10 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
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10 de setembro de 2024
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Como andam seus hábitos de segurança especialmente relacionados ao uso de senhas?

Não me diga que você é daquelas pessoas que usam a mesma senha para todos os sites e serviços, né? Isso não deve ser feito de forma alguma!

Sei que não sou o único a falar isso, mas é porque pesquisas mostram que muita gente acaba usando as mesmas senhas para mais de um serviço.

Ninguém está negando que é um saco ter que gerenciar e memorizar senhas para tudo quanto for serviço que você tiver que usar. Mas se você tem este péssimo hábito de usar a mesma senha para mais de um serviço, saiba que a primeira coisa que acontece quando há um vazamento de dados e senhas de acesso de usuários são publicadas é o pessoal das más intenções testar esta mesma senha em diferentes serviços que você possa usar. Boa parte das vezes esta coisa funciona porque – justamente – muita gente acaba usando as mesmas senhas para tudo.

🤷‍♂️

Então, a minha recomendação inicial hoje é a de que você deve se proteger mais. Se você tem este péssimo hábito de compartilhar senhas em diferentes serviços, vá mudando as senhas aos poucos. Coloque senhas difíceis e diferentes para cada coisa que você usa. Este processo pode ser executado a cada vez que você vai acessando um dos serviços. Assim fica menos chato trabalhar a sua proteção.

Uma outra coisa que eu recomendo é que você não anote suas senhas em nenhum lugar visível ou acessível a ninguém sem proteção. Deixar um caderningo ou um papelzinho com as suas senhas anotadas em algum lugar é receita perfeita para ter problemas no futuro.

A recomendação nesse sentido é usar um serviço de gerenciamento de senhas. Há vários deles por aí e muitos testes certificando a segurança deles. Pessoalmente eu recomendo o Bitwarden. É uma solução gratuita para uma pessoa e que tem a possibilidade de integração com seu navegador ou mesmo usar em um aplicativo no celular e no computador. As senhas são guardadas protegidas por – isso mesmo – uma senha e você pode resgatar suas credenciais onde quiser, desde que esteja conectado à internet. É um esquema bem fácil de usar. Uma vez que você instala o Bitwarden, a única senha que você vai memorizar é a dele. O resto vai estar tudo guardada lá dentro. Daí é só proteger esta conta. Simples e fácil.

Existe ainda uma outra abordagem de segurança que é você ter um banco de dados criptografado com suas senhas e usar um aplicativo em suas máquinas para abrir este banco. Nada de usar serviços de empresas. Essa abordagem é mais privada e te dá mais autonomia. Muita gente curte, por exemplo, usar o Keepass (que é um aplicativo que tem para celular e computador) para gerenciar este banco de senhas (que muitos chamam de cofre) sincronizando tudo num DropBox da vida. è uma solução interessante e bastante segura.

O que você não deve fazer, então, é ficar desprotegido.

Enfim, é isso que tem pra hoje.

09 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
O que tem pra hoje?
09 de setembro de 2024
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(publicado no dia 10 por motivos vários)

Existe uma expressão muito peculiar no nosso idioma que é “pagar lingua“. Pagar lingua é uma expressão que usamos quando alguém faz algo que dizia ser contra.

Eu sou mestre em fazer isso. Acho que sou a pessoa que mais pagou lingua em toda a sua vida. Pelo menos sou a pessoa que mais pagou lingua que eu conheço.

O exemplo mais recente de meu pagamento de língua é o fato de que agora estou usando o ambiente de desktop KDE em meus computadores.
Há coisa de poucos meses eu cheguei falar muito sobre o quanto eu odiava o KDE publicamente para quem quisesse ouvir.

Quando voltei a usar Linux em 2022/2023 eu havia acabado de sair de anos usando mac. Então a entrada mais obvia seria pelo ambiente do Gnome. Fiquei uns meses usando, não me acomodei direito e me senti em casa no Cinnamon. Usei o Cinnamon por bastante tempo até que fui picado pelo bichinho do distro hopper e acabei voltando pro Gnome. Só que eu nunca me senti verdadeiramente em casa no Gnome. Muita coisa me incomoda lá. No entanto resolvi seguir usando para ver se me acostumava. Afinal, é o ambiente mais usado. Novos meses passaram e eu estava, de fato, me adaptando ao Gnome.

Ah, e vale lembrar que durante todo este tempo que eu usava o Gnome, depois o Cinnamon e de volta ao Gnome, uma coisa eu não deixava de fazer: falar mal do KDE.

Só que daí um texto com várias críticas ao Gnome chegou em minhas mãos. Lendo o material eu fui identificando todas as coisas que me incomodavam no Gnome e que eu passava por cima por qualquer que fosse o motivo.

Só que, ao ler aquele texto, as ideias ficaram em minha cabeça e as incoerências visuais do Gnome ficaram por demais desconfortáveis pra mim. Não dava mais para tolerar.

Ao invés de voltar para o Cinnamon, que eu adoro, mas que tem problemas (um deles é justamente ser meio que escorado no Gnome para várias coisas), eu quis experimentar algo mais moderno.

Resolvi dar outra chance ao KDE.

Olha, talvez tenha sido a melhor coisa que eu tenha feito nos últimos tempos. O KDE é robusto e coerente. Pode ter um visual e uns comportamentos estranhos à primeira vista. Os ícones que ficam pulando pela tela quando acionamos um software, por exemplo, são das coisas que mais demorei a me acostumar. Há também muitas opções e configurações. Mas se você se concentrar e trabalhar de forma focada, não vai se deixar levar pela profusão de personalizações e conseguirá estabelecer um workflow bem produtivo.

Eu encontrei o meu no KDE e agora estou pagando lingua. Recomendo a todo mundo tentar fazer algo que antes não fazia para ver se a sua opinião não muda, né? Melhor ser uma metamorfose ambulante do que ter opiniões cristalizadas.

Hoje estou em lua de mel com o KDE. Entendi que não é só porque a gente pode mexer em todo e qualquer aspecto de uma interface que a gente deva fazer isso. Então ciente dessas possibilidades, sigo minha vida no conforto de usar um ambiente bem robusto e estável.

Levando em conta as mudanças futuras do Windows na próxima versão, eu acho que muita gente que liga para segurança e privacidade vai acabar migrando para um sistema baseado em Linux e a minha recomendação é testar o KDE porque vai ser bem mais fácil as pessoas se sentirem bem neste ambiente. Minha pedida é que testem o Kubuntu, o Fedora KDE ou mesmo o OpenSuse. Para quem tiver mais coragem (ou auxílio) o KDE Neon é imbatível.

Enfim. O que tem pra hoje é o KDE.

06 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
O que tem pra hoje?
06 de setembro de 2024
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Tem uma coisa que me incomoda um pouco que é ver o quanto a gente (aí estou falando sobre pessoas que estudam e trabalham com comunicação) se deixa levar por recursos retóricos que a gente conhece muito bem.

Parece que estamos passando recibo de tolos quando a gente vê discursos claramente fabricados para convencer as pessoas de alguma coisa (como comunicadores, a gente tem capacidade para enxergar quando um discurso é montado assim; afinal, a gente aprende a fazer isso e faz isso o tempo todo) e acaba convencido.

Me dá uma raiva quando percebo isso acontecendo…

O caso mais recente disso se refere ao que tem-se convencionado chamar de “Inteligência Artificial”. Temos visto este termo ser colado em tudo ultimamente com a desculpa de que isso será o nosso futuro inevitável e de que isso transformará tudo profundamente.

As duas colocações são bastante genéricas e não querem dizer especificamente nada objetivo. De propósito. Faz parte da retórica que está sendo construída para justificar a quantidade de dinheiro que tem sido investido nisso.

Eu fico chateado quando vejo pessoas falando que isso será uma espécie de futuro inevitável. A última vez que ouvi este tipo de discurso foi quando tentaram vender a ideia do metaverso do Zuckerberg e, como sabemos, passaram-se alguns anos e nada de o tal metaverso ter decolado.

Dá uma pena saber que teve gente que se matriculou em escolas convencido de que teria aulas imersivas com uso de realidade aumentada e viveria experiências de aprendizado inovadoras no metaverso.

Enfim, coletivamente fomos enganados e preferimos fingir que nada aconteceu porque, afinal de contas, ai de mim admitir que errei e acreditei em uma coisa que não era real, né?

Acho que a mesma coisa está acontecendo com isso que as pessoas tem chamado de inteligência artificial. Eu tenho uma resistência grande a esse termo porque li e vi coisas que me evidenciaram que estas ferramentas não representam inteligência. Nesse sentido, a primeira indicação que eu tenho pra hoje é a fala do Miguel Nicolelis sobre o assunto. Ele explica de um jeito fácil e claro de entender que a gente não deve chamar isso de inteligência artificial.

Isso não quer dizer que não exista utilidade para este tipo de coisa. Entendo que o aprendizado de máquina possa ser muito útil para realizar tarefas repetitivas que nós acabamos demorando muito para realizar. Os estudos e testes nesta área são promissores.

Mas achar que o ChatGPT vai substituir uma pessoa para escrever um texto é demais pra mim. Talvez porque eu esteja lendo muitos textos feitos com ChatGPT nos últimos semestres, graças a muitos alunos que enviam trabalhos que deveriam ser textos autorais mas acabam usando este tipo de ferramenta, eu acho que é muito fácil identificar este tipo de texto com uma estrutura muito fácil de perceber e uma forma que a gente detecta rápido. A profusão de listas e frases vazias / genéricas são algumas características deste tipo de texto. Fica chato ler textos assim e verdadeiramente não penso que este seja o nosso futuro. Tomara que não seja. Imagina a gente ter que ler textos que ninguém quis se dar o trabalho de escrever… Por que diabos eu deveria ler isso, então?

De igual maneira acho difícil comprar a ideia da geração de vídeo com estas ferramentas. O que tem sido mostrado, em geral, é coisa que não tem muita utilidade. Achar que isso será o futuro me deixa desanimado com o futuro.

Novamente reforço que não estou aqui para colocar água no chope de ninguém. As ferramentas de aprendizado estão evoluindo bastante e há muito potencial por exemplo no uso de trechos de áudio com a voz de alguém para treinar uma máquina que será capaz de reproduzir esta voz. Isso é maravilhoso e ao mesmo tempo assustador. Maravilhoso porque pode abrir uma série de possibilidades para a gente ter um novo tipo de dublagem, por exemplo, garantindo maior acessibilidade. Assustador porque abre portas para a criação de deep fakes que podem causar muito dano na sociedade.

Mas fato é que a gente, coletivamente, está se deixando levar por este discurso de que não há futuro sem IA sem ao menos saber de aplicações práticas concretas imediatas destas ferramentas. É isso que me decepciona. Em outros momentos eu reforçaria que o segredo do sucesso é saber segurar a onda. Por isso, é a falta de uma visão um pouco mais crítica sobre este cenário que se desenha.

Ah, e quando falo isso, não estou falando que devemos simplesmente fazer oposição a tudo pelo simples fato de construir a oposição. Não é nada disso. É a necessidade de nos afastarmos um pouco, olharmos este discurso tão facilmente identificável como vendedor de uma ideia que nem está ainda 100% construída e construirmos uma interpretação mais apropriada.

Nesse sentido, minhas recomendações finais são alguns episódios do podcast Better Offline em que o apresentador Ed Zitron discorre sobre os problemas relacionados a isso que tem-se convencionado chamar de inteligência artificial. Há também uma entrevista do CEO do Google falando sobre como eles pretendem seguir com a implementação das sugestões de texto construídas pelo Gemini nos resultados de busca, mesmo sabendo que estão repletas de erros. Outra leitura que eu recomendo é sobre como o uso de ferramentas como ChatGPT pode ser ruim para instituições educacionais; especialmente referindo-se às suas reputações. Por fim, uma recomendação de um texto comentado lá no Better Offline em que pesquisadores afirmam que o ChatGPT é pura bobagem.

Enfim, é isso que tem pra hoje.

05 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
O que tem pra hoje?
05 de setembro de 2024
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No final da manhã de hoje me pediram um documento importante de trabalho que eu não tinha em meu computador no momento. Sem problemas, pensei. Consigo recuperar este documento rapidamente no meu serviço de armazenamento na núvem.

Quando acessei o serviço, eis que a pasta onde o documento deveria estar não tinha nada. Foi aí que eu me perguntei: o que tem pra hoje?

Com mais de 25 anos trabalhando com comunicação digital tem algumas coisas que a gente aprende desde cedo. Uma das principais é que Back up, memória ram e livros, a gente nunca tem demais.

Só que tem uma pegadinha aqui. Muita gente acaba confiando em serviços como DropBox, Google Drive ou iCloud como a única solução de backup.

Na na ni na não, pessoal!
Se eu fosse confiar apenas em meu serviço de armazenamento na núvem para resolver a demanda desta manhã, estaria lascado.

Eu mantenho meus computadores sempre ligados ao meu serviço de armazenamento na núvem. Assim fica tudo sempre sincronizado e eu posso acessar todas as coisas que preciso rapidamente, estando em casa, no escritório, na rua ou no trabalho; com ou sem meu computador.

Só que, por algum descuido ou infortúnio, os conteúdos da pasta onde deveria estar um documento importante sumiram de todos estes lugares. Se eu fosse confiar apenas nesta solução para guardar meus documentos e ter acesso rápido a eles, estaria perdido.

Eu aprendi há uns anos que backup mesmo não é só ter uma cópia, mas sim ter mais de uma cópia. 🙂

Tem um lugar aqui no meu escritório em que mantenho uma caixa de HD’s externos. Nessa caixa também tem um monte de pen drives. Os conteúdos destes HDs e pen drives já me salvou inúmeras vezes.

Hoje eles me salvaram outra vez. O documento que eu precisava estava aqui. Tão logo eu o localizei, entreguei para quem me pediu e, claro, tratei de restabelecer a cópia remota também. Macaco velho não enfia a mão em cumbuca, certo?

Já pensou se entra um amigo do alheio em meu escritório e leva embora a minha preciosa caixa de HDs? Ou pior: vai que o meu escritório pega fogo ou é inundado numa enchente?

Confiar em apenas um lugar para manter as cópias de seus documentos não é o mais bacana. Na verdade, não é nada recomendado.

Em 2012, o furacão Sandy causou muito estrago em Nova Iorque. Muita inundação. Uma série de empresas confiavam suas soluções de armazenamento e até mesmo os servidores de seus sites em um datacenter chamado Datagram, que foi inundado durante a passagem do furacão e as chuvas subsequentes.

Imagina só se acontece uma coisa dessas com o seu serviço de núvem ou com o seu escritório? Por isso é mais do que importante e necessário que você não confie em apenas um desses lugares para ser o único repositório de suas cópias de segurança.

Então, pessoal, o que tem pra hoje é que eu estou alinhando meus backups locais com o que está em minha estação de trabalho e também com a núvem. Assim reforço a minha proteção e diminuo o risco de que alguma coisa me surpreenda no futuro. Pessoalmente, recomendo que você faça o mesmo.

Enquanto faço as minhas cópias de segurança, aproveito para escutar Elliott Smith. O disco que mais curto dele é o Either/Or, de 1997. Acho que se eu tivesse o vinil desse álbum, seria um exemplo de disco que eu teria escutado tanto que até teria desgastado o acetato. Este disco é também apreciado por Gus Van Saint, que pegou três músicas do álbum para colocar na trilha sonora de Gênio Indomável. Outro filmão que eu recomendo a você assistir. Este filme tem uma atuação primorosa do Robin Williams. Tanto Elliott quanto Williams já não estão mais entre a gente. De fato, uma enorme pena estes caras terem deixado o planeta tão cedo.

A dica final de hoje é o serviço prime da Amazon. Logo no começo da manhã fui ao supermercado e o pó de café estava na lista. Não comprei porque no supermercado que eu estava meio quilo de café estava custando 23 reais. Um absurdo. Ainda bem eu tive a presença de espírito de olhar no aplicativo da Amazon e ver que, no Prime, o mesmo café estava custando 19 reais. Obviamente comprei pelo app e agora vou criar o hábito de sempre dar uma olhada em itens de supermercado também no app da Amazon. Pode parecer loucura, mas acho que vai ser frequente encontrar itens de consumo da casa mais barato lá na Amazon do que eu encontro no supermercado perto da minha casa.

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04 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
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04 de setembro de 2024
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Todos os dias eu tenho a nítida impressão de que estou sendo feito de trouxa. Acho que não estou sozinho.

Hoje eu acordei com a notícia de que a minha assinatura do Mercado Livre (que dá acesso a Disney plus e garante frete grátis para compras acima de determinado valor) vai aumentar de preço.
Daí eu te pergunto: se eu já acordei com essa, o que tem pra hoje?

Essa história já está ficando batida. Começa com uma empresa oferecendo um produto em uma oferta bastante sedutora. Pode ser um preço bem baixo, uma comodidade que os concorrentes não estavam acostumados ou então alguma funcionalidade que acabe colocando o produto num patamar bem superior aos seus concorrentes.

Você se lembra quando Uber começou a operar no Brasil? Eu me lembro. Fui convidado a experimentar o serviço em um evento em fevereiro de 2015. Lembro que àquela época eu já havia lido sobre a empresa e sua atuação em diversas cidades dos Estados Unidos.

O carro que eu peguei em minha primeira era um sedã de último tipo, com bancos de couro e tudo o mais. Era um serviço de luxo sendo oferecido por um preço mais baixo que o de uma corrida de taxi aqui em BH.

Conversando com os motoristas tanto no trajeto de ida quanto na volta para casa, eles me falaram que estavam conseguindo lucrar bastante com aquele trabalho. Apenas elogios.

O tempo foi passando e a gente foi se acostumando a usar Uber como uma alternativa a Taxis em cada vez mais cidades. Mais motoristas começaram a participar e, com isso, o serviço foi se tornando cada vez mais parte de nossa rotina. Houve quem dissesse que um dia os taxis acabariam e só teríamos Uber na rua.

Hoje, a experiência de fazer um percurso usando Uber não é mais como em 2015. O padrão dos carros mudou, novos tipos de serviços foram adicionados e se eu quiser uma corrida em um sedã de úlktimo tipo, terei que pagar mais. O preço por cada corrida também mudou. Hoje usar Uber não significa mais que o seu trajeto será mais barato do que o trajeto de taxi. Pelo menos não tão mais barato como era.

Outra coisa que mudou radicalmente é o quanto o motorista vinculado a esta empresa ganha pelas corridas. Se lá em 2015 o motorista se gabava do quanto ele conseguia ter como rendimento trabalhando dessa forma, hoje a coisa é outra. Os motoristas precisam rodar muito mais por dia para poderem arcar com os custos envolvidos com a atividade. Rendimento, mesmo… muito pouco.

O que acontece com a minha conta (que muito provavelmente em breve cancelarei) no Meli+ e o que acontece com o motorista que trabalha com o Uber tem relação e se chama enshitification. O nome é bonitinho (porque é em inglês) mas a tradução é bem mais explicativa para nós brasileiros: merdificação.

Este conceito é bem interessante e vem sendo trabalhado por seu criador e ativista da internet Cory Doctorow. Empresas, depois de conseguirem uma participação de mercado que as coloque em situação confortável, reduzem a qualidade da sua oferta. Em outras palavras, depois que o produto passa a ser amplamente utilizado, ele acaba ficando pior. Mas perceba: o produto não fica pior porque tem mais gente usando. Ele fica pior porque a empresa decide piorar o produto para maximizar seus lucros.

O conceito não é exatamente novo. A abordagem com o universo da tecnologia é que é bem nova e a sacada do Cory Doctorow é excelente por causa disso.
Na economia este conceito se chama Dumping e explica a prática de uma empresa (normalmente uma grande empresa que está entrando em um mercado novo) de praticar preços mais baixos que os de custo de forma a assegurar um futuro monopólio. Quando este monopólio é assegurado, os custos em operar abaixo da linha da lucratividade num momento inicial são revertidos e quem paga a conta é o consumidor.

Enshitification tem muito a ver com Dumping porque também se relaciona com monopólio. Uma empresa, digamos… uma ferramenta de busca ou uma plataforma de compartilhamento de fotos, por exemplo, lançam seus produtos com qualidade superior à de seus concorrentes. Oferecem experiências bacanas para as pessoas que passam a usar estes novos serviços deixando os concorrentes de lado. Uma vez que muitas pessoas estão usando o produto, as empresas atraem parceiros (que podem ser anunciantes) para participarem do processo. A estes parceiros a oferta também é tentadora. Se para usar o serviço as pessoas não pagam nada e tem acesso a uma boa experiência como contrapartida, para os parceiros, os anúncios são baratos e eficientes. Um anunciante pode alcançar muitas pessoas com sua mensagem em uma plataforma boa desse jeito.

Daí, quando a plataforma (seja ela de busca ou um serviço de compartilhamento de imagens) ganha praticamente plena adoção de usuários e empresas, chega a hora de pagar a conta. A qualidade do serviço diminui, o preço do anúncio fica mais alto e a vantagem que antes usuários e parceiros enxergavam em usar a plataforma desaparece. Você pode ter um vislumbre daquilo que um dia foi se pagar uma alta monta de dinheiro para impulsionar postagens ou anunciar na plataforma, por exemplo.

Esses três passos são o que Cory Doctorow descreve como enshitification ou merdificação. O que eu expliquei aqui em poucas palavras é apresentado em detalhe e com muito mais autoridade pelo próprio Cory Doctorow em uma apresentação que ele fez na DefCon 31, que aconteceu no ano passado. Este vídeo com a fala do Cory Doctorow é a minha primeira recomendação de hoje. É uma fala muito importante para entendermos a merda em que estamos afundados.
Não tenho dúvidas de que a experiência com Uber, com o mecanismo de buscas e com a plataforma de compartilhamento de fotos que mencionei aqui se enquadram perfeitamente no conceito de merdificação. Estamos vivendo isso em vários sentidos, com relação a vários serviços que usamos em diferentes aspectos de nossas vidas.

O que tem pra hoje, então é que, enquanto não fizermos nada, estaremos afundados nessa merda. Não há eufemismos para isso. A gente precisa se lembrar que existem opções para todos estes serviços que a gente usa e que estamos notando que estão ficando piores.

Certamente existem diversas opções ao Uber, incluindo aquelas que não remuneram tão mal os motoristas. Elas podem ser menores, podem ser as cooperativas de taxi, pode ser uma empresa com um modelo de negócio novo que ainda nem decolou, mas ela existe e quando a gente puder, a gente deve usar a alternativa e incentivar seu crescimento na luta contra a empresa grande que quase virou um monopólio.

O mesmo vale para o mecanismo de busca e para a plataforma de compartilhamento de imagens. Há alternativas e podemos usa-las. Achar que a solução monopolística é a única viável não é uma boa. Em primeiro lugar porque ela não é a única solução viável. Em segundo lugar porque se abrirmos mão de usarmos as alternativas, jamais escaparemos das garras daqueles que estão tornando tudo pior pra gente e ainda, não daremos espaço para ninguém crescer. Nesse sentido há até um movimento de startups bem interessantes que, ao invés de se colocarem como futuros unicórnios, elas se colocam como zebras, porque a ideia delas não é a de crescer indefinidamente e se transformarem em gigantes. a ideia é a de apenas resolver problemas das pessoas e sobreviver com segurança. Sobre as zebras eu posso falar outro dia. Vamos começar a caminhar para o fim deste áudio que já está ficando muito longo…

Minha meta para fazer este encerramento é apresentar as duas próximas recomendações bem rapidamente, mas não menos importantemente.
Nesse sentido a segunda recomendação que faço é o livro do Cory Doctorow em que ele traça o plano sobre como vamos retomar o controle de nossas vidas digitais e sairmos dessa posição de reféns de poucas empresas. O livro se chama The internet con. É uma leitura relativamente rápida e repleta de detalhes e aspectos históricos que vão ajudar muito a gente a entender como os monopólios se desenvolveram. Por exemplo, foi lendo o texto do Cory Doctorow que eu descobri que o Yahoo Messenger e o MSN trabalhavam o padrão de mensagens XMPP, que era aberto e permitia a interoperabilidade. Isso foi bem bacana para integrar vários serviços. Até que as empresas decidiram fechar seus protocolos e isolarem seus serviços uns dos outros.

“Por qual motivo as empresas resolveram fechar seus serviços, Caio?” você pode me perguntar. A resposta é a minha última recomendação de hoje: a música Greed, do Fugazi. A música está no primeiro disco da banda, de 1990.

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03 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
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03 de setembro de 2024
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Sabe quando a gente entra no elevador e encontra alguém num contexto que há uma expectativa de interação? Se a gente não sabe o que falar, acaba fazendo qualquer observação sobre o clima e torce para que aquilo seja o suficiente para ocupar o tempo até que a viagem do elevador acabe. Né? O que tem pra hoje?

O que tem pra hoje é que está quente.
Só que nessa semana de setembro, na região sudeste do país, falar que está quente significa muitas coisas.
A gente está vivendo uma sequência de dias secos com temperaturas bastante altas que acabam vindo um pouco fora de hora, o que está causando uma série de problemas.

Mas não apenas isso. O clima está quente porque também estamos em período eleitoral e a disputa pelas prefeituras neste ano está pegando fogo. Falar, então, que o clima está pegando fogo pode ser algo bastante arriscado de se dizer num desses encontros de elevador.

Ainda assim, é o que tem pra hoje e eu vou falar disso porque precisamos conversar sobre a necessidade de sabermos navegar nesse mar de desinformação e cortes com falas descontextualizadas que estamos vendo o tempo todo e é isso que acaba embasando as decisões de muita gente na hora de escolher em quem votar.

É um assunto que dá quase tanto medo de falar quanto o calor e as mudanças climáticas. Só que precisamos falar de ambos.

Hoje, no entanto, o que tem pra hoje mesmo é o calor das discussões online e a fogueira da desinformação.

O contexto digital nos proporciona uma coisa muito legal que é o rompimento de um modelo unidirecional do fluxo de informações (principalmente notícias) que, na era da mídia de massa iam dos emissores (que existiam em pequena quantidade) em direção aos receptores (a massa). O digital transformou isso e agora temos múltiplos fluxos que vão em diferentes direções, uma vez que agora todos somos potenciais emissores e receptores ao mesmo tempo. Então os fluxos agora são de muitos para muitos. E são múltiplos fluxos. Uma confusão danada.

A gente foi vivenciando o desenvolvimento desse contexto tal qual um sapo em uma panela de água no fogão. A coisa começou a ferver e a gente não foi dando muita notícia. Agora a gente está a ponto de morrer cozido se não fizermos nada. Mas o que fazer? Eu vou dar aqui uma recomendação bem bacana de leitura que pode nos ajudar a enfrentar isso. O livro “Armas de destruição matemática” é um título muito importante escrito pela pesquisadora Cathy O’Neil. Infelizmente a tradução do título para o Brasil não ficou das melhores e o texto acaba se chamado “Algoritmos de destruição em massa“. Eu acho que esta tradução é inapropriada porque acaba por ajudar a distanciar a ideia do que são algoritmos das pessoas no geral. Mas enfim, né? Este texto da Cathy O’Neil é muito relevante porque ele trata de um aspecto bem importante referente à plataformização da comunicação que muito tem a ver com a disseminação de desinformação. A ideia de que as plataformas desempenham um papel muito importante no processo de disseminação de desinformação mesmo que este não seja a intenção inicial das plataformas. No entanto, a sua lógica de funcionamento acaba levando a este contexto.

Complementa a leitura deste texto o artigo “A relevância dos algoritmos“, do Tarleton Gillespie. Este texto também está traduzido para o português num trabalho muito legal dos professores Amanda Jurno e Carlos D’Andrea. Neste texto, Gillespie constrói uma descrição acertada de algoritmos que nos aproxima e facilita o entendimento do que Cathy O’Neil está falando. São informações que se complementam e que ajudam a gente a entender que os algoritmos são regras de trabalho das plataformas que servem a uma série de funções específicas isoladamente e, que, quando trabalhadas em conjunto, a gente tem máquinas de recomendação de conteúdo muito acertadas que acabam por estimular o espalhamento de conteúdos que não necessariamente se desdobrarão em ações coletivas muito felizes. Mas quanto a isso as plataformas não estão muito preocupadas; a função primordial de operar estes vários cálculos e regras é nos mostrar publicidade.

É angustiante, eu sei, mas saber como a coisa funciona é um primeiro passo para impedi-la de continuar funcionando. Nesse sentido a ideia é a gente tentar, individualmente, ser o ponto da rede onde uma informação errada para de circular. A gente precisa se educar novamente para aprendermos a consumir e circular conteúdos nas plataformas e fora delas. A gente precisa compreender que as máquinas de recomendação não se preocupam com a veracidade daquilo que estão recomendando, mas sim com a propensão das pessoas que verão aquelas postagens de ficarem mais tempo nas plataformas para verem publicidade.

Ou seja, para a gente, pessoas comuns, a disseminação de desinformação pode ter consequências catastróficas. Ainda mais em período eleitoral. Isso pode levar pessoas a votarem em gente que se dedica a enganá-las, colocando-se como a novidade e a anti-política ou o antissistema quando na verdade são justamente o contrário. Aqui, uma dica: a solução não está em se deixar levar pelo discurso antissistema ou antipolítica. A solução é justamente aprender e se informar para agir coletivamente e saber viver no contexto político.

O Instituto Palavra Aberta tem uma iniciativa bem legal nesse sentido que é o VAR – Verifique antes de Repassar. a ideia é super simples e é isso mesmo que você entendeu. Recebeu uma notícia? Qualquer notícia? Verifique se é real antes de repassar. Veja quem publicou e cheque quais são as credenciais desse veículo ou personalidade. Repasse apenas aquilo que tiver certeza que é verdade.

Nossa, muita coisa, né? Quase não está dando tempo de fazer outras recomendações. Mas eu não me sentiria bem se não as fizesse. Para dar uma relaxada e retomar as esperanças na humanidade, minha dica é voltarmos não 30 anos como ontem, mas sim 50 anos e irmos direto para 1974. Esse é o ano em que David Bowie lançou o disco Diamond Dogs, que tem a bela música Rebel Rebel. Este foi o ano em que o o Queen lançou seu segundo disco (Queen II) e que o Supertramp lançou o disco “Crime of the century” com a eterna música Dreamer. Mas o meu destaque para esta leva de recomendações é o quarto disco do Kraftwerk chamado Autobahn. Nossa, quanta coisa boa aconteceu em 1974, né? Meio século de excelentes canções.

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02 de setembro de 2024

O que tem pra hoje?
O que tem pra hoje?
02 de setembro de 2024
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Hoje é dia 2 de setembro de 2024. Eu sou o Caio e te pergunto: o que tem pra hoje?

Bem, por aqui, o que tem pra hoje é que estamos em 2024 e este é o ano em que vários discos muito legais estão celebrando 30 anos de lançamento. A minha recomendação inicial é um disco que comemorou seus 30 anos de lançamento no último dia 30 de agosto. Foi naquela data que o Bad Religion lançou um de seus mais importantes albums: Stranger than fiction. Este disco é primoroso e conta com, provavelmente a minha faixa favorita da história do Bad Religion: Infected. Este disco é muito bom e conta ainda com a 21st century digital boy, que é – talvez – uma das músicas mais marcantes da banda. Bem, o disco vendeu mais de 500.000 cópias nos Estados Unidos. Você pode ouvir este disco na íntegra aqui. Quem sabe você também não aproveita e compra o livro que conta a história da banda? Esse livro é cheio de curiosidades bacanas como, por exemplo, o fato de eles terem feito uma tournée com o L7 pelo interior dos Estados Unidos e tocarem para públicos de – em média – 50 pessoas na platéia. Já imaginou como não devem ter sido estes shows? Eu morro de inveja de quem teve a oportunidade de assistir.

E já que eu falei em música, vou emendar com uma sugestão: Você curte acessar o YouTube, presumo. Afinal, são mais de 2.50 bilhões de pessoas que acessam o site diariamente. Certamente você está nessa lista. Minha recomendação a você nesse sentido é assinar o YouTube Premium. O Google (empresa dona do YouTube) está fechando o cerco contra as pessoas que usam bloqueadores de anúncios. Assim sendo, a maneira mais interessante de acessar o site sem ser interrompido constantemente é pagando. A minha dica é o plano familiar, que custa R$ 41,90 e você pode colocar até seis pessoas na família para curtir o site sem ver nenhum anúncio. A relação que eu fiz com a música anteriormente se justifica agora: quando você assina o YouTube Premium, ganha de lambuja o YouTube Music, serviço de streaming de música. A barganha acaba sendo bem sedutora porque o preço por pessoa fica abaixo do que se paga pela assinatura mais barata do Spotify, por exemplo. No Spotify você vai pagar 34,90 por mês no plano família. No YouTube, você paga 41,90 para as mesmas seis pessoas usarem um serviço de streaming de música e o YouTube. Eu acho que vale a pena e por isso te recomendo. Se você tiver muito apego às suas playlists criadas no Spotify, não tema. Há uma ferramenta bacana e gratuita que te ajuda no processo de migração destas playlists do Spotify para o YouTube Music. Já usei para migrar playlistss do Deezer pro YouTube Music e posso dizer com segurança que funciona muito bem.

Para terminar a lista de recomendações de hoje, uma leitura bacana e bem curta: um texto provocador do Ruy Castro sobre o nosso futuro tendo em vista as relações que estamos desenvolvendo com as telas… No que isso vai dar? Este texto é simples e rápido, deixando uma provocação bem interessante para a reflexão sobre as coisas que acabamos fazendo ao mesmo tempo. Será que não seria o caso de pensarmos e atuarmos no sentido de que menos pode ser muito mais?

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