcionalidade, eficiência, utilidade e uso, os dispositivos devem ser pensados para que despertem reações de afetividade, intimidade e afinidade nos usuários.

Em outras palavras, trabalhar usabilidade implica em atender de forma plena quatro conjuntos de quesitos: 1) capacidade de ser usado com sucesso; 2) facilidade de ser usado; 3) capacidade de o usuário aprender a usar o dispositivo de forma simples e rápida; 4) Provocar satisfação ao usuário.

Quem enxerga design como um processo puramente racional ou puramente emocional deixa de lado importantes elementos que não devem ser esquecidos; normalmente falham em função disso.

Os exemplos

Todos os exemplos apresentados referem ao uso racional de tendências visuais sem que sejam desconsiderados aspectos relacionados à facilidade de uso e usabilidade. Há exemplos de sites com animações muito bem contextualizadas sem que seja usado o famigerado Flash. Há exemplos de portais e sites que deixam claro a que vieram e o que pode ali ser feito sem deixar de lado aspectos relacionados à equilibrio e estética. Há exemplos de aplicativos usados pelo browser que são bonitos e eficientes com elegância e há um mau exemplo de uso de tecnologia Flash para “enriquecer” a experiência esquecendo-se de uma série de heurísticas que poderiam ajudar bastante ao verdadeiro enriquecimento da experiência do usuário.

Balanço final

Eu gostaria de ter tido tempo de falar sobre os exemplos escolhidos na hora da apresentação. O ritmo de pastelaria do ambiente não permitiu isso, e nem o diálogo que gostaria de ter tido com os presentes.

Me pareceu que o conteúdo que procurei abordar não era muito bem visto pelos responsáveis pelo ambiente onde me apresentei. Me senti chateado com brincadeiras jocosas feitas antes de me ser dada a palavra e o jeito que minha apresentação foi finalizada – abruptamente – não me agradou. Entendo perfeitamente a questão da limitação do tempo em um evento como estes. Participo deste tipo de evento como palestrante há, pelo menos, dez anos. Já organizei vários e o que ocorreu comigo me pareceu ser a manifestação de alguém que não queria estar alí ou não estava satisfeito com o que estava vendo. Faz parte.

Enfim, de qualquer forma, o balanço do evento foi muito positivo. Não pude estar presente desde o início em função de minhas aulas no doutorado. Cheguei no meio da tarde; mas gostei bastante do que vi. O Tiago e sua equipe do iMasters estão de parabéns. O evento foi muito bacana e iniciativas como esta devem ser sempre valorizadas.

Tô afinzão de ver a apresentação do Horácio sobre acessibilidade. Conversamos no corredor por intermédio do Guilherme Marques mas não pude ver ao vivo a fala dele no evento. Quero muito trocar mais figurinhas sobre o assunto.

Já estou torcendo para a chegada do próximo e ansioso para novos eventos – tanto nacionais (como o de ontem) quanto regionais (BH e Minas carecem muito disso) – onde os profissionais podem trocar idéias e mostrar o que tem sido feito (especialmente em BH; gostaria de ver mais eventos onde os profissionais daqui falam mais… conversei muito sobre isso com o Alexandre e com o Márcio; o povo da Plan B eu não vi lá, mas eles sabem desta minha vontade há tempos e sei que compartilham a coisa).

Mais uma vez, parabéns Tiago e iMasters pelo evento. E obrigado a todos que estavam presentes em minha apresentação.

Agradeço especialmente ao Eduardo Loureiro, ao Herbert Rafael e ao Vorkurs por me apresentarem grande parte dos exemplos (que seriam) comentados.

 

Web 2. 0: Novas considerações

Novamente um post oriundo dos arquivos do blog. Desta vez uma releitura de uma coluna escrita para a Revista WWW em 2005. O post foi publicado no dia 18 de abril de 2009.

Quando o termo surgiu, lá em 2005, confesso que fui um dos primeiros a descer a lenha na conceitualização cunhada por Tim O’Reilly (para quem não lê inglês há uma versão traduzida do artigo original aqui. Mais definições aqui e aqui). Por um bom tempo eu sustentei a argumentação de que a coisa mais parecia um embuste de guru; sem validação e sustentação teórica.

Entretanto, confesso também que minha opinião mudou depois que comecei a refletir bastante em cima das propostas do texto (sim, demorou três anos para isso acontecer. Não se pode apressar algumas coisas e, embora a vida na web seja aparentemente mais rápida do que é no mundo “de verdade”, sem este tempo de reflexão e maturação, ao contrário do que se espera, a sociedade pára).

É importante ressaltar que várias coisas que li e que vi por aí na web não me ajudaram a mudar a opinião. Muito se escreve que a web 2. 0 traduz novos aplicativos e conceitos; o que não é verdade. Por isso que eu ajudava a entoar o coro de que o conceito era questionável (para ser bastante eufêmico). O que ocorre é que web 2. 0 não diz respeito a aplicativos ou a versões da web, como muitos acham que é e outros tantos  (como eu) argumentavam ser total non-sense.

Por isso resolvi escrever estas linhas para buscar uma melhor interpretação e compreensão do termo, que se refere muito mais a uma nova maneira de enxergar a web, e não de fazer a web necessariamente (embora uma coisa possa implicar a outra em grande parte dos casos).

Comecei a perceber isso quando lia e relia as argumentações de O’Reilly, onde ele diz que uma importante característica da web 2. 0 é que a informação agora volta e o UGC é peça-chave para o entendimento da web 2. 0. Quando eu lia e relia estas informações, menos entendia a web 2. 0, pois pensava (com razão): “Mas os fóruns e grupos de discussão são isso há um tempão e a wikipedia é, também bem anterior à web 2. 0; por qual motivo vir com este termo agora? por qual motivo tentar versionalizar algo que não tem jeito de ser versionalizado?”

O fato é que o cerne da questão não é a tentativa de versionalizar nada e nem mesmo de fazer explicações rápidas e isoladas. Da mesma forma que é bastante equivocada a argumentação de que o comércio eletrônico representa a “nova economia”*, é equivocado dizer que a web 2. 0 trata da web como plataforma, ou de aplicativos web usando Ajax ou ainda de “beta permanente”.

É mais do que isso. Web 2. 0 é uma nova (aí sim) maneira de enxergar a web e seu potencial, que sempre esteve lá, mas que somente depois de 10 anos de internet comercial começou-se a usar estas características já há tanto tempo identificadas. É novo porque ainda tem gente que trata a web como um simples canal de comunicação, o que não é bem a realidade. A web é um espaço onde coisas acontecem. Muito mais coisas acontecem neste espaço do que em canais de comunicação convencionais (a TV, o rádio e os jornais impressos, por exemplo, são canais de comunicação onde a informação trafega em apenas uma direção). Por isso é, também equivocado dizer que a web é “apenas” um canal de comunicação.

O conceito de web 2. 0 nos ajuda a enxergar isso. Neste espaço / ambiente em que se configura a web, não há hierarquia, influência do poder econômico e nem a necessidade de uma concessão do governo para enviar mensagens. Este rompimento de paradigma que nasceu com a web, mas que até 2004/2005 parecia estar hibernado, é o que realmente dá significado à web 2. 0. O suporte de aplicativos proporciona apenas (sem desvalorizar, claro) a estrutura para que isso ocorra com mais facilidade e acesso a um maior número de pessoas.

Mas por qual motivo falar disso agora?Bem, em primeiro lugar, pois eu não vi em nenhum lugar este tipo de explicação e fazer este tipo de esclarecimento me parce bastante oportuno no momento. Em segundo lugar, para deixar claro o meu entendimento da coisa a quem interessar possa.

Mas o mais importante motivo que me faz querer falar disso agora é que tenho visto muitas empresas que têm a faca e o queijo nas mãos para usar e abusar da web 2. 0 e se beneficiar bastante com isso, mas escolhem um caminho que pode não ser muito legal. Citarei três (para não deixar este post ainda mais longo) exemplos de empresas que em pleno ano de 2009 parecem não ter sacado o conceito (viu como eu não demorei tanto?) de verdade.

Para exemplificar e analisar a coisa com o mínimo de rigor metodológico, escolhi empresas de varejo. Tomo com referência para as observações a Amazon que faz uso de algumas premissas do conceito de web 2. 0 com bastante êxito. Para não deixar as análises ainda mais longas, focarei em apenas uma premissa: participação do usuário. Assim fica mais fácil tecer os comentários.

Pensemos no nosso exemplo (Amazon) e observemos como a coisa funciona lá em termos de participação dos usuários. Na Amazon, os produtos podem ser comentados pelos consumidores e avaliados por eles. Para evitar fraudes (registradas), os próprios usuários têm seus comentários avaliados pelos outros usuários. Um comportamento bem condizente com as premissas da web 2. 0 (conteúdo gerado pelo usuário e criação de espaços de comunicação / interação entre as pessoas ao invés de apenas “entregar” informações). Com esta iniciativa, a Amazon permite que sejam criadas comunidades em sua loja. As pessoas ficam mais tempo no site e recebem auxílio de outros consumidores para tomarem suas decisões; afinal, a opinião de outra pessoa como eu vale muito mais pra mim do que a opinião do vendedor. Além disso, é fornecido ao consumidor a possibilidade de trocar idéias sobre os produtos em um fórum de discussão com acesso imediato, logo na página do produto. As conversas que vi nestes espaços vão além da recomendação de um produto ou sua avaliação e rumam para a colaboração efetiva entre os consumidores: um consumidor ajudando outro que tem dúvidas sobre o uso de um produto específico, por exemplo.

Ou seja: a aplicação de alguns princípios simples implicou em uma série de benefícios para a empresa. eu mesmo já me vi comprando produtos na Amazon não por outro motivo senão a recomendação de alguém. Isso não acontece facilmente em uma loja tradicional (física) e muito menos nos exemplos brasileiros.

  1. Casas BahiaUma pena que o maior varejista do setor no país tenha iniciado sua operação na web apenas em 2009. O atraso, entretanto, poderia ter proporcionado às Casas Bahia uma entrada triunfante na web brasileira. Afinal, não é todo mundo que pode se dar o luxo de começar do zero uma frente de vendas na web em plena era da web 2. 0.   Só que o que aconteceu foi o lançamento de uma loja bem, digamos, web 1. 0. Não há nenhum tipo de recurso que passe perto da possibilidade de avaliar um produto ou deixar meu comentário. A coisa mais perto disso (embora esteja bem distante, deve-se dizer) é a funcionalidade de mandar um e-mail a alguém com um link de um produto.
  2. Magazine LuizaO pioneiro do comércio eletrônico no Brasil ficou prá trás na web 2. 0. Aqui também há apenas a possibilidade (bem escondida, por sinal) de enviar um e-mail a alguém com um link para um produto. A possibilidade de interação pára por aí. Interação, então, nem pensar.
  3. SubmarinoA empresa que é sinônimo de vendas pela web no país parece ser a única que oferece esta funcionalidade, embora muito pouco explorada. Ao final das páginas dos produtos, é possível avaliar o produto e colocar uma opinião sobre ele. Mas a coisa pára por aí. Embora possa parecer bastante se comparado aos outros players brasileiros, o que temos aqui passa longe do que seria um pleno uso das possibilidades que podem ser exploradas com este tipo de funcionalidade. Além disso, esta possibilidade não é muito trabalhada junto aos consumidores. Ninguém se sente estimulado ao comentar sobre um produto e o caminho para isso não é muito claro (aposto que tem gente que compra regularmente na loja e nunca viu isso). Então… Apesar de ter algum tipo de ferramenta que pode ser bastante aproveitada, o Submarino perde muito ao não dar destaque a esta ferramenta e ao não incentivar o usuário a utilizá-la plenamente.

Então… Se alguém teve a paciência de ler até aqui, é hora de agradecer e concluir, certo?

Pois bem… É legal então ver que o conceito de web 2. 0 é muito mais amplo e interessante do que o uso da web como plataforma e certamente refere-se muito mais a uma mudança de comportamento ao enxergar a web do que uma palavrinha da moda.

Talvez por causa da interpretação errônea do conceito temos visto muitas empresas ignorarem alguns princípios bem interessantes e que podem ser bem vantajosos tanto aqui no Brasil quanto lá fora (aliás, este é outro conceito que devemos aprender a repensar… com a web, não existe mais “aqui” e “lá”, mas isso deve ser assunto para outro post).

*Vale explicar que esta abordagem é equivocada pois embora tenhamos alterações substanciais no composto de marketing, por exemplo, a virtualização do comércio não faz o suficiente para ser atribuído a este processo o título de “nova economia”; afinal, pessoas continuam trocando bens e serviços por dinheiro ou outros bens e serviços. Isso não é nada novo. Apenas o balcão mudou, não a economia.

Aprendendo a aprender

Volta e meia me vejo em conversas que têm como tema as relações entre alunos e as instituições de ensino. Sempre – nestas situações – me lembro de um post de 2003 do blog do Kottke que fala sobre o que precisamos entender para aprender. Ele cai como uma luva para explicar e dar suporte a  várias argumentações que construímos neste tipo de conversa. Entretanto, como ele não citava a fonte das informações em seu post, eu me sentia reticente ao me referir ao texto.

Só que hoje eu estou com tempo (super sarcasmo mode on) e resolvi traduzir a lista de ítens a considerar quando queremos aprender algo (minha tradução do título do post). Poque mesmo que não venha de uma fonte que eu consiga identificar, é um texto bacana e pode auxiliar muita gente.

O engraçado é que o Kottke postou a lista justamente por causa de uma situação específica em que ele e alguns colegas de trabalho (o texto é da época em que ele ainda não vivia de ser dono de blog) passaram. Ou seja: encaixa-se bem com as situações com as quais eu me deparo de quando em vez.

Sem mais delongas, então, a lista de coisas a considerar quando queremos aprender algo:

1. Release the need to be right. 1. Livre-se da necessidade de estar sempre certo.  Isso é bastante interessante. Nem eu estou ali por acaso (quero aprender) e nem a pessoa que foi colocada alí (ou que eu escolhi) para me ensinar sem que houvesse uma razão (normalmente baseada na competência) para tanto. Então, embora pareça óbvio, é sempre legal lembrarmos que para aprender, precisamos entender que não sabemos algo e que isso nos será ensinado ou nos ajudarão a descobrir. Assim sendo, é bem provável que – durante o processo – venhamos a cometer algum erro. Ou seja: não estamos sempre certos. Então, que nos livremos dessa necessidade, né?

2. Welcome one another’s thoughts and opinions. 2. Agradeça e esteja aberto a ouvir os pensamentos e opiniões dos outros.  Esta é bem legal. É bem freqüente alunos irem pra casa com dúvidas após uma aula. Isso é péssimo. Mas acontece porque muita gente recrimina o aluno que pergunta durante a aula. Que tal sermos mais tolerantes com isso? Outra situação bem freqüente é a de uma pessoa achar que está correta (não levando em conta o ítem anterior) e, por conseqüência, as outras – que por ventura tenham opiniões contrárias ou mesmo um pouco diferentes – estão erradas.

3. Suspend judgment. 3. Suspenda os julgamentos.  Para aprendermos, temos que estar abertos ao que nos é oferecido. Segurar um pouco nosso ímpeto de julgar (ou mesmo pré-julgar) as coisas que chegam pra gente.

4. Listen for understanding, not rebuttal. 4. Escute buscando o entendimento, e não apenas para construir contra-argumentações. Essa é também uma boa. E complementa os ítens anteriores. É muito comum as pessoas confundirem o desenvolvimento de senso ou olhar crítico com do desenvolvimento de um comportamento de criticar tudo o que lhe é apresentado. É sempre bom lembrar que são duas coisas bem diferentes.

5. Make personal statements by using “I” rather than “you”. 5. Faça suas considerações pessoais usando o “eu” ao invés do “você”.  Normalmente as pessoas quando adotam a postura de criticar tudo e todos, não fazem qualquer referência a si mesmos, sempre falando (provavelmente mal) dos outros. Para nos colocarmos em condições de aprender algo, devemos adotar esta postura. Isso evita que fiquemos falando das coisas dos outros e falemos mais de nós (as críticas tendem a diminuir).

6. Clarify first what was said before you challenge someone. 6. Torne claro o que foi dito anteriormente (por você ou por outros) antes de desafiar alguém numa argumentação.  Normalmente as argumentações e embates de idéias acontecem de forma bem calorosa quando há ataques.   E isso tudo se origina (em grande parte das vezes) porque alguma idéia não ficou clara. Tentemos então deixar as coisas bem claras antes de partirmos para o embate, que tal?

7. Take time to reflect. 7. Tire um tempo para refletir.  Isso serve para que tenhamos como “digerir” o que chegou até nós. Se não dermos tempo para fazer isso, as nossas conclusões podem não ser as mais legais. E em tempos de imediatismo exacerbado catalizado pela velocidade ta troca das informações, a gente tende a eliminar este tempo para refletir. Pior pra gente. Portanto, nunca é demais reforçar a máxima de pensar antes de falar e de agir.

8. Lean into discomfort. 8. Apóie-se (acostume-se a apoiar-se) no desconforto.  É das situações de desconforto que a gente consegue chegar às soluções mais geniais. Assim é no campo das idéias e da reflexão. Aprender é coloca-se no estado de desconforto, uma vez que você não sabe a coisa. A posição desconfortável de não saber ou não compreender algo é primordial para que possamos chegar ao ponto do entendimento compreendendo o processo de busca (o que é mais importante do que saber a coisa em si).

9. Respond first to what was said before making your point. 9. Responda primeiro à pergunta (ou afirmação) feita e depois exponha sua idéia.  Isso é bacana para que as coisas fiquem claras (6) e também para que a gente possa evitar falar dos outros (5) e atacar (4) os interlocutores.

10. Have fun. 10. Divirta-se.  Quando a gente aprende a aprender, o processo (que é o mais importante) deixa de ser tedioso e passa a ser divertido.

Então… Embora com cinco anos de diferença, é sempre legal agradecer ao Kottke por ter tornado a lista pública. E foi ótimo tirar da cabeça estas argumentações que fervilham aqui na cabeça desde 2003 quando tive contato com a lista.

Espero que ajude alguém a aprender melhor; respeitando colegas, instituições e professores.