O desafio das plataformas, dos governos e das sociedades

O texto publicado no The Intercept Brasil do dia 31 de março reflete sobre o caso de o YouTube vetar o impulsionamento do vídeo do episódio nº 139 do podcast Tecnopolítica.

Tanto o texto quanto o vídeo são bastante interessantes e eu recomendo que você preste atenção no que está lá.

Assistindo o vídeo, fui me lembrando de pontos que já haviam sido indicados em texto publicado lá em 2019 que versa sobre as necessárias reflexões acerca das plataformas sociais e o que fazemos com elas. Embora o texto de 2019 aborde principalmente o Facebook, acredito que a reflexão possa ser tratada para entendermos o que ocorreu e foi relatado no vídeo/podcast do Tecnopolítica e no texto do The Intercept Brasil.

Adotamos as plataformas sociais como parte importante das dinâmicas dialógicas que ocorrem na internet. Fazemos uso destas plataformas como se fossem parte de estruturas sociais inerentes às forças dos interesses financeiros de corporações. Só que elas não são. As plataformas servem a interesses das empresas que as mantém.

Estamos tão acostumados a levar nossas vidas considerando que “todo mundo está no twitter / facebook / youtube” que a gente se esquece de que estes espaços não são espaços públicos. Como dito, são aplicações privadas que pertencem a instituições comerciais que as exploram esperando um benefício financeiro. Como tais, seguem normas e atuam de acordo com os interesses das empresas que as controlam.

Isso quer dizer que as plataformas e empresas são essencialmente malvadas e que devemos evita-las? Obviamente não. Se não fossem as plataformas e as mídias sociais, muitos dos benefícios e movimentações sociais que presenciamos nos últimos anos não teriam ganhado a dimensão que ganharam ou mesmo teriam ocorrido.

Um longo caminho a seguir.
Não devemos observar as plataformas como isentas ou neutras. O mito da neutralidade deve ser definitivamente derrubado (este texto do pessoal do CHT é bem interessante neste sentido). Precisamos vencer essa ideia / utopia de neutralidade (seja de veículos de imprensa, governos e, claro, corporações).

O passo seguinte será vencer a ideia de que “já que não são neutras, estas entidades são malvadas”. Também não é bem assim. O importante é que nós – como sociedade – consigamos enxergar estas entidades como o que elas realmente são: a materialização ou operacionalização em ações de interesses de grupos de pessoas.

Nesse sentido, é de se esperar que governos, em tese, venham a representar interesses mais amplos, que visem o bem de todos aqueles que são representados por eles. Interesses específicos, vinculados aos ganhos financeiros são o que move as ações das empresas. Sabendo que são empresas que criam e mantém plataformas de mídia social, isso fica mais simples. De igual maneira, são empresas que detém o controle e pautam as ações de empresas de comunicação e mídia.

Concluindo?
Estão todos defendendo interesses. Como cidadãos podemos interferir no processo escolhendo bem os nossos representantes legislativos e executivos que vão trabalhar para defender nossos (sociedade) interesses, criando as regras e trabalhando para garantir a execução e o cumprimento destas regras.

Isso leva ao fato de que cabe aos legisladores criarem os regramentos que pautarão e regularão as ações das empresas e os governos atuarem no sentido de garantir que sejam cumpridas. No sentido específico do que venho tratando aqui, a regulação vale para empresas de mídia e comunicação e, claro, para as plataformas sociais. A regulamentação não significa e nem implica em censura ou mesmo cerceamento de liberdades. Entendo que devem ser mecanismos que garantam um funcionamento mais claro das atividades nas quais estas instituições estão envolvidas.

Se a gente escolher bem os legisladores e os nossos representantes no executivo, teremos (sociedade) mais chances de um futuro mais bacana neste aspecto.

No outro ponto estão as empresas e entidades comerciais que, no momento que o conjunto de regramentos estiver estabelecido e em operação, devem adequar sua operação e desenvolver políticas internas de trato das questões que proporcionem impactos para as sociedades em que atuam.

Se não existirem os conjuntos de normas e regras que instituam as fronteiras das ações das instituições comerciais, estas criarão as suas próprias regras, ocasionando em desdobramentos que não necessariamente agradarão ou mesmo atenderão os interesses das sociedades. As entidades comerciais, por sua vez, precisam atuar de forma a conciliar os seus interesses com aqueles das comunidades que atendem.

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